FIM DE TARDE
Felipe Lemos (*)
Depois do jeito caricato de Gil Gomes e do escritório advocatício ambulante que era Celso Russomano, ambos do falecido Aqui Agora, os programas de jornalismo policial opinativo (talvez seja esse um dos rótulos) proliferaram e já contaminaram a televisão brasileira. O momento é de Brasil Urgente, o velho e sempre recorrente Cidade Alerta, além de outros títulos espalhados pelos canais da televisão aberta brasileira. Todos os que mais vemos têm embalagens semelhantes, faltando-lhes um ingrediente importante: informação útil.
Parece incrível, mas por pouco deixam de ser programas jornalísticos. Primam pela boa e surrada dramaticidade das matérias (para não falar sensacionalismo), aliadas a comentaristas ácidos e falastrões. São capazes de opinar sobre tudo o que acontece. Desde a forma como o acusado é interrogado na delegacia até a respeito da remoção de um acidentado. O importante é que dêem opiniões de impacto, surpreendentes e que atraiam o público ávido por palavras fortes nos fins de tarde.
Programação gritada
Ainda vemos repórteres correndo com um cinegrafista atrás das viaturas da polícia. Ainda falam ofegantes, repetem a todo instante as mesmas informações e dizem ao telespectador o óbvio (o que ele está vendo). Hoje estão de helicópteros que fazem concorrência para ver quem cobre a maior área ou chega mais rápido ao local de um acidente ou perseguição. É águia para cá, força aérea para lá…
Só que falta informação útil, aquela que realmente interessa ao público. Às vezes, na ânsia de prender a atenção, o âncora chama três repórteres ao vivo, ao mesmo tempo, dando uma idéia de muitos acontecimentos simultâneos. O problema é compreender cada uma das matérias separadamente. Vira uma salada de frutas que os telespectadores digerem com dificuldade.
É claro que praticamente tudo acontece em São Paulo e arredores. O universo de ação das ágeis e sempre presentes equipes destes programas não passa de São Paulo. O Brasil violento apresentado se resume à terra dos paulistas, como se o restante fosse dispensável ou livre de criminalidade. Que bom seria. A erradicação plena do crime ficaria bem mais fácil!
Vamos continuar desligando o botão da TV ou então assimilando mais um pouco desta programação gritada, nervosa e infelizmente deficiente em termos de informação jornalística suficiente para atender à demanda. Quem sabe inventam um formato novo…
(*) Estudante de Jornalismo em Florianópolis