Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Internautas curiosos, preparem o fôlego!!!

Tânia Cotrim

 

C

om pouco mais de dois meses de aulas e palestras, nós, alunos do Curso de Especialização em Jornalismo Científico, estamos “esquentando as turbinas” para, com o apoio de professores, do Ofjor e do Labjor, tornar realidade alguns projetos importantes e pioneiros na área.

Desta nova e amistosa parceria entre colegas jornalistas e cientistas, ambos divulgadores científicos comprometidos com a aprendizagem de uma nova abordagem (e, por que não dizer, linguagem, mesmo!) para a popularização da ciência, surge uma visão totalmente revigorada de como dinamizar a informação científica, tornando-a ao mesmo tempo um veículo simples de entendimento para o leitor comum e instigante do ponto de vista do “quero mais… quero saber mais…” Este é um dos nossos grandes desafios.

Como participantes dinâmicos deste laboratório vivo de pesquisa e divulgação do conhecimento científico, e por isso mesmo “fuçadores” de informação por natureza, fomos abençoados neste primeiro semestre do curso com a disciplina do professor Renato Sabattini ? “Fontes de Informação em Ciência e Tecnologia”?, cujo objetivo é nos ensinar a coordenar e selecionar as várias fontes de informação em Ciência e Tecnologia para que, ao procurarmos as mais recentes pesquisas realizadas com camundongos, não nos abram na tela uma grande imagem em cores do Ratinho… o da TV…

Pensamos: fazer pesquisa bibliográfica em tempos de Internet? Ah!, isso é pura moleza. Difícil mesmo era passar dias inteiros encarcerados numa biblioteca, folheando livros e periódicos, consultando índices e mais índices, como os históricos “ratos de biblioteca”, sem noção de tempo, clima, hora… Com a Internet é só sentar numa cadeira confortável, ligar o computador e… maravilha! … rapidamente lá está a informação que tanto precisamos. Certo? E-r-r-a-d-o! Sem metodologia de busca, sem otimização dos recursos infinitos disponíveis nesse mundo virtual global, você vai levar, sim, muito tempo para encontrar a informação que procura, além de perder tempo com um grande número de porcarias que rolam nesse planeta on line.

Assim, com a finalidade de envolver os participantes do curso na necessidade inquestionável da prática de uma busca direcionada de informações científicas na Internet, foi sugerida pelo professor Sabattini a organização de grupos de alunos, responsáveis, cada qual numa determinada área de estudo, pela navegação e exposição (em classe) das fontes e endereços eletrônicos possíveis de serem acessados (nacionais e internacionais), assim como sites e links interessantes em cada área escolhida, tais como Agronomia, Engenharia de Alimentos, Ciências da Saúde e outras.

Ao final de cada apresentação são discutidos em classe os critérios de seleção das fontes de informação e os meios utilizados para a obtenção de novas fontes, contribuindo para a otimização de ferramentas de busca já existentes ou a descoberta de novas.

Estamos organizando todas essas informações com os grupos expositores para divulgar as fontes disponíveis classificadas por área, com comentários pertinentes sobre cada uma delas. Por exemplo, se são de consulta livre (sem qualquer ônus) ou pagas (valem ou não a pena?), se precisam de um cadastro prévio do usuário, quais os periódicos ou instituições que reúnem, quais os links que oferecem e muitos, muitos outros dados de interesse geral.

Aguardem. Estamos só começando!

 

Telma Domingues da Silva

 

No Curso de Especialização em Jornalismo Científico da Universidade de Campinas, às palestras de Alberto Dines, planejadas para o início da disciplina “Teoria e Prática do Jornalismo”, seguiram-se as aulas do professor Victor Gentilli, da Universidade Federal do Espírito Santo.

Dines, em suas palestras, falou do jornalismo e de sua prática, que ele compreende como uma atividade humanista. Suas reflexões sobre o tema podem ser encontradas nas seguintes publicações, que resultaram de seminários promovidos pelo Labjor: A imprensa em questão, pela Editora da Unicamp, organizado por Alberto Dines, Carlos Vogt e José Marques de Melo, e Jornalismo brasileiro: no caminho das transformações, com apoio do Banco do Brasil.

Sobre a imprensa escrita no Brasil atual, Dines critica, por exemplo, a segmentação do jornal em cadernos e seções. A segmentação ? que teria por objetivo “facilitar” o contato com o jornal ? leva o leitor a se relacionar apenas com uma parte do jornal, descartando por vezes a leitura do todo, em que teria acesso a uma variedade maior de notícias e informações.

A segmentação também contribui para que o jornal possa estar “pronto” com antecedência, o que ocorre especialmente no que diz respeito às edições de domingo. E os cadernos e seções, como espaços do jornal antecipadamente marcados, criam uma obrigatoriedade que muitas vezes distorce o noticiário.

Em sua rotina de trabalho, o jornalista vai então ter de lançar mão de artifícios como o da “produção” de notícias e/ou o da utilização das ditas “matérias frias”. No conjunto do jornal, o leitor por sua vez irá se deparar com uma notícia duvidosa, freqüentemente com chamada sensacionalista.

A Ciência, como seção do jornal diário, sofre com essas distorções. Com Dines, na última palestra, avaliou-se a estruturação atual dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. O JB e a Folha mantêm seções diárias de Ciência.

Chamou atenção, por exemplo, o JB de terça-feira, 23/3/99 ? “Queimadura exige cuidados” ? e a edição de 24/3/99 ? “Moratória da Amazônia ganha fôlego”. A primeira, sobre o tratamento das queimaduras, é uma matéria fria, não tem atualidade e pode ser utilizada a qualquer momento; e a segunda, sobre o desmatamento na Amazônia, era uma matéria que poderia ser mais bem aproveitada em outra seção, ficando perdida em “Ciência”.

Já na Folha de 23/3/99, encontram-se os títulos “Auto-exame da mama excessivo é prejudicial” e “Evolução faz o cérebro masculino ser maior”, ambos com caráter sensacionalista. Na primeira matéria, faz-se uma associação que a pesquisa referida certamente não fez. A pesquisa reconhece a incidência maior de câncer em mulheres que fazem o auto-exame de mama em excesso ? o que indica ansiedade. Mas não é o excesso do auto-exame que causa a doença, ou que contribui para sua ocorrência.

Na outra matéria, “Evolução faz o cérebro masculino ser maior”, pela construção do título o redator faz supor a existência de alguma “nova pesquisa” (de importância talvez duvidosa na discussão científica) para atualizar o “velho tema” sobre o caráter não-biológico das diferenças entre o cérebro da mulher e o do homem ? um prato cheio para o preconceito. Se, em relação à própria pesquisa, é possível até ficar sem saber se ela age ou não de modo a desmistificar essa questão, no caso da notícia sobre a pesquisa não há dúvida. Vale, nesse sentido, a leitura da matéria “Reflexos distorcidos ou espelho de preconceitos?”, de autoria da Comissão de Cidadania e Reprodução [ver remissão abaixo].

Embora a imprensa invista nessa segmentação, faltam investimentos na melhor preparação dos seus profissionais. As empresas jornalísticas podem até destinar uma boa verba à remuneração de profissionais reconhecidos. Mas infelizmente não costumam destinar recursos a iniciantes, eximindo-se de investir na sua formação.

Ainda com relação ao sensacionalismo no tratamento dado à Ciência pela grande imprensa, convém lembrar as capas das revistas semanais de informação que, com grande freqüência, voltam-se para alguns temas “científicos” ? as aspas aqui são para não assumir simplesmente uma atitude de negação e chamá-los de “pseudo-científicos”. A revista Veja (24/3/99) com “Depressão: a luta contra a doença da alma”; IstoÉ (24/3/99) com “Chega de dor ? conheça as armas para acabar com o sofrimento do corpo”, e Época (22/3/99) com “Vidas passadas” são bons exemplos.

A matéria de Época sobre Terapia de Vidas Passadas (TVP) traz a polêmica que envolve os limites da psicologia em relação ao religioso. Na matéria da Veja sobre a depressão, o subtexto novamente traz a tal da associação “de gênero”: “ela (a depressão) ataca mais mulheres do que homens”. Mas as três matérias citadas apontam também para um mesmo viés dado ao “científico” pela grande imprensa, que é o de fazer alarde sobre tratamentos miraculosos de doenças, sejam do corpo ou da alma ? em uma dicotomia que mantém sentido religioso ?, fazendo gancho com o desejo humano de uma cura rápida ou, quem sabe, um milagre.

 

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