Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Irineu Guimarães

ARMAZÉM / ASPAS

"O futuro do jornalismo impresso", copyright Jornal do Brasil, caderno Idéias, 25/1/03


Deu no jornal: jornalismo impresso na era da internet, Álvaro Caldas (org.), 208 pp., Editora PUC-Rio / Edições Loyola, Rio de Janeiro, 2002; R$ 20


"Sob o título Deu no jornal: jornalismo impresso na era da internet ? a Editora da PUC-Rio acaba de publicar um trabalho sobre o jornalismo impresso e a revolução que o computador provocou, e vai continuar provocando, na produção da informação. Trata-se de uma coletânea de textos em que 10 expoentes da imprensa brasileira apontam suas reflexões sobre o tema.

O trabalho, coordenado pelo jornalista Álvaro Caldas, discute a questão de como o jornal do futuro chegará aos leitores neste cenário de grandes transformações e de predomínio da mídia eletrônica. E propõe algumas diretivas para a preservação dos valores permanentes do jornalismo impresso: originalidade, texto interpretativo e analítico, situando o fato dentro de um contexto mais amplo, com pesquisa e opinião.

O autor abre sua reflexão com uma sessão nostalgia. Relembra o ambiente ?romântico? das antigas redações pré-informática, com sua atmosfera superpoluída pela fumaça de cigarro, papel sujo no chão, etc. Cada fechamento era uma comemoração. Isto não existe mais. Acabou-se para sempre. Os jornalistas Israel Tabak e Ernesto Rodrigues analisam, nas páginas seguintes, algumas das conseqüências imediatas desta ?revolução? sobre o comportamento da reportagem e da própria estrutura da redação. O advento do computador acabou eliminando sumariamente um número considerável de empregos nas empresas jornalísticas.

Nas redações à moda antiga havia uma espécie de liturgia em que a diagramação desempenhava um papel, além de vistoso, absolutamente essencial. Coisa do passado. Aos poucos, um único diagramador passou a servir a vários editores. Numa segunda etapa, o próprio editor foi se tornando diagramador e tudo indica que se exija do repórter que ele seja também seu próprio revisor e que passe a editar suas próprias matérias. É evidente que os leitores mais atentos observam os resultados, nem sempre apreciáveis, de todas alterações: falhas irritantes de digitação, erros abomináveis de português ? erros, mesmo, de concordância, de gramática, de regência etc. Mas é preciso repetir: não adiantam lamentos. Tudo isto é absolutamente irreversível.

Ana Arruda Callado apresenta um excelente resumo do que existe de melhor e de mais atual sobre ?O texto em veículos impressos?. O trabalho de Ernesto Rodrigues, intitulado ?Em cada editoria um desafio diferente?, mostra o comportamento dos profissionais nas diferentes editorias. É um capítulo que pode despertar curiosidade, mesmo entre aqueles que não são do ramo, porque apresenta alguns aspectos da chamada ?cozinha? do jornal, pouco conhecidos do grande público. O trabalho de Arthur Dapieve sobre ?Jornalismo Cultural? representa uma incursão realmente instrutiva na bela história do Caderno B do Jornal do Brasil ? história que mais tarde iria se repetir em todos os grandes jornais do país. A partir de uma determinada altura, todos os jornais teriam o seu B, que, na maioria das vezes, assumia ares de pequeno semanário.

Cláudio Henrique faz um nostálgico passeio pelos primórdios da Time, e de O Cruzeiro e Manchete, entre outros títulos. O jornalista faz uma análise minuciosa daquilo que constitui a característica das publicações semanais e de suas exigências específicas. Ivan Yazbeck mostra como a introdução da cor provocou uma série de profundas alterações gráficas no jornalismo brasileiro e conduz sua análise até a adoção das técnicas infográficas.

O livro contém ainda um estudo de Clarice Abdalla, professora de radiojornalismo na PUC-Rio, sobre a atividade do jornalista como assessor de imprensa. Como não podia deixar de ser, o livro aborda, ainda, a questão dos ?Desafios da Ética? ? estudo confiado a Miguel Pereira e Fernando Ferreira.

Mas é no estudo O lide do próximo milênio, do jornalista Fernando Villela, que o livro trata especificamente do ?Jornalismo na era da internet?. O trabalho vai fundo. Ele lembra que a definição clássica, repetida por ai quase automaticamente, é a de que a Internet é uma rede mundial de computadores. Trata-se, segundo ele, de uma definição própria de engenheiros para engenheiros, incompleta e castradora.

Depois de constatar que a Internet é, de fato, ?uma grande experiência viva de inteligência coletiva?, o jornalista encerra sua reflexão sugerindo a presença de um homem digital nesse universo em que a informação terá assumido um máximo de densidade em um máximo de velocidade. [Jornalista, ex-correspondente do Le Monde no Brasil]"