Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ivan Angelo

LADY GODIVA

"Quem deixaria de ver Lady Godiva na TV?", copyright Jornal da Tarde, 23/08/01

"Qual é a relação entre Lady Godiva e a tevê? Bem, em certo momento do distante ano de 1040, no condado de Coventry, na Inglaterra, ela representou o que equivaleria hoje ao mais sensacional programa de mulher pelada da televisão, programa único, sem bis ou replay. Godiva, uma dama respeitável, aceitou o desafio de cavalgar completamente nua pelas ruas da cidade. Isso equivaleria, digamos, a Ana Paula Arósio desfilar nuazinha pela avenida Paulista.

Era uma bela mulher, benfeitora da cidade, esposa do conde de Mercia e senhor de Coventry. Ele havia aumentado os impostos e Godiva, atendendo aos apelos da população, intercedeu, pedindo ao conde que suspendesse a taxação. Ele, não querendo voltar atrás, fez-lhe uma proposta absurda: só suspenderia se ela atravessasse a cidade pelada num cavalo. E ela, atrevida: pois muito bem, aceito.

A notícia espalhou-se pela cidade, junto com o pedido dela de que ninguém assistisse à sua passagem. No dia do grande evento, a população inteira ficou dentro de casa e fechou as portas e janelas. Só um homem, o alfaiate Tom, entreabriu a janela e espreitou. Diz a lenda que ?Peeping Tom? ficou cego em conseqüência. O conde cumpriu a palavra.

E agora nós. Por que é tão difícil convencer o público a não assistir a programas de baixaria na tevê, que no fundo funcionam contra ele, tanto quanto os impostos da distante Coventry? Uma parcela importante do público da tevê é como o alfaiate Tom: prefere olhar e se prejudicar. No caso atual é um prejuízo social e cultural. Quantos desligariam a tevê se houvesse uma situação paralela envolvendo uma Lady Godiva moderna? Quem, para baixar os impostos, deixaria de ver a bela dama nua na tevê? Desligar a tevê ou mudar de canal é menos um ato de vontade do que de força de vontade. E, para isso, o público precisa ser treinado, educado, politizado. Só assim poderá deixar de ser um ?Peeping Tom? manobrado pelas emissoras de tevê.

Contra – Trabalha contra o livro do professor Pasquale Cipro Neto a propaganda que está sendo veiculada na televisão. Ouvi de passagem nesta quinta-feira à tarde, na Rede Globo. A certa altura, o locutor fala em ?gratuíto?, com acento forte no ?í?, erradamente.

?Anita? – Já vai um órgão do governo criar caso com a minissérie Presença de Anita, porque os dois personagens centrais são viciados. Em cigarro, uma droga cancerígena permitida. Manoel Carlos adora esses casos criados, ?polêmicos?. Em Laços de Família, foram os bebês e menores participando de gravações sem alvará, que é uma exigência legal, inclusive em cena de conflito familiar, o que motivou uma proibição do Juizado de Menores, logo alardeada como ?censura?. O fumacê de agora de fato irrita quem não fuma, mas não é ilegal. Se os autores acham que é um recurso artístico válido e estão dispostos a irritar parte do seu público ao usá-lo, têm o direito de fazê-lo. Esteticamente, entretanto, esse recurso para marcar psicologicamente os personagens é coisa do passado, já está muito batido. E Anita não está caracterizado como um drama de época. Se surgir um atrito real por causa do cigarro, pode-se imaginar a piada: ?O Ministério da Saúde adverte: esse programa é prejudicial à saúde.?"

 

MTV GLOBAL

"Canal jovem da Globo terá site, revista e jornal", copyright Folha de S. Paulo, 23/08/01

"Engavetado desde 1997, o canal jovem da Globo começa a ser ?desenhado?. Uma equipe da Globosat (programadora de canais pagos) trabalha desde julho no projeto. O apresentador Luciano Huck faz parte da equipe.

Alguns conceitos já foram definidos. Segundo Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat, o canal será ?cross media?. Ou seja: fará um cruzamento de mídias. Deverá ter um portal dirigido ao público jovem, colunas em jornais e rádio e, provavelmente, uma revista. Isso não chega a ser novidade. A MTV, por exemplo, já tem uma revista.

Segundo Pecegueiro, o canal será ?generalista?, não apenas musical, como a MTV.

A Globo pretende distribuir o canal em operadoras de TV paga e também em emissoras abertas. A rede possui em São Paulo e no Rio canais tipo ?S?, que permitem oito horas diárias de programação aberta. Também negocia com pequenos canais abertos, como o CBI. Ainda não há data para lançamento do canal.

A MTV também estuda lançar um canal jovem usando concessões tipo ?S?, com programação da VH1 ou Nickelodeon."

 

MARCOS MION

"Te cuida, papito", copyright Folha de S. Paulo, 26/08/01

"Grande Marquinhos Mion, negó seguin:

Te cuida, cara. Periga ficar over demais da conta. As três horas que você ficou exposto à visitação pública no Video Music Brasil da MTV foram dignas da Hebe. E olha que ela ainda senta no sofá, no banquinho, para descansar a beleza e a goela. Você, não. Em pé o tempo todo e aos berros, excessivo, um tremendo vendedor de pamonha daqueles que não dá para ficar indiferente fingindo que o cara não tá passando na rua. Não que você tenha se saído mal. Nada disso. Teve ótimas palhaçadas, como aquela de aparecer pelado simulando ter sido interrompido em meio a uma tremenda suruba dos bastidores. Mas tinha tudo para ser um dos maiores fiascos de todos os tempos, daqueles em que o cara no dia seguinte tem que se esconder numa pousadinha de Conservatória e dar um tempo até que o país se esqueça do papelão.

O Video Music Brasil, uma festa estranhíssima que não teve vídeo, não teve music e de Brasil só o periférico, como disse o moleque do Xis, o VMB foi na semana passada e eu só estou te passando essas maltraçadas agora porque tenho percebido o problema nos Piores Clipes de segunda-feira também. A impressão é que os caras aí da MTV, diante de algum problema, estão dizendo: deixa que o Mion resolve. O VMB sem Paralamas, Titãs, Skank, Capital, Ira, ficou uma terra de ninguém e aí mandaram que você resolvesse a parada. Você é bom, mas não é dois. Esses caras do rap que dominaram a premiação desse ano têm aquela cara zangadita, que rende um editorial de moda legal da Ellus, dá um charme sujo bem oportuno para a MTV se defender das acusações de patricinha, mas por favor, cara: são chatos demais. O que é esse Chorão do Charlie Brown Jr, que levou a maioria dos prêmios? Pois então, te cuida. O pop está sem ídolos e estão te escalando para esse tapa-buraco enquanto a produção procura um novo Maurício Manieri, um cara desses, para ir tocando o bonde.

Veja o caso dos Piores Clipes, onde você apareceu curtindo com a cara do mau gosto, despertando um olho crítico que a garotada não tinha. Pois então: o programa está perdendo a essência da coisa, ou seja, esculhambar com os clipes. Tem pouco clipe e muito blablabla teu. Em geral, mandas bem. Numa televisão em que o babaovo é rei, você não livra a cara de ninguém. O sarro na Sandy durante o VMB foi ótimo, lembra? Você mandou ela se levantar na platéia e ficar em close para segurar a audiência. A garota toda animada, coitada, fazendo caras e bocas, quando de repente você corta a onda dela. ?Pode parar, Sandy, a produção diz que a audiência está caindo. Imagem desgastada.? A televisão mostrou o tremendo mal estar na cara dos familiares dela que estavam sentados ao lado. Foi jóia.

No momento em que o João Gordo está fazendo psicanálise e parece meio enrolado em digerir grana, idade, saúde e rebeldia, você é o único que mantém o da poltrona em tensão, pupila arreganhada naquela expectativa que é o grande aplauso silencioso para o artista: o que que esse doido vai aprontar dessa vez? Você é assim. Imprevisível. Pau de dá em doido. Mas, do jeito que está, falando uma hora seguida nos Piores Clipes, posando para anúncio de curso de inglês e exposto três horas no VMB, não há repertório de surpresas que agüente. Deixa, por exemplo, o Supla em paz. Foi genial a série de encarnações, mas o papito também não se saiu mal. Aceitou ser pele e acabou transformando o Japa Girl em hit. Minha filha sabe a letra toda da green hair. Descobre outro pra pato. Encarnaste na Marluce, da Globo, dizendo que ia botar o clipe do Roberto Carlos no ar. É por aí.

Andaram dizendo que você é mala. Fica frio. Não é. Em alguns momentos do VMB pode até ter dado essa impressão. Foi tudo meio sem charme, com exceção da Fernanda Lima e da Tathy (que roupas são aquelas, mermão?, coisa de louco, meu!), e você no desespero, correndo de um lado para o outro tentando segurar a audiência no susto – em algum momento, já era quase madrugada, deu vontade em quem estava em casa que se fizesse ou silêncio ou música no palco. Mas música, pelo visto, não há mais. E silêncio, cá entre nós, não é contigo mesmo.

Enfim, pensa um pouco. Seja mais humilde e bota a produção para caprichar mais na seleção dos Piores Clipes. Você é bom, mas a idéia do programa é ótima, divide os louros, quer dizer, as louras (com todo respeito à tua patroa-cantora). Outra coisa: deixa um pouco de lado a vaidade e pára de marombar, cara. Tá ficando meio ridículo acompanhar o muque crescendo toda semana. Parece que está disputando com os gêmeos da Band. Sai dessa, deixa isso pro papito, sei lá, pro Maçaranduba. Eu sei que grana é a grande droga, e os traficantes, da Globo, das agências de publicidade, também devem estar te oferecendo tudo do bom e isso mexe com a disposição de sair atirando. Mas, não pisca, mano. Não se esquece do que fizeram com o Thunder na Globo. Olha o mico do Cazé. Tem mais granal lá na frente, de preferência aí mesmo na MTV. De um modo geral, a casa aí é muito simpática, tá cheia de garotas lindas mas o sorriso anda careta. Você dá o mix, pra usar uma expressão da turma.

É isso aí, Mion. Você é coisa mais divertida que apareceu nos últimos tempos na TV, uma espécie (a tua vaidade não vai gostar da comparação, mas dá os descontos) de Faustão antes dos vinhos finos e do Antiquarius. Se continuar desse jeito vai acabar como ele, não no sentido gordão da coisa, mas no sentido salamaleque de se debruçar diante de qualquer um que venda mais de 50 mil discos ou estoure em Malhação. Desculpe o texto às pressas, mal ajambrado, mas eu sei que você vai compreender. Numa carta a gente não precisa seguir aquelas concordâncias idiossincráticas e as tais vírgulas certinhas que o pessoal do no. tanto gosta e exige.

Te cuida, papito, e fica atenciosamente na paz."

 

EVÊ SOBRAL

"TV Folha", copyright Folha de S. Paulo, 23/08/01

"?Em nota irônica e ofensiva, publicada no TV Folha de 19/8 (pág. 6) -que tinha como chamada a palavra ?Cara-de-pau? e como título ?Sobral divulga curso com atração extinta?-, há vários equívocos e ofensas ao sr. Evê Sobral. ?Cara-de-pau?, segundo o dicionário Aurélio, é uma pessoa descarada, cínica, sem-vergonha. O adjetivo não pode ser aplicado ao sr. Evê Sobral, já que o próprio jornalista afirma não conhecê-lo. O repórter simplesmente ignorou as informações sobre Evê Sobral fornecidas no mesmo texto de divulgação ao qual se refere na nota. Evê Sobral é, sim, ator profissional, jornalista e apresentador, credenciado para exercer as referidas profissões. Escreveu, dirigiu e atuou no espetáculo ?Francisco & Clara – O musical?, que ficou sete anos em cartaz. Fundou e dirige há seis anos o Centro Cultural Santa Catarina -na avenida Paulista, em São Paulo, dentro do hospital Santa Catarina-, do qual é diretor de comunicação. O Centro Cultural Santa Catarina promove espetáculos teatrais e musicais, shows, concertos, exposições e cursos de interpretação, de produção e de direção para teatro e TV. Em seis anos, Evê Sobral já ministrou o curso de teatro para 1.800 pessoas. O jornalista estava mal informado ao afirmar que Evê Sobral é o ?mais novo professor de interpretação?. Em relação ao título da nota, em nenhum momento do texto divulgado à imprensa vinculamos o curso ao programa ?Viva o Show?, que não foi extinto. Continua sendo exibido na TV Milenium, da TVA, e faz parte -com clipes, propagandas e um seriado de TV- dos trabalhos realizados pela Ases Produções, empresa dirigida por Evê Sobral. Em nenhum momento o repórter fundamentou ou apresentou provas das informações que redigiu levianamente.? (Maura Hayas, PressTexto Comunicação, São Paulo, SP)

Resposta de Luiz Caversan, editor do TV Folha – A nota em questão foi feita com base em e-mail recebido pelo TV Folha da Press Texto, que afirma, por duas vezes, que Evê Sobral é o atual apresentador de ?Viva o Show?, da TV Gazeta. O programa não é transmitido pela emissora desde 24 de junho"

    
    
                     

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