Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ivson Alves

ELEIÇÕES 2002

"Raposas no galinheiro", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 25/03/02

"No discurso realizado no meio da semana passada pelo ex-presidente José Sarney, a única menção que doeu mesmo em Fernando Henrique Cardoso foi o pedido para observadores internacionais viessem acompanhar as eleições de outubro. Afinal, só paisecos, repúblicas bananeiras latino-americanas ou famélicas nações africanas, é que precisam ter suas eleições vigiadas para que não haja fraudes. A resposta de FHC ao repto sarneyzista, porém, deixou a desejar. ?Não precisamos de observadores. A mídia vigia as eleições no Brasil?, disse o atual presidente. Com a devida vênia do supremo mandatário da Nação, dizer que uma eleição no Brasil está bem vigiada por ser acompanhada pela mídia é quase uma piada de mau gosto que acaba dando razão ao papai da Roseana. E FHC sabe muito bem disso.

Em matéria publicada pela Veja em 7 de outubro de 1998 (menos de uma semana após a eleição que levou o atual presidente ao seu segundo mandato), Expedito Filho conta como, em maio daquele ano, FHC reuniu os barões da imprensa – incluindo os supremos do Império – para avisar que se eles continuassem a mostrar o fracasso do governo dele (seca, Real indo pelo ralo, privatizações mal explicadas) desistiria de um segundo mandato e eles que se virassem para impedir que Lula fosse eleito. Ato contínuo, a seca sumiu do noticiário da Rede Globo e as agruras do Real só voltaram a ser notícia nos jornais quando ele foi pelos ares no início de 99

A matéria de Veja mostra perfeitamente porque não dá pra confiar nas empresas de comunicação brasileiras como fiscal nem de eleição de condomínio. Primeiro, porque se submetem à chantagem de um governante, o que não condiz de modo algum com a independência editorial que jornais, rádios, TVs e revistas vivem alardeando. E, em segundo lugar, porque denuncia uma conspiração da importância desta só depois que ela ocorre, botando tranca em porta já arrebentada.

Mas este tipo de comportamento não é nem o pior. E quando a próprias empresas usam de seu poder para influenciar a opinião pública a favor de um candidato e/ou contra outro? Nesta categoria, ainda é imbatível a edição do debate Collor x Lula em 89. Lembram? Pelo que se viu no Jornal Nacional, o ?Caçador de Marajás? (mito criado pela mídia, aliás) tinha feito o petista em pedacinhos, algo que simplesmente não tinha ocorrido no debate real. Isso sem contar que todos os meios de comunicação tomaram como verdadeiras, sem qualquer checagem, as acusações de Míriam Cordeiro de que Lula tivera com ela uma filha fora do casamento e a abandonara, após ela ter se recusado a abortar. Depois da eleição – sempre depois – ?descobriu-se? que Lula não era casado quando Lurian nasceu, não pedira para Míriam abortar e sempre ajudou-as no que pôde.

O poço, porém, é ainda mais fundo. Em 1982, a Rede Globo tentou, junto com a empresa Proconsult, impedir que Leonel Brizola vencesse a eleição para o Governo do Estado Rio usando algo que, na época, ainda era uma novidade: a informática. Graças ao programa criado para este fim, a Proconsult computava erradamente os dados dos mapas eleitorais dando a vitória ao candidato do PDS (atual PPB), Wellington Moreira Franco, resultado esse que era levado ao ar pela TV, criando o clima para o esbulho. Aqui sim, pelo menos por uma vez a mídia fez seu papel de vigia, pois foi graças à apuração paralela realizada pela Rádio Jornal do Brasil que o engodo foi descoberto. Mesmo assim, o bom trabalho da JB pode ser creditado mais à coragem pessoal e moral de um grupo de jornalistas, liderados por Procópio Mineiro e Pery Cotta, do que à capacidade institucional dos meios de comunicação de zelarem pelo bem público, a começar pela democracia.

Se dependermos do civismo das empresas de comunicação para termos eleições limpas, estaremos todos – e não só os candidatos malquistos por elas – roubados.

Picadinho

Sem base – Já que estamos no assunto, o candidato do PT poderia ouvir as bases com assiduidade de antigamente. Além de avaliar melhor seus projetos de aliança, esta providência o impediria de dar foras como o que perpetrou ao pedir o controle dos meios de comunicação durante as eleições. Se ouvisse mais seus correligionários, Lula saberia que o partido que lidera está há mais de dez anos lutando pela instalação do Conselho de Comunicação Social – previsto na Constituição de 88, regulamentado em 91 e que até hoje não saiu do papel devido ao lobby das empresas de comunicação – cuja missão seria exatamente assessorar o Parlamento para que a ética fosse mantida na mídia. Em vez de pedir controle, Lula deveria ter aproveitado para exigir a instalação do CCS, que, aliás, foi prometida para já pelos governistas em troca do apoio da oposição à liberação da entrada do capital estrangeiro no setor de mídia brasileiro.

Garoto virtual – Ainda no quesito eleição, como já informei no blog, Oscar Valporto deixa o Viva Rio em abril para cuidar do site do candidato do PSB, Anthony Garotinho, e ainda ajudá-lo em artigos e discursos. A assessoria de imprensa da campanha, porém, continua a cargo de Carlos Henrique Peninha Vasconcelos e Paulo Fona.

Idéia – Como os interessados na compra de ações da Vale só vão poder adqüirir 29% dos papéis que desejavam, por que o BNDESPar não aproveita que há interesse e dinheiro sobrando para botar em leilão a sua participação na Globo Cabo? Afinal, se o banco quer usar dinheiro público para ajudar empresas privadas em dificuldades por achar que é um bom negócio, poderia dar a chance ao público para que este usasse seu dinheiro realmente sabendo o que está fazendo com ele.

E aí? – A prosa está muito boa, mas como anda a ação da Fenaj para fazer com que para se exercer a profissão de jornalista volte a ser necessário fazer um curso superior específico?"

 

"Discursos", copyright Folha de S. Paulo, 22/03/02

"Depois de assistir aos brilhantes discursos dos senadores José Sarney -em que defende sua filha Roseana e ataca José Serra e Fernando Henrique- e Arthur da Távola -em que faz exatamente o contrário-, cheguei à também brilhante conclusão de que a mentira e o engodo estão intelectualmente muito bem representados no nosso Congresso. O cinismo do senador Sarney ao exaltar a democracia só encontra equivalente no cinismo do senador Távola ao insinuar que os tempos tucanos são responsáveis pelo fim das oligarquias. Asco é a palavra certa. Felício Limeira de França (Recife, PE)

Mais uma vez brilhantes as colocações de Janio de Freitas em seu artigo de 21/3 (?Os pontos do processo?, Brasil, pág. A5). Não defendo o passado nem o presente de Sarney, mas o seu discurso foi uma aula de Brasil. Minucioso documentário apresentado, que desmascara essa corja do PSDB. São vários os escândalos abafados: reeleição, CPI da corrupção, mudanças de regras eleitorais no meio da partida, Aécio embolsando pedido de processo contra FHC, grampos, arapongas etc. Que o povo brasileiro não se iluda mais uma vez com esses tucanos torpes e pernósticos que estão saqueando o país e aviltando nossa dignidade. A eles digo: não somos analfabetos! Eduardo Henrique Alves Gabrich (Santa Luzia, MG)

Perguntar não ofende. Já que o senador Sarney quer solicitar à ONU vigilância nas futuras eleições, poderemos nós, simples mortais, pedir à Interpol vigilância sobre os negócios do seu genro -ou a PF basta? Divaldo A. de Oliveira (Ribeirão Preto, SP)

A fiscalização das eleições será, mais uma vez, feita pela Rede Globo de Televisão, agora com participação da Globo Cabo. Parabéns ao sr. FHC, que conseguiu fiscais imparciais e que nada custam (????) aos cofres públicos. Antônio Celso Freitas (Belo Horizonte, MG)"