Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jayson Blair volta à ativa

ESQUIRE & JANE

Pouco mais de dois meses após o escândalo que todos juravam ter destruído sua carreira, Jayson Blair, o repórter fraudador que deu início a uma grave crise na redação do New York Times, de onde foi demitido em 5/5, está de volta ao jornalismo: acaba de assinar dois contratos, com as revistas Esquire e Jane.

Artigo de Keith J. Kelly [New York Post, 25/7/03] conta que, para a Esquire, o repórter fará a resenha de Shattered Glass, o novo filme de Stephen Glass ? outro jornalista que fabricava notícias compulsivamente ? sobre seus próprios escândalos; para Jane, escreverá sobre pressões do trabalho.

Não se pode negar que, em ambos os casos, Blair tem conhecimento de causa. David Granger, editor-chefe da Esquire, foi quem chamou o repórter para falar de Glass, cujo filme ? do qual não reterá os lucros ? baseia-se em artigo de Buzz Bissinger publicado na Vanity Fair em 1998.

Blair, seguindo os passos do veterano Glass, também pretende contar sua experiência em livro e filme. Por enquanto, ele se contenta em receber US$ 5 mil pelos dois artigos.

Jann Wenner, proprietário da Rolling Stone, está na contramão da imprensa americana: vai dar uma segunda chance a Stephen Glass, o repórter descrito como "fabricante serial" de reportagens. Em 1998, Glass, que escrevia para a New Republic, foi desmascarado, e descobriu-se que muitas de suas ficções foram parar também na Rolling Stone.

"O rapaz, do meu ponto de vista, merece uma segunda chance", disse Wenner. "Ele é um excelente repórter. Cometeu um grande erro e merece redenção". A idéia de dar a Glass um novo contrato foi do próprio Wenner, que, segundo Howard Kurtz [The Washington Post, 21/7/03], acredita não ter havido problemas com o material que o repórter escreveu para a revista. Mas a memória de Wenner anda fraca. Rolling Stone disse em 1998 que dois artigos de Glass "contêm citações anônimas e incidentes que agora sabemos ser fabricações."

Em uma das matérias, "The College Rankings Scam" (algo como "O Erro dos Rankings de Faculdade"), Glass confessou ter fabricado um encontro secreto de responsáveis anônimos por admissões. Na outra reportagem, sobre o grupo antidrogas Dare, levou a revista a uma ação judicial, da qual a Rolling Stone foi absolvida justamente por alegar que não sabia das fraudes compulsivas de Glass.

Wenner disse não estar preocupado com o ressurgimento de Glass porque a maioria dos leitores não vê o crédito das reportagens e "a própria credibilidade da Rolling Stone, que é, graças a Deus, inexpugnável, mais que compensa". Além disso, "a idéia de que ele prejudicaria qualquer um novamente está fora de discussão", afirmou. "Não acho que haja um grande risco aqui."