Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jean-Claude Buhrer

ASPAS

CHINA

"ONG de jornalistas faz campanha contra a Olimpíada em Pequim", copyright Folha de S. Paulo / Le Monde, 1/07/01

"?Jogos Olímpicos em Pequim? China, medalha de ouro em violação dos direitos humanos.? Com essas duas frases escritas em branco sobre um fundo negro e cinco algemas fazendo as vezes dos anéis olímpicos, três caminhões que circulam pelas ruas íngremes de Lausanne, onde fica a sede do Comitê Olímpico Internacional (COI), não passam despercebidos. Eles surgiram pela primeira vez em Genebra, em 12 de junho, quando a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) deu o pontapé inicial na campanha que combate a escolha de Pequim para sediar os Jogos Olímpicos de 2008.

Com a cooperação da organização China-Solidariedade e de entidades de apoio à causa do Tibete, a RSF se lançou na briga porque, segundo seu secretário-geral, Robert Ménard, ?é tão monstruoso realizar os Jogos Olímpicos na China em 2008 quanto foi tê-los na Alemanha nazista em 1936?.

?Sem liberdade de informação e de expressão, sob vigilância policial estreita, será concebível fazer a cobertura do evento esportivo que atrai a maior atenção da imprensa mundial??, indagou Ménard.

Enquanto isso, a representante do dalai-lama em Genebra fazia questão de deixar clara a posição do líder espiritual tibetano: ?Desde um ponto de vista puramente esportivo, a China merece organizar o evento. Mas ainda subsistem aspectos negativos demais: violações dos direitos humanos, graves atentados contra o ambiente, desrespeito à liberdade religiosa. Esses problemas existem e precisam ser levados em conta. Escolher Pequim para sediar a Olimpíada significa que o mundo não vê cura para os problemas e desmoralizaria aqueles que lutam pela liberdade e a democracia?.

Marie Holzman, diretora da organização China-Solidariedade, explicou que não acredita que a cobertura da mídia nos Jogos Olímpicos possa beneficiar a causa dos direitos humanos, ainda mais levando em conta que os enormes investimentos previstos seriam feitos em cidades que não precisam deles, em detrimento das regiões mais carentes.

Um mês antes da decisão final, que será tomada em 13 de julho, em Moscou, a RSF acredita poder relançar a discussão fundamental sobre a ética do próprio espírito olímpico. E os opositores dos Jogos em Pequim receberam o apoio de Lois Snow, viúva do jornalista americano Edgar Snow, que era amigo de Mao Tse-tung.

?Em nome de todos aqueles que sofreram e ainda sofrem, seria indigno homenagear a China, sediando nela a Olimpíada de 2008?, disse Lois Snow."

HOLYWOOD

"Tramóias de Hollywood", copyright Gazeta Mercantil, 29/06/01

"Neste últimos mês, uma sucessão de pequenos escândalos revelou ao público americano a relação muitas vezes promíscua entre jornalistas que cobrem cinema e os departamentos de marketing dos grandes estúdios nos Estados Unidos. O problema começou quando o jornalista investigativo David Robb acusou o colunista de fofocas George Christy, do ?The Hollywood Reporter?, de aceitar favores de produtores de Hollywood. Robb escreveu um artigo sobre o assunto para o próprio ?Hollywood Reporter?, um semanário sobre a indústria cinematográfica que concorre com o ?Variety?, mas o texto foi recusado pelo diretor do jornal, Robert Dowling. Diante da recusa, Robb pediu demissão; em solidariedade, a editora do jornal, Anita Busch, e a editora de filmes, Beth Laski, também se demitiram.

O artigo acabou sendo publicado pelo site Inside.com. Em resumo, ele informava que o Sindicato dos Atores de cinema estava investigando o colunista George Christy e vários estúdios de cinema que teriam lhe dado crédito por aparições em filmes, para que ele pudesse receber os benefícios do plano de saúde do sindicato.

Com a má repercussão, o ?Hollywood Reporter? – uma empresa da Billboard Publications, subsidiária da VNU, uma companhia holandesa – anunciou que Christy seria suspenso até que o jornal investigasse se a acusação procedia. Depois de 26 anos de publicação ininterrupta, a coluna de Christy, ?The Great Life?, foi suspensa há duas semanas, por tempo indeterminado.

Segundo a reportagem, Christy teria recebido crédito em 19 filmes e programas de TV desde 1985, sem ter aparecido em nenhum deles. Em troca, ele teria publicado notícias favoráreis aos estúdios que os produziram em sua coluna. Citados nominalmente no artigo, os produtores Brad Krevoy e Steve Stablem alegaram que as cenas em que Christy aparecia foram cortadas da edição final. O colunista usou a mesma desculpa. Mas o sindicato decidiu investigar se Christy chegou a participar das filmagens.

Houve outras investigações contra Christy, Krevoy e Stablem em 1993 e 1998. Na primeira vez, ocorreu um acordo entre as partes de valor não-revelado. Segundo o artigo de Robb, os produtores pagaram ao sindicato o valor dos serviços do plano de saúde utilizados por Christy. Na segunda vez, o colunista teve de devolver US$ 5 mil que havia recebido pela participação em um filme dos produtores em que não aparecia. Segundo Robb, Christy também teria utilizado um escritório dos produtores e ganho um smoking Armani, uma caneta Cartier e acesso livre a uma loja de roupas.

O veterano Christy é um remascente da chamada época de ouro de Hollywood, um período em que colunistas de fofocas, como Hedda Hopper e Louella Parsons, tinham quase tanto poder quanto as estrelas de cinema. Os estúdios ofereciam caixas de uísque, jóias e roupas aos colunistas em troca de notícias favoráveis. Em um famoso caso, um estúdio chegou a redecorar todos os quartos de um colunista. Nos últimos anos, porém, essa promiscuidade teria diminuído, graças a uma nova geração de jornalistas investigativos, como Robb e Busch.

O caso de Robb versus Christy foi encarado como uma disputa entre as novas e as velhas formas de jornalismo em Hollywood. Mas a verdade é que muitos dos maus hábitos dos ?bons tempos? continuam a imperar na terra do cinema, como viagens e presentes de Natal oferecidos por estúdios. Muitas vezes, os produtores pagam a passagem e o hotel dos repórteres que participam de ?junkets?, entrevistas dos atores e diretores com grupos de jornalistas de pequenas publicações americanas ou internacionais. Aqueles que escrevem artigos favoráveis a certos filmes ganham acesso às futuras produções da companhia.

Busch, a editora do ?Hollywood Reporter? que pediu demissão, enumerou alguns dos presentes que sua equipe teve de devolver no ano passado: um relógio da DreamWorks, um organizador pessoal do American Film Institute e uma caixa de DVDs da Artisan Films, entre outros. Em entrevista ao ?The New York Times?, porém, o chefe de publicidade de um estúdio disse que alguns jornalistas pediram para que seus presentes fossem entregues diretamente em casa, e não na redação do jornal.

Quando a poeira sobre o caso Christy começou a baixar, a ?Newsweek? revelou, três semanas atrás, um outro escândalo relacionado ao marketing de filmes de Hollywood. Desta vez, porém, o jornalista não tinha culpa no cartório. A revista publicou que o crítico David Manning, do ?The Ridgefield Press?, que sempre aparecia nos anúncios dos filmes da Columbia Pictures com suspeitas frases elogiosas, simplesmente não existia.

A Columbia usou frases atribuídas a Manning nos anúncios de pelo menos quatro de seus filmes: ?A Knight?s Tale?, ?The Animal?, ?O Homem Invisível? e ?Limite Vertical?. Em geral, esses filmes foram massacrados pela crítica americana, mas o falso crítico parece ter gostado de todos: ?The Animal? foi chamado pelo falso crítico de ?outro campeão!?; Heath Ledger, ator de ?A Knight?s Tale?, classificado como ?a estrela mais quente deste ano!?. Ao ser pressionada pelo repórter da ?Newsweek?, a Sony Pictures Entertainment, dona da Columbia, admitiu que Manning era um produto do departamento de marketing da empresa. Na verdade, o pequeno semanário ?The Ridgefield Press?, de Connecticut, realmente existe, mas seus funcionários acharam que o caso fosse apenas um engano.

Segundo a assessoria de imprensa da Sony, dois funcionários da empresa teriam inventado Manning por conta própria no ano passado, emprestando o nome de um amigo que mora em Ridgefield, mas que nunca escreveu uma crítica na vida. Assim que soube da fraude, a Sony retirou as frases de Manning de seu material publicitário e suspendeu os dois funcionários por 30 dias, sem direito a salário. A empresa não revelou seus nomes, mas a ?Variety? informou que os suspensos foram Josh Goldstine, vice-presidente de publicidade, e Matthew Cramer, diretor de publicidade. Questionada sobre a punição limitada, uma funcionária da Sony disse que a humilhação entre os colegas já era suficiente.

A ?Newsweek? ironizou a invenção do falso crítico, lembrando que jornalistas reais estariam sempre dispostos a elogiar os filmes da Columbia Pictures, depois de participarem de ?junkets? com refeições e hotéis gratuitos. Segundo a revista, alguns estúdios chegam a sugerir a jornalistas o tipo de frases que eles querem em uma crítica, para poder usá-las em seus anúncios, como ?o Matrix deste ano? ou ?hilariantemente engraçado!?, típicas da publicidade de filmes americanos. Elas são usadas quando os estúdios não conseguem encontrar frases elogiosas nos textos de críticos de publicações sérias.

A Sony mal havia se recomposto do caso Manning quando o ?Daily Variety? revelou um novo escândalo na semana passada. Dois funcionários da empresa fingiram-se de espectadores comuns em um anúncio de TV do filme ?O Patriota?, da Columbia Pictures. Na propaganda, Tamaya Petteway, assistente da vice-presidente de publicidade Dana Precious, aparecia na saída do cinema comentando: ?Um filme perfeito para namorar.? A seu lado estava Anthony Jefferson, outro empregado da companhia.

Precious declarou à ?Variety? que esse era um procedimento comum. ?Usar atores, pessoas reais ou empregados como porta-vozes de um filme não é um caso único na indústria de entretenimento, não é específico da Sony Pictures e não é praticado apenas por mim?, afirmou. Um concorrente não-identificado da Sony disse à publicação que poucas companhias ainda usam ?testemunhos reais? em suas propagandas, porque ninguém acredita neles de qualquer forma."

    
    
                     

Mande-nos seu comentário