Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornal da Tarde

MÍDIA vs. HUGO CHÁVEZ

"Agrava-se a crise de credibilidade da imprensa", copyright Jornal da Tarde, 15/04/02

"Os acontecimentos de sábado agravaram a já deteriorada situação dos meios de comunicação, acossados pelo governo de Hugo Chávez e em crise de credibilidade. Durante toda a tarde e início da noite, enquanto os fatos evoluíam de maneira dramática, com a retomada do Palácio Miraflores pelos colaboradores de Chávez, os três principais canais de televisão privados e a maioria das emissoras de rádio não noticiavam o que se passava na sede de governo.

As emissoras RCTV, Venevisón e Globovisión, tiradas do ar por Chávez na quinta-feira, e que voltaram a transmitir com a sua queda, cobriam apenas as declarações do presidente interino, Pedro Carmona, e dos comandantes das Forças Armadas, no Forte Tiuna. E mostravam também seu próprio infortúnio: as sedes dos três canais foram cercadas por simpatizantes de Chávez, que chegaram a apedrejar e pichar a entrada dos prédios. A Polícia Metropolitana impediu que eles invadissem os estúdios.

Os dois principais jornais, El Universal e El Nacional, não circularam ontem. Os jornalistas deixaram as redações, alegando falta de segurança para trabalhar. El Nacional promoveu no sábado, na Praça Altamira, um abaixo-assinado contra a violência à imprensa. Já a emissora estatal VTV, cujos funcionários se retiraram depois da queda de Chávez, alegando falta de segurança, retomou as transmissões no sábado à noite, com mensagens de apoio ao presidente deposto.

Os principais meios de comunicação locais justificaram a falta de cobertura do que se passava em Miraflores alegando que seus repórteres corriam riscos. Alguns simpatizantes de Chávez abordavam os jornalistas com hostilidade, e se acalmavam quando constatavam que se tratava de enviados estrangeiros. Mas, mesmo depois de as agências internacionais de notícias, cujos boletins são recebidos pelos meios locais, e a rede de tevê americana CNN informarem o que se passava, eles continuaram ignorando os fatos.

A imprensa estrangeira emergiu como heroína para os simpatizantes de Chávez, por ter sido a única que noticiou o que se passava no sábado. A notícia do abandono do palácio pelos membros do governo interino contribuiu para a mobilização dos colaboradores de Chávez. O presidente iniciou seu pronunciamento na madrugada de ontem agradecendo à imprensa estrangeira, sob aplausos intensos da platéia de integrantes do governo e militantes, no palácio. Chávez fez também uma advertência aos meios de comunicação locais, de que terão de ?corrigir-se?.

?Se não fosse pelos jornalistas internacionais…?, comentava ontem o médico Juan Carlos Marcano, que levou sua filha Maidi, de 4 anos, para a frente do palácio, com um cartaz nas mãos em que agradecia à CNN. ?Nosso problema não é com os jornalistas. Isso foi manipulado aqui?, disse o médico. ?O povo saía às ruas e se sentia impotente, porque não era ouvido. A parcialidade dos meios de comunicação foi responsável pelo que aconteceu aqui.?"

 

"Imprensa sofre as conseqüências", copyright Jornal
do Brasil
, 15/04/02

"Apenas dois dos seis principais jornais que tradicionalmente circulam aos domingos na capital venezuelana foram publicados. Os outros, incluindo os mais importantes jornais locais, El Nacional e El Universal, não puderam ser impressos em conseqüência da violência das manifestações pró-Chávez.

Ameaças de quebra-quebra, total ausência de funcionários nas rotativas e ameaças de morte à jornalistas refletiram a reação dos chavistas à posição praticamente da grande imprensa venezuelana contra o presidente, que acusam de ter sido um dos fatores que insuflaram o golpe.

Apenas El Globo e Ultimas Noticias circularam na cidade e se esgotaram rapidamente nas bancas. O primeiro teve suas instalações ?visitadas? por chavistas, mas nada foi quebrado. Um repórter do jornal 2.001, que teve um fotógrafo morto durante os incidentes de quinta-feira e vários jornalistas agredidos, foi ameaçado por dois homens armados em frente ao jornal. ?Eles desceram de um automóvel, puseram pistolas 9 milímetros na minha cara e me insultaram?, contou o repórter Andrés Martín.

Em meio a clamores pela reconciliação do país, em seu primeiro discurso depois de reempossado, o presidente Hugo Chávez se deteve na omissão dos principais órgãos de imprensa às notícias sobre a reação ao golpe, deixando de noticiar os saques e distúrbios, a reação popular nas ruas e quartéis e a avalanche de denúncias de violações dos direitos humanos de seus partidários. ?Peço sobretudo aos donos dos veículos de comunicação, por Deus, que reflitam de uma vez sobre o que aconteceu?, afirmou.

O presidente reempossado prometeu manter a liberdade de imprensa, mas criticou a mídia, dizendo que há uma Venezuela real e outra virtual. ?O país virtual montou uma conspiração com o desespero de uma aventura, desrespeitando tudo, mas o país real tem em suas mãos a bandeira da razão?, comparou."

 

"Jornais fecham mais cedo por medo de reação", copyright Folha de S. Paulo, 15/04/02

"Por temor à reação dos manifestantes pró-Chávez, os dois principais jornais venezuelanos -?El Universal? e ?El Nacional?, críticos do presidente e que adotaram um tom próximo à comemoração após sua derrubada- corriam ontem à tarde para fechar suas edições de hoje algumas horas mais cedo que o normal e desocupar os prédios.

Ontem, os dois jornais não circularam. As redações haviam sido desocupadas durante a tarde do sábado, após os edifícios terem sido cercados pelos manifestantes, que já haviam estado antes na sede da RCTV (Rádio Caracas Televisión), que foi apedrejada.

Em janeiro, incitados por discursos de Chávez que atacavam os jornais, manifestantes cercaram as redações dos jornais e impediram jornalistas de sair dos prédios.

Nas TVs privadas, que anteontem fizeram um pacto para não transmitir as manifestações pró-Chávez, a sensação era a mesma. A sede da Globovisión foi invadida por um grupo de manifestantes, autodenominados ?Batalhão Caracas?, que exigiram a transmissão de um comunicado pedindo ?reconciliação?. A rede estatal Venezuelana de Televisión voltou a transmitir na tarde de sábado, após quase três dias fora do ar."

***

"Chávez censura transmissão de greve geral", copyright Folha de S. Paulo, 10/04/02

"O governo da Venezuela censurou transmissões da greve geral realizada ontem no país pelas de redes de TV. Líderes dos principais sindicatos e federações empresariais venezuelanas protestaram contra a atitude do presidente Hugo Chávez, acusando-o de violar todas as leis que garantem a liberdade de expressão. O governo divulgou imagens mostrando pessoas no trabalho, atos públicos pró-Chávez e declarações afirmando que a situação no país estava calma, sem mencionar a greve convocada em protesto contra nomeações do governo para cargos executivos na estatal petroleira PDVSA. A exploração de petróleo é a mais importante atividade econômica na Venezuela. Segundo os organizadores, cerca de 80% dos trabalhadores aderiram à paralisação. O tráfego em Caracas estava mais tranquilo e muitas escolas suspenderam as aulas. Mesmo assim, a greve teve um impacto inferior à de 10 de dezembro. Bancos abriram as portas e ônibus circularam normalmente."