Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornal do Brasil

ÍNDICES DE LEITURA

“Ibope: Rio é a capital que mais lê jornal no país”, copyright Jornal do Brasil, 1/10/02

“Pesquisa do Ibope sobre índices de leitura de jornal nas nove principais cidades do Brasil indica que o Rio de Janeiro é a capital onde mais se lê jornal no país. O estudo comprova que cerca de 2,9 milhões de pessoas lêem jornais diariamente no município. São Paulo fica em segundo lugar: 2,7 milhões de pessoas têm o habito de ler jornal. De acordo com essa análise Porto alegre se posiciona em terceiro.

No quesito proporcionalidade, no entanto, a capital gaúcha sobe para primeiro lugar. De acordo com o instituto, 47% da população de Porto Alegre lê jornal com freqüência. No caso, a vantagem está no tamanho: a cidade é bem menor do que as duas primeiras colocadas. Em segundo lugar no ranking está o Rio, onde 34% da população recorre à mídia impressa para se informar. Palco de disputas políticas que rendem manchetes nos principais jornais do país, Brasília figura como terceira colocada: 27% da população afirma ler jornal com regularidade.

De todas as cidades pesquisadas, Porto Alegre é a única onde o número mulheres que lêem jornais supera o de homens. Lá, do total de pessoas que dizem ler jornal com regularidade, 51% são do sexo feminino. O oposto ocorre em Curitiba. A minoria dos leitores da capital do Paraná é constituída por mulheres. A cidade é a que tem menos leitoras de jornal em todo o País. Apenas 38% curitibanas que participaram do estudo reconhecem ter esse hábito.

O Ibope ouviu 100 mil pessoas por telefone nos meses de maio, junho e julho. O instituto recorreu ao mesmo método utilizado para medir a audiência de rádio em todo o país. O entrevistado é submetido a um questionário para se saber a freqüência com que ele lê jornal. O resultado não tem nada a ver com tiragem, nem especifica o periódico mais lido. O trabalho, que era divulgado trimestralmente, será colocado a disposição dos interessados todo o mês a partir de setembro.”

 

FOTOS/FGV & PRIVACIDADE

“Invasão de privacidade”, copyright Folha de S. Paulo, 28/09/02

“A escola é solene, há décadas forma os melhores administradores do país. Como muitas outras universidades e faculdades de São Paulo, os alunos da Fundação Getúlio Vargas organizam suas festas periódicas, nas quais se usa o ?cafofo? – local reservado para os ?amassos? dos convidados. Na última festa, um dos presentes fotografou cenas de juventude explícita e as colocou na internet. A nova mídia permitiu que as fotos circulassem, e a velha mídia deu a devida repercussão, conferindo ao caso dimensão nacional.

Desde então, o episódio deflagrou uma discussão – interna, na escola, e externa, na mídia – que é sumamente representativa da crise de valores que assola a sociedade contemporânea. Na faculdade, no início perdeu-se o rumo. Houve discussões acaloradas entre os professores, alguns considerando ter havido atentado ao pudor da parte dos jovens fotografados.

Como ambiente racional que é, com o tempo a FGV constatou o óbvio. Os jovens fizeram o que todos os jovens contemporâneos fazem em festinhas de alguns anos para cá. Flagrada nas fotos, aliás, uma aluna de nome Patrícia colocou uma página na internet, desancando esse moralismo anacrônico. O crime em questão foi o da quebra da privacidade. E aí se chega ao ponto da questão: quais os limites da privacidade na sociedade contemporânea, não apenas dentro do ambiente acadêmico mas da própria mídia?

Há um princípio que, em geral, é mal compreendido. Segundo ele, toda figura pública não teria direito à privacidade, por ser pública. O ?cafofo? mereceu a repercussão dada porque os alunos pertenciam a uma instituição de reputação nacional – e, portanto, com imagem pública -, a FGV.

Há que rediscutir esse conceito. A imprensa privilegia a divulgação da privacidade de pessoas públicas, porque dá leitura. Como a imprensa é o fiscal da sociedade, muitas vezes ela se concede o direito de avançar sobre a privacidade alheia, em nome da eterna vigilância. Há uma pequena porém fundamental diferença entre o papel de fiscal da sociedade e o de ?voyeur? de celebridades. A mídia torna-se fiscal quando revela algum aspecto da vida privada do cidadão que possa ter implicações sobre sua atividade pública. Quando avança além disso, investe contra um dos direitos fundamentais da civilização: o direito à privacidade.

Nos anos 80, por exemplo, o regime militar utilizou cenas de motel para abater parlamentares da oposição. Depois, explorou a doença da mulher de um senador (era cleptomaníaca) para investir contra ele. Teve o respaldo de uma grande publicação.

Nos últimos anos, o assalto à privacidade alheia foi praticado indistintamente, por jornalistas, políticos, procuradores, funcionários da máquina, procurando atingir adversários políticos ou meramente se promover à custa de celebridades. O início desse processo está na campanha do impeachment, quando, à falta de temas novos, se permitiu a divulgação de um festival surreal de suspeitas escabrosas.

No episódio da CPI dos Precatórios, por exemplo, os senadores solicitavam a quebra do sigilo telefônico de suspeitos. As companhias telefônicas mandavam as listas em caixas lacradas, sabendo que a divulgação dos dados configurava crime previsto na Constituição. Mal chegavam às mãos de senadores, as listas eram imediatamente repassadas para jornalistas. A senadora gaúcha Maria Emília se cansou de proceder assim, e nem sequer houve a ameaça de cassação por quebra de decoro. O Senado só reagiu quando a privacidade dos seus foi invadida, no episódio da votação da cassação de um dos senadores.

No episódio das contas CC-5 de Foz do Iguaçu, a primeira atitude do procurador incumbido das investigações foi passar o nome de celebridades que fizeram remessas para o exterior -sem apurar se a remessa era legal ou ilegal. Sobre os crimes, doleiros e narcotráfico, pouco avançou.

Somem-se os ?reality shows? da televisão e se verá que tudo virou show. O que poderá significar essa quebra de privacidade em um governo que não coloque limites à atuação de procuradores, fiscais e bancários?”

“Diretoria da FGV pede apuração sobre imagens de festa da escola”, copyright Folha de S. Paulo, 28/09/02

A polícia abriu inquérito para apurar quem são os responsáveis por fotografar participantes da festa à fantasia do Diretório Acadêmico da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, em 7 de setembro, e por divulgar as fotos na internet. A investigação foi pedida pela direção da escola para verificar se houve crime de difamação contra a instituição.

As fotos mostram casais em um espaço denominado ?Cantinho do Amor?, reservado pelos organizadores da festa para encontros íntimos. Vários sites foram criados para exibir e comentar as fotos, também divulgadas por e-mails. Em algumas imagens, é possível identificar os jovens.

?Não foi um acontecimento da escola, mas a escola ficou profundamente ofendida e chocada. Queremos saber quem provocou esses danos?, disse o diretor da instituição, Francisco Mazzucca.

Segundo ele, uma comissão interna realiza sindicância para apurar se há envolvimento de alunos. ?Transgrediu-se um dos códigos mais sérios dessa escola, o código de ética. Se houver alunos envolvidos, vão pagar por isso.? A escola tem cerca de 10 mil alunos -cerca de 1.600 na graduação.

O advogado do diretório acadêmico, Luiz Carlos Dias Torres, informou que todos os membros do diretório vão cooperar com a investigação. ?O DA é responsável pela festa, mas não pelas fotos e pela divulgação?, disse. Já existe ação na Justiça, proposta pelo DA, contra provedores que hospedam sites com as fotos. O diretório pede que as páginas sejam imediatamente retiradas da rede.

O problema, no entanto, não seria resolvido com a medida, já que há sites hospedados em outros países, como a Eslovênia, onde não valeria a ordem judicial.

Internautas já divulgaram as fotos diretamente de seus computadores, usando programas de compartilhamento de arquivos. Sites oportunistas, que nem sequer comentam o episódio, estão usando expressões como ?fotos-festa-FGV? para aumentar seu número de acessos via mecanismos de busca.”