Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornal do Brasil

“ESTOU PARA MORRER. PODEM PUBLICAR”

"Médicos anteciparam a notícia", copyright Jornal do Brasil, 16/01/01

"A notícia de que a saúde do governador estava ainda mais comprometida com o aparecimento de células cancerígenas na meninge alterou o ritmo do Palácio dos Bandeirantes, ontem de manhã. A informação corria pelos bastidores, principalmente entre jornalistas e assessores do governo, enquanto Covas discursava sem saber de nada para 200 pessoas que participavam da cerimônia de entrega de títulos de propriedade a remanescentes em áreas de quilombos.

Ao contrário de seu último discurso, o governador manteve a linha de raciocínio. Ao mesmo tempo, mostrava fraqueza e respirava fundo a cada pausa. Covas deixou o mezanino sem falar com a Imprensa. Naquele instante, os rumores de que a doença havia tomado proporções maiores também cresciam. A informação seria anunciada hoje. Diante da situação, os médicos anteciparam para ontem de manhã uma reunião para discutir o quadro clínico do governador.

Por volta das 13 horas, o infectologista David Uip almoçou com Covas. A pauta: o resultado dos exames. Logo após o encontro, Uip convocou a Imprensa. ”Não vou falar sobre a reação do governador. Até porque a minha relação com o governador não é só de um médico com um paciente, mas de amigo”.

Covas saiu do Palácio logo após o almoço e foi para a residência oficial de verão, no Horto Florestal. Não conversou com os jornalistas. Visivelmente emocionada, a primeira-dama do estado, Dona Lila Covas, acompanhou o marido na cerimônia oficial. Segundo a assessoria de Imprensa do palácio, Covas não despacharia à tarde. A agenda para hoje também não foi divulgada.

No fim da tarde, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, divulgou uma nota em que diz estar torcendo pela recuperação do governador. No texto, Marta afirma que ‘o drama e a transparência com que o governador Mário Covas lida com a doença emocionam o país e a mim também’."

"Estou para morrer’, diz Covas", copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 16/01/01

"‘Estou para morrer! Pode publicar no jornal’, disse aos repórteres ao sair de uma reunião com alguns secretários de seu governo para discutir o Programa Estadual de Desestatização (PED).

O governador tentou sair caminhando da sala de reunião, mas teve de ser ajudado por assessores que estavam ao seu lado. Covas foi suspenso pelos braços e colocado numa cadeira de rodas, a mesma em que ele chegou à sede do governo nesta manhã.

Neste momento ele reclamou: ‘Estão me arrancando os braços’, referindo-se à ação de seus assessores.

Nesta segunda-feira, a equipe médica do governador divulgou o resultados dos exames realizados na última sexta-feira, que revelaram um novo tumor maligno, que desta vez atingiu a meninge."

"‘Estou para morrer, pode publicar no jornal’, diz Covas", copyright UOL (www.uol.com.br), 16/01/01

"O governador de São Paulo, Mário Covas, disse, ao sair de uma reunião nesta terça-feira: ‘Estou para morrer, podem publicar no jornal’.

A declaração a jornalistas ocorreu depois de uma reunião com membros do Programa Estadual de Desestatização.

Ele saiu da reunião de muleta, ajudado por assessores e teve dificuldade ao sentar em uma cadeira de rodas.

O médico particular de Covas, o infectologista David Uip, disse em entrevista exclusiva ao UOL News que a frase de Covas é ‘uma frase de alguém que está sofrendo’.

‘É um momento complicado. O que foi combinado entre médico e paciente não foi cumprido. Ontem, ele ficou sabendo das informações sobre o câncer na meninge pelo que estava sendo divulgado na mídia, e não pelos médicos. A informação havia sido passada à assessoria de imprensa do Incor. O governador ficou magoado com isso’, disse Uip a Paulo Henrique Amorim.

O UOL News antecipou na segunda que Covas só havia ficado sabendo pela imprensa que tinha células cancerosas na meninge (membrana que envolve o cérebro e a medula óssea).

Covas soube da notícia na manhã de ontem, por meio das notas que estavam saindo na mídia, que o exame feito na última sexta-feira no Incor detectou células cancerosas na meninge (membrana que envolve o cérebro).

Assim que as primeiras notas foram divulgadas na imprensa, por volta de 11h30, o médico David Uip e o oncologista Ricardo Brentani foram rapidamente ao Palácio dos Bandeirantes dar a notícia a Covas.

Segundo Uip, foi ‘um momento muito complicado’. Ele não quis dizer como o governador reagiu.

Ao contrário do que disseram ao UOL News outros especialistas, Uip acredita que o governador não tenha que se afastar do cargo para fazer o tratamento necessário.

‘Logo depois que o governador foi informado do problema, ontem, o que eu vi foi um homem perfeitamente lúcido’, disse Uip. ‘Mas eu não tomo nenhuma decisão sozinho. A equipe médica é formada por especialistas em diversas áreas e cada um vai dar o seu parecer. Nenhuma decisão é tomada individualmente’, declarou o médico do governador.

Outros especialistas

Sobre a presença de células cancerosas na meninge (membrana que envolve o cérebro e a medula óssea), o especialista Rogério Tuma, neuro-oncologista do hospital Sírio-Libanês, afirmou que muito provavelmente o governador vai ter que se afastar do cargo. ‘O tratamento para esse tipo de problema, em geral, demanda muito cuidado.’

Segundo Tuma, a quimioterapia é o tipo de tratamento mais comum para casos como o de Covas.

‘Mesmo tendo condições intelectuais de trabalhar, a quimioterapia em geral tem que ser feita no mínimo duas vezes por semana. Ele vai ter que estar mais perto dos médicos’, disse Tuma.

A opinião de Tuma é compartilhada por Antonio Carlos Buzaid, também do Sírio-Libanês. ‘É recomendável’, segundo ele, que o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), se afaste do cargo para fazer o tratamento do câncer na meninge, detectado pelos exames feitos por Covas na sexta-feira.

‘Esse estágio, em que o câncer chega à meninge, é um dos mais sérios e mais difíceis de se tratar’, afirmou Buzaid.

A equipe médica de Covas informou que a decisão sobre qual será o tratamento deve ser tomada nas próximas duas semanas.

Segundo o infectologista Uip, ‘as células cancerosas encontradas na meninge provavelmente têm origem no tumor tratado em sua bexiga, em 98’.

A hipótese mais provável para o câncer na meninge é de uma metástase à distância, na qual as células cancerosas migraram para o organismo possivelmente pela corrente sanguínea ou pelos vasos linfáticos.

O governador paulista vem lutando aberta e publicamente contra o câncer desde 1998, quando, em dezembro, foi submetido a uma cirurgia para retirada de um câncer da bexiga e um tumor benigno da próstata.

A doença voltou a se manifestar em 2000. Mais uma vez, o governador foi a público para dizer que iria se submeter a nova cirurgia, para evitar o alastramento da doença em sua pélvis. Foi submetido a uma colostomia (passou a precisar de uma bolsa para eliminar as fezes).

Leia abaixo a nota de ontem do Incor sobre a saúde do governador:

‘Conforme programado, ficaram prontos hoje os resultados definitivos dos exames (líquor e ressonância magnética) a que o governador Mário Covas foi submetido na última sexta-feira (12/01) no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor-HC/FMUSP), visando investigar possíveis causas do quadro neurológico que vinha apresentando.

Segundo a equipe médica que assiste o governador, o resultado da ressonância magnética de corpo inteiro confirmou os dados preliminares divulgados -aumento da pressão intracraniana e inexistência de sinais de recidiva, local ou a distância, do câncer de bexiga diagnosticado e tratado em 1998.

O exame de líquor, no entanto, mostrou presença de células neoplásicas (câncer na meninge).

A hipertensão intracraniana está sendo tratada com dexametasona (corticóide). Medidas terapêuticas complementares ao tratamento estão sendo analisadas pela equipe médica, para posterior discussão com o paciente."

"Covas faz um desabafo aos jornalistas", copyright Agência Estado (www.agestado.com.br), 16/01/01

"Ao sair de uma reunião do Programa Estadual de Desestatização (PED), o governador de São Paulo, Mário Covas, irritado por não conseguir andar, fez um desabafo aos jornalistas: ‘Estou para morrer; pode publicar no jornal’. Questionado sobre a possibilidade de assumir o cargo, caso Covas tenha de se ausentar, o vice-governador, Geraldo Alckmin (PSDB), preferiu não comentar o assunto. ‘Nem o governador, nem a equipe médica, cogitam o afastamento’, disse Alckmin. Segundo ele, ‘Covas é um guerreiro e vem trabalhando normalmente’.

Covas está com câncer na meninge, membrana que envolve o cérebro, como revelou o resultado do exame de líquor – líquido existente na cavidade craniana – divulgado pelo Incor. O exame mostra a presença de células cancerosas."

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