Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalista precisa de um crivo

CONSELHO DE ÉTICA

Silas Corrêa Leite (*)


"Ou restaura-se a moralidade ou nos locupletemos todos." [Rui Barbosa]


Sou contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício de tão nobre profissão, assim como sou contra a tal Ordem dos Músicos do Brasil e suas obrigatoriedades sem os retornos legais, pertinentes, em forma de sagrados direitos autorais.

Lembro que comecei a colaborar com jornais do interior com pouco mais de 16 anos. Croniquetas, humor, a princípio. E num jornal assim, um jovem dinâmico (e encantado com o ambiente) faz de tudo. De correções a entrevistas, de colunas a rascunhos de editoriais, de colunas de variedades a crônicas sociais, de coberturas a flagrantes de reportagens, por aí afora.

Faz uns 15 anos, e já beirando os 40, resolvi fazer uma Oficina de Jornalismo pela ECA-USP. Foi uma graça de moleza. Alunos formados pela ECA, ex-alunos ou ainda calouros e formandos, todos, jovens, sabiam menos do que eu porque, bem ou mal, na verdade o que vale é a prática, além de, claro, muita leitura, alguma facilidade de raciocínio imediato, lucidez e, o, ponhamos, espírito de repórter mesmo, o chamado faro-fino, por assim dizer…

Sugestão bem-intencionada

Durante esses anos de "jornalismo cultural" (digamos assim) claro que cometi erros, sem nunca cometer uma barriga, ainda bem, mas, grosso modo, de uma maneira geral, mostrei estilo e espírito dinâmico para a área, fiz denúncias, levantei casos, corri riscos, sofri ameaças de processos, e, sim, considero-me com orgulho um bom repórter (ou frila ou mesmo jornalista, como queiram), e confesso que at&eacuteeacute; mesmo fui filiado a uma associação de imprensa coisa e tal.

Mas, depois desse introdutório com fito apenas esclarecedor, entrando na temática propriamente dita, eu, que também cursei Direito e fiz outros cursos, por experiência de percurso e alguma visão de vantagens e problemas na área, acho que os jornalistas teriam mesmo que ter um certo crivo, por assim dizer, via sindicato, associação, união, ou coisa que o valha, de um oportuno Conselho de Ética e Disciplina, como tem a OAB e que, mesmo com problemas que bacharéis-advogados tenham, funciona muito bem, principalmente em áreas desenvolvidas do país, os grandes centros urbanos.

O jornalista, formado ou não ? pois o que vale mesmo é o talento e o jeito pra coisa ?, estaria sujeito a esse conselho. Poderia ser advertido, punido, cassado, ter sua desfiliação e outras sanções mais. Tudo nos moldes da lei, com os hábeis direitos de defesa e mesmo com máxima transparência e democracia, claro.

Nesse caso, a bem dizer, poderiam avaliar comportamentos como o do Ferreira Neto (recentemente falecido) ? só para dar um circunstancial exemplo ? quando embolou o meio de campo numa falsa entrevista que montou com seu amigo Collor, ou quando, aqui e ali, o Estado de S.Paulo de forma leviana ataca o PT, generalizando de forma até mesmo estúpida. Ou mesmo quando a Folha de S.Paulo publica "artigos" de políticos do modus operandi "rouba mas faz", não contribuindo assim, nadica de nada, para o bom desempenho da função altamente esclarecedora e formadora de opinião e, claro, para o próprio exercício da transparência democrática nos meandros dos mais variados canais da mídia.

Parte da mídia tendenciosa e aética continuaria atrelada ? de forma até suspeita ? assim? Haveria esse nefasto e babaquara antipetismo? Testas-de-ferro da chamada grande imprensa seriam desmascarados? Sonhar pode, não é? Só tentando mudar para se avaliar erros de percurso e comportamentos maquiavélicos (hediondos) de parte da chamada grande imprensa comprometida com o poder, com a burguesia, a classe dominante e até mesmo agiotas do capital estrangeiro.

Fica a minha sugestão para os caros amigos, caros colegas, caros jornalistas. Se tudo a priori não passar de um sonho, pelo menos por ora vou batalhar por essa idéia em outras instâncias, até mesmo acionando amigos que, legislando pelo povo, ou pela verdade e cidadania, possam levar adiante essa sugestão bem-intencionada. Tudo vale a pena, como cantou o poeta. E quem for jornalista de boa índole e boa cepa que me siga.

(*) Poeta, professor