Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalistas como personagens

REPORTAGEM

Eles se arrastaram contra a maré de nova-iorquinos desesperados, foram cobertos por poeira enquanto edifícios despencavam em volta, choraram em frente às câmeras. Organizações noticiosas enviaram todos os repórteres disponíveis para descobrir qualquer pedaço de informação remanescente dos ataques terroristas. E, na opinião de Dana Calvo e David Shaw [The Los Angeles Times, 13/9/01], o apetite dos telespectadores mostrou-se insaciável.

Para Rose Arce, o objetivo era chegar ao local e permanecer lá. A produtora da CNN não pôde penetrar na multidão que corria esbaforida das torres em queda. Ela foi em direção às escadas de um prédio, espancando portas até que alguém que estivesse esvaziando a área dissesse que ela poderia usar o telefone. E assim foi, hora após hora. Organizações que primam pela racionalidade tiveram que acolher jornalistas assustados e emocionados com o desenrolar da tragédia. A logística também foi deixada de lado: a distância editorial revelou-se uma ilusão, e os repórteres descobriram-se personagens da própria história.

Dan Rather, Peter Jennings e Tom Brokaw ficaram no ar por mais de 15 horas seguidas. Meia dúzia de jornalistas chegou a sentir o cheiro da morte, e três técnicos da CBS News morreram. Durante a noite, uma fita de vídeo com a primeira colisão no WTC apareceu nos estúdios. Segundo David Bauder [The Associated Press, 13/9/01], a seqüência veio de um câmera que treinava filmagem para bombeiros numa rua próxima às torres. Quando ouviu um avião voando baixo, o câmera mirou suas lentes para o topo dos arranha-céus em tempo de pegar o impacto, de acordo com J.P. Pappis, editor da agência Gamma Press, que comprou a fita por preço não-divulgado.

A Gamma vendeu os direitos de reprodução à CNN e à Associated Press. Informa Paula Bernstein [Variety, 12/9/01] que as principais emissoras resolveram fazer um pool. Por sugestão de Don Hewitt, produtor-executivo do 60 Minutes, as principais redes de TV concordaram em dividir todas as imagens reunidas durante os ataques terroristas e no desenrolar do caso.

De todas as imagens chocantes, uma em especial tocou o correspondente Aaron Brown. Ancorando para a CNN por toda a terça-feira, Brown assistiu ao replay do primeiro avião explodindo no WTC no monitor centenas de vezes. "Faço isso há muito tempo, mas não tiro a imagem da cabeça", diz. "Tive medo de fechar os olhos. Fiquei enjoado. Finalmente, sentei em um quarto de hotel às 2h da manhã e chorei. Apenas chorei. Não gostei de estar sozinho naquele momento, com aquela história."

    
    
                     
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