Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalão contra a guerra no Iraque

THE NEW YORK TIMES

O New York Times está usando sua primeira página para mobilizar a oposição contra a ação americana no Iraque, acusam editores e colunistas dos jornais Wall Street Journal, Washington Post e Weekly Standard. A recente seqüência de manchetes contendo críticas à guerra ? “Especialistas alertam contra alto risco da invasão americana no Iraque”, em 1? de agosto, e “Apoiando Bush até o fim, mas não até o Iraque”, sobre entrevistas com o público, dois dias depois ? seria uma prova de que o jornalão está editorializando a cobertura noticiosa.

A gota d?água para os críticos foi, no entanto, a reportagem de capa publicada no último dia 16, “Lideranças republicanas rompem com Bush por estratégia do Iraque”, que inclui Henry Kissinger entre os que discordam do ataque planejado pelo governo. O problema, explica Howard Kurtz [Washington Post, 21/8/02], é que o ex-secretário de Estado americano já defendeu abertamente a necessidade de uma “ação preventiva” contra o Iraque num artigo recente do Post. O Times destacou algumas passagens do discurso de Kissinger ? como “a intervenção militar deve ser executada apenas se estivermos dispostos a sustentar este esforço pelo tempo que for necessário” ? sem registrar que o autor estava longe de rejeitá-la.

Bill Kristol, editor do Weekly Standard, diz que a maneira nada sutil como o Times está se posicionando contra a guerra nas matérias “surpreendeu a todos, inclusive pessoas como eu, que não reclamam muito da mídia noticiosa”. O colunista do Post Charles Krauthammer ataca: “Desde que William Randolph Hearst enviou um telegrama a seu correspondente em Cuba ? ?Forneça as imagens que eu forneço a guerra? ?, não temos um jornal que tenha dedicado tão ruidosamente sua primeira página a editorializar a esperada guerra americana quanto o New York Times de Howell Raines… Isto é jornalismo partidário, e é o que o Times de Raines faz para sobreviver. Outra coisa é incluir Henry Kissinger nesta cruzada. Isto é simplesmente estúpido”.

Opiniões contrárias

A página editorial do Wall Street Journal também criticou a menção a Kissinger e a forma como foi usado o artigo de Brent Scowcroft, publicado no Journal. Embora o antigo conselheiro de segurança nacional de Bush-pai se oponha à invasão americana, o Journal alega que o rival está “alardeando nossa matéria para promover um tema tendencioso”. “Não estamos fazendo campanha contra a cobertura que o Times faz do Iraque”, afirma Paul Gigot, editor da página. “Mas quando eles pegam algo nosso e transformam num assunto que parece incorreto, você é obrigado a dizer algo em resposta.”

É importante observar que o ombudsman do Washington Post, Michael Getler, escreveu em 18/8 (três dias antes da publicação da matéria de Kurtz, crítico de mídia do jornal) que o Post não tem dado espaço suficiente a opiniões contrárias às defendidas pelo governo em relação à invasão americana [veja resumo do artigo de Getler na seção Voz dos Ouvidores, nesta edição].