Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

José Paulo Lanyi

PRÊMIO ABERJE

“Crise na Aberje”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 1/12/03

“Esta é uma reportagem sem lead, pois, a par dos fatos, propõe-se a uma reflexão.

Em meados de outubro, a redação do Comunique-se no Rio de Janeiro recebeu uma denúncia. A fonte propunha uma reportagem sobre supostas irregularidades nos prêmios da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), a mais importante em seu segmento, com uma comunidade de cerca de 700 empresas e 35 mil associados em todo o País.

A afirmação: este ano, a Aberje divulgara os vencedores dos prêmios regionais São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e Centro-Oeste/Leste antes de compor uma comissão julgadora, como reza o regulamento. Todos os ganhadores teriam sido escolhidos pelo presidente-executivo e coordenador do prêmio, o jornalista Paulo Nassar.

Profissional de relevo na comunicação empresarial brasileira, Nassar é tido como um executivo que, ao longo dos anos, guindou a associação a um patamar de magnitude; dedicou-se integralmente ao projeto, desde os tempos da presidência de Miguel Jorge, no início da década de 90. Com os anos, a Aberje acabaria por consolidar-se, calcada em uma série de mudanças estruturais e conceituais, na esteira da nacionalização e do intercâmbio com especialistas de outros países.

Apesar da relevância da associação e de seu prêmio, hoje em sua 29a edição, o Comunique-se decidiu fazer o que se espera de um site jornalístico: apurar os fatos.

Denúncia interna

A acusação nascera no bojo da própria associação. No início de setembro, o jornalista Marcelo Lopes, editor da revista da Aberje, procurou o Conselho Deliberativo e acusou Nassar de ter escolhido sozinho os vencedores dos prêmios regionais São Paulo, Rio de Janeiro, Centro-Oeste/Leste e Nordeste. Jornalista respeitado por seus ex-colegas da Rádio Bandeirantes (onde foi repórter), Lopes diz que se recusou a atender a um pedido de Nassar para contatar fontes da revista e ajudar a compor um júri às pressas para referendar o que já fora concluído e divulgado.

De acordo com o editor de Comunicação Empresarial, a solicitação de Nassar teria sido feita depois de um telefonema determinado pela então gerente de comunicação corporativa do Grupo Sílvio Santos, Tânia Câmara Baitello, professora de Relações Públicas na Faculdade Cásper Líbero. Tânia queria informações sobre os critérios do prêmio e acerca do desempenho de um trabalho inscrito pelo Grupo Sílvio Santos.

A professora diz que uma assistente sua fora atendida por Marcelo Lopes, que lhe teria respondido que ?para qualquer informação sobre o assunto, que ela procurasse o Paulo Nassar?. Lopes diz que a resposta a Baitello foi dada sob sua orientação por meio de uma estagiária da Aberje. A executiva diz que tentou ?mais duas ou três vezes?, mas não houve resposta de Nassar. ?A ligação não tinha a ver com qualquer suspeita sobre esse assunto, jamais nos passaria pela cabeça?.

Conforme o editor, Nassar, preocupado, teria convocado um júri às pressas.

O coordenador do prêmio nega que tenha feito a escolha sozinho: os trabalhos dessas quatro regiões teriam sido analisados por uma comissão julgadora composta dele mesmo, da professora Ivone de Lourdes Oliveira (PUC-MG) e dos consultores Roberto de Castro Neves (Rio de Janeiro) e Eloi Zanetti (Paraná).

Como prevê o regulamento, os trabalhos vencedores dos seis prêmios regionais (também Sul e Minas Gerais) classificaram-se automaticamente para o Prêmio Aberje Brasil, entregue em São Paulo, depois da análise de uma comissão integrada por 21 profissionais.

Dos 22 ganhadores do prêmio nacional nas categorias analisadas por uma comissão julgadora externa, 18 são vencedores dos prêmios regionais São Paulo, Rio de Janeiro e Centro-Oeste/Leste. Os ganhadores das categorias Mídias do Ano em Comunicação Empresarial, Personalidade do Ano em Comunicação Empresarial e Empresa do Ano em Comunicação Empresarial foram escolhidos pelo Conselho da Aberje, como dita o regulamento.

Datas

Depois de um mês e meio de apuração diária – com análises de vários documentos e entrevistas reiteradas de parte a parte -, o Comunique-se concluiu pela ocorrência dos seguintes fatos, conforme a cronologia abaixo:

Agosto

– Desde o dia 21/08, há no mínimo dez registros públicos na Internet com os premiados das regiões São Paulo, Rio de Janeiro, Centro-Oeste/Leste e Nordeste- em sites de comunicação, como Comunique-se, Maxpress, Abracom e Aberje, e de diversas empresas vencedoras dos prêmios regionais São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e Centro-Oeste/Leste.

– O Prêmio Aberje Nordeste foi entregue no dia 21/08, em Salvador.

Setembro

03/09 – Deu-se o telefonema da então gerente de comunicação corporativa do Grupo Sílvio Santos, Tânia Câmara Baitello, para saber dos critérios do Prêmio São Paulo;

13/09 – A professora Ivone de Lourdes Oliveira passou o dia em São Paulo, com Paulo Nassar, na sede da Rua Dona Antônia de Queiroz (região central da cidade), onde estavam os trabalhos;

14/09 – Os consultores Castro Neves e Zanetti – este também responsável pelo regional Sul – estiveram com Nassar na sede da Antônia de Queiroz;

17/09 – Entrega do Prêmio Aberje São Paulo;

30/09 – Entrega do Prêmio Aberje Rio de Janeiro;

Outubro

02/10 – Entrega do Prêmio Centro-Oeste/Leste;

Novembro

11/11 – Entrega do Prêmio Aberje Brasil.

O denunciante

O editor Marcelo Lopes diz que apresentou a sua acusação ao presidente do Conselho Deliberativo da Aberje, Rodolfo Witzig Guttilla, em 06/09. Dois dias depois, teria feito o mesmo diante de Nassar e dos demais funcionários da Aberje. Em 10/09, teria informado o vice-presidente do Conselho Deliberativo, Renato Gasparetto Júnior, e pedido demissão, mas teria sido desaconselhado por Gasparetto. Este lhe teria solicitado que permanecesse à frente do último número da revista, trabalhando em casa. Dali em diante, Gasparetto seria o seu interlocutor para os assuntos da publicação. Diz Lopes: ?A promessa não foi cumprida quando, após vários e-mails e telefonemas meus, ele nunca respondeu às solicitações para o fechamento das matérias da revista?.

Lopes teria decidido fechar a revista na sede da associação. Em 21/10, a direção afastou-o, de forma remunerada, por 60 dias. Desde então, ele está proibido de entrar na sede da Avenida Angélica, região central de São Paulo.

Comunique-se procurou Gasparetto, que não se manifestou sobre o assunto. Nassar diz estar processando o editor nas áreas cível e criminal.

Contradições

Em entrevista gravada ao Comunique-se, Nassar disse que a comissão que analisou as regiões São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e Centro-Oeste/Leste reunira-se cerca de vinte dias antes da entrega do Prêmio São Paulo (17/09); em outro trecho, que a apreciação se dera duas semanas antes da cerimônia; por fim, que o grupo teria analisado os trabalhos das quatro regiões uma semana antes da festa de premiação de São Paulo.

A comissão julgadora reuniu-se em São Paulo, em 13/09 e 14/09, para analisar os trabalhos de São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e Centro-Oeste/Leste, e chegou aos mesmos resultados divulgados em agosto (Castro Neves e Zanetti, em entrevista ao Comunique-se, confirmam as datas).

Nassar afirmou, inicialmente, ter integrado a comissão que teria analisado as quatro regiões. O site da associação publicou as fotos do coordenador do prêmio e dos outros três profissionais para demonstrar o trabalho de análise dos trabalhos inscritos nessas regiões.

Zanetti assegurou não ter havido participação de Paulo Nassar no julgamento.

De acordo com outro julgador, Roberto de Castro Neves, a comissão não analisou todos os trabalhos. Nassar teria apresentado uma lista com todos os ?virtuais vencedores? das quatro regiões: ?Eu [Castro Neves] fui alertado pelo Paulo de que a escolha estava feita, nesse sentido: tinha categorias com dois, três vencedores. Foi muito nesse sentido de dizer assim: ?Olha, aqui, esta escolha, que você e o seu staff fez, faz sentido. Eu acho que, em alguns casos, eu poderia dizer: ?Teria votado neste aqui, mas se você argumentasse comigo, talvez me convencesse de que o A é melhor do que o B?.

Zanetti diz que a comissão avaliou todos os trabalhos inscritos. ?Eram duas salas cheias. Vamos dizer que trezentos trabalhos, mais ou menos? (a Aberje não informou o número de trabalhos inscritos).

Castro Neves diz que só se lembra de ter analisado os trabalhos de São Paulo. ?Eu não tenho bem certeza porque essas empresas são todas nacionais, mas eu tenho a impressão de que foi apenas no grupo São Paulo?.

Zanetti diz recordar-se, vagamente, de ter julgado o interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Centro-Oeste/Leste e Minas Gerais (na verdade, região analisada por outra comissão, em MG).

Apesar de, poucos minutos antes, ter afirmado que ele e os outros três especialistas analisaram São Paulo, Rio de Janeiro, Nordeste e Centro-Oeste/Leste, Nassar foi questionado e acabou reconhecendo: os trabalhos inscritos no Prêmio Nordeste não passaram pelas mãos de uma comissão julgadora. ?Nordeste, não. O prêmio é muito pequeno. Eu e todo o Conselho da Aberje somos responsáveis pelo julgamento dessa região?. O presidente do Conselho Deliberativo,Rodolfo Guttilla, diz que essa é uma atribuição de Nassar.

Regulamento

O regulamento do Prêmio determina a composição de comissões julgadoras para a análise dos trabalhos de todas as regiões:

Todos os trabalhos passarão por uma seleção prévia, feita pela Secretaria Especial do Prêmio ABERJE 2003. Categorias que tenham menos de quatro trabalhos inscritos, de empresas diferentes [negrito do regulamento], não serão consideradas para efeito de julgamento. Trabalhos que não estejam rigorosamente de acordo com as definições apresentadas neste regulamento serão desclassificados já na seleção prévia. Após a verificação técnica dos itens solicitados, os trabalhos serão julgados por Comissões Julgadoras indicadas pelas Diretorias Regionais e ratificadas pela Diretoria da ABERJE Nacional. A escolha dos jurados levará em conta a especialização e a notoriedade de cada jurado em sua área. Os Prêmios ABERJE 2003 – Regional e Brasil – serão concedidos, em cada categoria, aos trabalhos que obtiverem a maior média de pontos depois de computadas as notas individuais de cada jurado, podendo ocorrer a hipótese de empate.

Nassar diz que todos os trabalhos, vencedores ou não, receberam nota, conforme o regulamento. ?Não foi dado nota – diz Zanetti – foi um consenso, senão você fica dias fazendo isso. É claro quando um trabalho é bom e quando um trabalho é ruim?.

A professora Ivone de Lourdes Oliveira foi procurada pelo Comunique-se, mas não se pronunciou sobre o caso.

O presidente-executivo da Aberje diz que a apresentação dos vencedores em agosto, antes da análise de uma comissão julgadora, foi conseqüência de uma divulgação inadvertida de uma lista de indicados. ?Naquele momento eu estava doente – fiz uma pequena operação no olho -, estava com uma sobrecarga dos inúmeros cursos que eu dou, que coincidiram, e estava no processo da greve da Cásper Líbero [onde era professor], chato, complicado, praticamente pegou o mês todo de agosto?.

O rol dos vencedores na Internet em agosto seria apenas uma série de indicações suas aos demais membros da comissão julgadora (Oliveira, Zanetti e Castro Neves), que estavam em seus próprios estados. ?Eles não tiveram acesso aos trabalhos, mas já tinham conhecimento do que iriam julgar, até porque são pessoas que já participaram de vários anos de julgamento de trabalhos, eles não são novatos na questão?.

Zanetti e Castro Neves dizem não ter conversado com Nassar sobre os trabalhos inscritos, antes da reunião de 14/09 em São Paulo.

Artigo de defesa

Após conceder duas entrevistas para esta reportagem, a primeira realizada quinze dias antes, Nassar publicou na terça-feira (25/11), no site da Aberje – em uma seção dedicada a opiniões -, e no Observatório da Imprensa, o seu artigo intitulado ?O Ovo e o Prêmio Aberje 2003?, em que reconheceu a divulgação dos vencedores de três regiões (São Paulo, Centro-Oeste/Leste e Rio de Janeiro), ?antes da conclusão do processo de julgamento?.

Lê-se em um trecho: ?Ainda na fase de seleção, responsabilidade do coordenador do prêmio e sua equipe, foi divulgada precipitadamente no site da entidade a potencial relação de premiados. O que acabou provocando comemorações, justas e merecidas, mas antes da hora. O vazamento inadvertido poderia gerar suspeita e maledicência sobre o julgamento. Para que não pairasse nenhuma sombra, os Conselhos da entidade foram envolvidos, assim como sua área jurídica. A comissão julgadora foi avisada e teve garantido o seu poder de decisão, soberano, de validar ou invalidar os nomes já divulgados. Assim foi. E o prêmio voltou ao seu curso normal, a informação lisa e transparente foi assegurada a todos os envolvidos, assim como a franquia de acesso a todas as peças concorrentes, notas e pareceres produzidos no processo?.

Desde que os vencedores foram anunciados, em agosto, foi a primeira vez que Nassar publicou esclarecimentos sobre supostos erros no processo de julgamento dos prêmios. O texto não faz referência à entrega do Prêmio Nordeste sem a apreciação de uma comissão julgadora.

Em 10/11, os Conselhos Deliberativo e Fiscal e os diretores regionais da Aberje refutaram, em uma nota aos associados, as acusações contra Nassar e informaram a contratação de ?uma auditoria externa [Trevisan & Associados] independente para dirimir quaisquer dúvidas quanto à lisura da atual administração?.

O presidente do Conselho Deliberativo, Rodolfo Guttilla, explicou o afastamento de Marcelo Lopes. O editor não teria apresentado provas contra o coordenador do prêmio. ?O conselho se reuniu e concluiu que não houve desvio de conduta, mas um erro de um processo que foi corrigido no momento em que foi identificado?.

Lopes questiona a contratação de uma auditoria paralela ao afastamento do denunciante e à manutenção do denunciado em seu cargo. Ele diz que também deveria acompanhar e dar subsídios às investigações. ?Se eu sou uma pessoa que acompanhou o desenrolar cronológico desses fatos, eu teria condições de provar o desvirtuamento na escolha dos trabalhos vencedores?.

De acordo com Guttilla, a auditoria deverá apresentar o seu primeiro relatório até o fim de dezembro.

Ao optar pela publicação desta reportagem, o Comunique-se teve de enfrentar uma girândola de questionamentos. O mais comum: ao longo da investigação, houve, por diversas vezes, quem abraçasse o argumento de que o artigo comprometeria a história de 36 anos da Aberje e a comunicação empresarial brasileira; seria, portanto, danoso ao mercado jornalístico. Discordamos.

Não poderíamos sacrificar o dever deste veículo: conduzir o leitor à sua própria realidade, com todos os fatos e suas implicações. Profissionais bem-informados podem corrigir o leito e podar os excessos; devem, pois, acolher a verdade, por mais grave que a crise se apresente.

Em meio a esta reportagem, Nassar tentou esclarecer o fato em seu artigo ?O Ovo e o Prêmio Aberje 2003?. Optou por confinar uma decisão de conseqüências severas em ?um problema de gestão, cotidiano nas empresas, que gerou algum rumor, boato e fofoca, que poderia ter virado uma crise, mas que virou um bom caso de Comunicação Organizacional?.

Assim é. O Comunique-se traz à luz uma sucessão de fatos cuja divulgação deverá levar ao aperfeiçoamento do processo de premiação da Aberje. É o que todo o mercado jornalístico espera. O prêmio não só estimula os profissionais, em busca da excelência, como encoraja os investimentos nas equipes de comunicação das empresas, o que não raro se traduz em empregos e novas oportunidades institucionais.

Eis uma ocasião crucial para a aplicação de todo o arcabouço teórico, de toda a experiência acumulada em gestão de crises. A verdade, a assunção pública da real amplitude dos erros beneficiará a associação, o seu prêmio e a totalidade do mercado de comunicação do País.”

 

MÍDIA E INFÂNCIA

“Estudo analisa cobertura da mídia sobre infância e adolescência na Ibero-América”, copyright Comunique-se (www.gife.org.br/redegifeonline), 1/12/03

“No último dia 20 de novembro, em Lima (Peru), aconteceu a cerimônia de entrega da terceira edição dos Prêmios Ibero-Americanos de Comunicação pelos Direitos da Infância e Adolescência, organizados pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pela agência de notícias espanhola EFE. Durante as atividades que antecederam o evento, foi lançada a pesquisa A Infância e a Adolescência nos Meios de Comunicação Ibero-Americanos.

O estudo foi feito com base nos 931 trabalhos inscritos na premiação anterior e apresenta um panorama sobre a cobertura da mídia com relação aos direitos de crianças e adolescentes na Ibero-América. Um dos avanços registrados foi o aumento das denúncias sobre as condições de vida desta parcela da população, da abordagem sobre a implementação de políticas públicas e dos alertas sobre eventuais omissões das autoridades responsáveis.

Além disso, também é demonstrado que algumas questões fundamentais deveriam ter mais atenção por parte dos comunicadores da região. Entre elas, as condições e oportunidades para crianças de até seis anos de idade e a questão da etnia. O estudo está disponível nos sites www.unicef.org.br e www.andi.org.br.”

 

FANTÁSTICO

“Astério diz que facção criminosa pode estar por trás das filmagens”, copyright O Globo, 8/12/03

“O secretário de Administração Penitenciária do Rio, Astério Pereira dos Santos, disse nesta segunda-feira que uma facção criminosa do estado poderia estar por trás das imagens mostradas nesse domingo pelo Fantástico sobre o uso livre de drogas, celulares e rádio transmissores em Bangu 4. Segundo ele, as cenas foram feitas por alguém interessado em desestabilizar a direção do presídio de Bangu 4 e sua secretaria.

Lembrando que as imagens não foram feitas pela produção do programa, Astério disse que seria desnecessário tamanha baderna para a venda de drogas já que ala mostrada comporta apenas 64 presos.

– Existe a droga, só não é nesse nível que ali está. Para 64 pessoas, não precisaria disso – disse.

– Quero deixar patente também que há interesses dos presos de uma facção criminosa aqui do Rio de Janeiro em desestabilizar a direção da major que lá está e também, provavelmente, este secretário – afirmou.

Astério negou que a direção do presídio soubesse das irregularidades. Além disso, o secretário reconheceu que não conseguirá solucionar o problema neste mandato.

– Não haveria necessidade daquela camelotagem, daquela feira livre. Naquele espaço não haveria necessidade de fazer aquela oferta, aquela feira livre. O programa recebeu a fita, há pelo menos 45 dias, e de uma pessoa que tem interesse em derrubar a direção da penitenciária.

Apesar disso, ele admitiu que há fragilidade no setor de revista e uso de drogas no cárcere. Ele disse que os bloqueadores de celulares estão funcionando e assegurou que a fita é anterior a 18 de setembro, quando foram instalados bloqueadores.

A reportagem mostra que os presos de Bangu IV fazem tráfico de drogas e utilizam telefones e radiotransmissores, com a conivência de um agente penitenciário. Traficantes aparecem vendendo cigarros de maconha e sacolés de cocaína. Quando um agente penitenciário chega, o bandido tranqüiliza: ?Tá arregado?. Na gíria da cadeia, isso significa que o agente foi subornado.

Há três meses, detentos foram flagrados com maconha no pátio de Vicente Piragibe, uma das 14 cadeias do complexo. Duas empresas de telefonia celular desligaram as antenas próximas ao Complexo de Bangu neste final de semana. Astério disse que foi determinada a abertura de inquérito administrativo e de inquérito criminal. E que o agente penitenciário que aparece na reportagem foi afastado.”