Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Keila Jimenez

MULHERES APAIXONADAS

“Novela multiplica venda de livros”, copyright O Estado de S. Paulo, 14/09/03

“Uma mulher lutando contra o câncer de mama, alguém que sofre com um amor doentio, um casal de jovens lésbicas conhecendo o amor e lutando contra o preconceito. Enredo da novela das 8? Também. As polêmicas levantadas por Manoel Carlos em Mulheres Apaixonadas estão rendendo mais frutos do que merchandising e audiência. São pesquisas, peças de teatro e, principalmente, livros.

Tentando embarcar no sucesso da novela, são muitos os lançamentos e os relançamentos que tratam de temas fortes da trama como: alcoolismo, câncer, violência contra a mulher, homossexualismo e ciúmes, entre outros. Um dos primeiros a perceber que a trama da Globo daria um bom empurrão no mercado editorial brasileiro foi o Grupo Siciliano. Sabendo que Manoel Carlos traria na novela a história de uma mulher que ama enlouquecidamente seu marido – Heloísa, vivida por Giulia Gam -, a editora tratou de lançar uma edição especial do livro Mulheres que Amam Demais.

A obra, da terapeuta Robin Norwood (1995), que costumava vender 300 exemplares/mês, passou a vender 2 mil exemplares/mês depois da estréia da novela. Em suas páginas, uma análise da terapeuta sobre a face destrutiva do amor, a obsessão pelo outro. ?O livro já chegou à casa dos 80 mil exemplares vendidos?, fala a gerente comercial de vendas do Grupo Siciliano, Eliete Cotrim. ?Além de livros, o drama de Heloísa está ajudando a abrir novos grupos de Mulheres Que Amam Demais Anônimas (Mada), pelo País. São deles as maiores encomendas de livros sobre o assunto que recebemos.?

Segundo Eliete, o câncer de mama, drama de Hilda (Maria Padilha) no folhetim, também está pautando o mercado. ?Nós mesmos tiramos da gaveta este ano um título antigo sobre o assunto?, conta ela, referindo-se ao livro Câncer, Direito e Cidadania, de Antonieta Barbosa. A publicação traz o depoimento da autora sobre a doença e sua relação com familiares, além de direitos e benefícios aos quais as vítimas têm direito. ?É incrível como a TV pode ajudar a vender livros. Basta um ator de novela citar uma obra para no outro dia já sentirmos a diferença. Quando um livro vira minissérie então, a obra é ressuscitada nas livrarias.?

Foi assim com Memorial de Maria Moura. A obra de 1985 de Raquel de Queiroz vendia 1 mil exemplares/mês até 1994, ano em que pulou para 12 mil/mês , por causa da TV.

Casos reais – Durante quase um ano a jornalista Viviane Pereira levantou histórias reais de pessoas que enfrentaram grandes traumas e encontraram forças para continuar. Reuniu casos como o de uma mulher que luta contra o câncer de mama, como Hilda na trama, e o de um alcoólatra que quase perdeu tudo por causa do vício, caso parecido com o drama de Santana (Vera Holtz), na ficção. Tamanha coincidência com o enredo de Mulheres Apaixonadas era o que faltava para impulsionar o lançamento de Heróis da Vida Real, livro da editora Celebris que chegou às livrarias em junho. ?As pessoas que sabiam do livro começaram a me falar dos casos da novela e percebi que era a hora certa para lançá-lo?, conta Viviane.

Manoel Carlos também abasteceu o trabalho da escritora/cantora Vange Leonel.

Feliz com o sucesso do casal gay, Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli), Vange pretende lançar no próximo mês um romance sobre um casal de jovens lésbicas: Baladas para Meninas Perdidas, da editora Summus. ?Pela primeira vez um veículo de massa leva o lesbianismo de forma didática a milhões de lares, mostrando todo o preconceito no colégio, na família, a raiz do problema?, fala Vange. ?Essa aceitação do público ajuda muito quem sempre falou sobre o assunto, como eu?, continua. ?É uma via de mão dupla.

Antes de o Maneco compor as personagens, mandei muito material meu sobre o assunto para ele. Agora, a trama dele abre portas para os livros sobre o tema. É muito bom esse intercâmbio.?

O mesmo intercâmbio o autor fez com a escritora Rita Ruschel. Ela conta que Manoel Carlos se inspirou muito em seu livro Rita, Ritinha – Aprendendo a Amar, para criar algumas das principais tensões da trama. ?A Heloísa foi inspirada em relatos do meu livro. O caso da mulher que procura um amante, no caso um taxista, também faz parte da minha obra?, conta ela. ?Depois do lançamento da novela, o livro ganhou novas edições e aumentou muito sua vendagem. É só falar no nome Mulheres Apaixonadas para o público se interessar.?

Empolgada com esse ?casamento? novela/literatura, Rita já pensa em outro:

novela/teatro. ?Manoel Carlo me pediu para escrever um monólogo sobre mulheres que amam demais, uma outra Heloísa, para Giulia Gam analisar, e, quem sabe, viver no teatro.? Esse parece ser só começo de outras tantas Helenas, Hildas e Heloísas que virão por ai.”

“TV e armas”, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/03

“?Tive a infelicidade de ver um capítulo da novela ?Mulheres Apaixonadas? em que uma professora ensinava aos alunos a importância do desarmamento e exortava os congressistas a votarem a favor dessa causa. Agora a Rede Globo apóia explicitamente os projetos do governo e determina as leis que o Congresso deve votar. Não espero do Congresso, que já mostrou extraordinária submissão na votação das reformas previdenciária e tributária, outra atitude que não o agachamento diante de tamanho poder. Vai passar esse projeto cínico e absurdo de desarmar quem respeita as leis, porque é da vontade do senhor Manoel Carlos, escritor de melodramas alçado a educador e legislador. E também porque aquela emissora não tem um departamento de ética capaz de conter as indevidas incursões desse ?intelectual? em assuntos políticos controvertidos, que precisam ser serenamente analisados pelo Poder competente.? Milena Cardoso Costa (Porto Alegre, RS)”

 

MAINARDI NA TV

“Mainardi substitui Jabor no ?Manhattan?”, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/03

“A partir de 5 de outubro, o colunista de ?Veja? Diogo Mainardi, 41, campeão de cartas da revista, substituirá o cineasta e articulista Arnaldo Jabor no ?mesa-redonda? ?Manhattan Connection?, do GNT (Net/Sky), o programa mais antigo da TV paga brasileira.

Será a estréia de Mainardi, jornalista e escritor, na TV. Para tanto, ele trocará Veneza, onde mora há 15 anos, pelo Rio. Com a missão de ?polemizar?, está apreensivo. ?Meu sarcasmo leva um certo tempo para carburar?, diz. A quem não o conhece, uma pílula: ?Para mim, o governo Lula é o melhor possível. Rende uma enorme quantidade de material ridículo. Me divirto toda semana?.”

 

MENINO MALUQUINHO NA TV

“?Menino Maluquinho? vira série de TV”, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/03

“Os bons tempos da programação infantil nas TVs públicas podem voltar. A TVE Rede Brasil, do Rio, fechou uma parceria com o Ministério da Cultura para a produção de um seriado baseado no livro ?O Menino Maluquinho?, de Ziraldo. O edital deve ser publicado nesta semana.

A parceria prevê o repasse à emissora de R$ 2 milhões -metade em 2003 e o restante no ano que vem-, o que já assegurou a produção de pelo menos 26 episódios do seriado, com 30 minutos cada um, segundo Beth Carmona, presidente da TVE.

?Sempre consideramos a faixa infanto-juvenil estratégica para a proposta de reformulação do canal, de tornar os produtos da TVE fortes, e já mostramos a força desse gênero na TV Cultura, com ?Castelo Rá-Tim-Bum??, afirma Carmona, ex-diretora da Cultura (SP), nos áureos tempos em que o programa infantil chegou a assustar até a TV Globo com seus altos índices de audiência.

Em 23 anos, o livro de Ziraldo já vendeu mais de 2 milhões de exemplares, foi transformado em filme e em outubro estréia como ópera em Juiz de Fora (MG).

?É um personagem que todo mundo conhece, tem uma identificação muito grande com o público infantil. O que nos dá grandes possibilidades de exportar esse produto para os países da América Latina?, diz Carmona.

O cartunista Ziraldo ficou sabendo pela reportagem da Folha da confirmação da parceria para a realização da série. ?Está confirmado? Legal, legal! Esperei 23 anos por isso, sempre soube que o ?Menino Maluquinho? iria acabar na TV?, afirmou. ?E fico feliz que tenha partido da TVE, e não de mim, a idéia para a série. Ainda não comecei a escrever os episódios, mas já tenho umas 300 histórias na cabeça?, diz Ziraldo.

Novos projetos

Além do seriado, o canal também está investindo no projeto ?Curta Criança?, que pretende incentivar a produção de curtas-metragens com temática infanto-juvenil. ?O canal tem se aproximado e dado bastante espaço ao cinema na sua programação. Com o ?Curta-Criança?, abriremos um concurso para a produção de 20 curtas voltados para a faixa infantil?, explica Rosa Crescente, diretora na TVE.

O tema dos curtas deve ser inspirado em histórias e personagens do folclore brasileiro. Também dentro dos investimentos em cinema, o canal pretende abrir uma faixa horária para a produção de animações nacionais.

Dos novos projetos, o único que já está em produção é a série ?Carta ao Povo Brasileiro?, baseada na obra de Candido Portinari (1903-62). O projeto fará parte das comemorações oficiais dos cem anos do pintor.

Serão cinco documentários, cada um com enfoque em um diferente aspecto da obra do artista -sua infância, sua cidade natal e a influência desses elementos na sua obra, os trabalhadores, a terra, o povo brasileiro e a paz. ?Vamos mostrar ainda textos de Portinari e faremos um cruzamento com correspondências, como as cartas que trocou com Graciliano Ramos?, explica Rosa Crescente. A série deve ir ao ar em dezembro.”

 

POPSTARS

“?Popstars? traz inusitada conclusão de que audiência não é tudo na TV”, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/03

“A direção de ?Popstars? (SBT), ?reality show? que fabrica bandas teens, chegou a uma conclusão completamente inusitada na televisão: audiência não é essencial.

A segunda versão do programa, que irá formar um grupo de garotos, entrará na fase final a partir desta semana e tem registrado médias de 12 pontos no Ibope. É menos do que desejava a emissora, e está longe de ser um fenômeno de repercussão. Mas tudo bem: isso não impede que a ?boyband? fabricada se transforme num ?boom? de consumo teen.

Quando a primeira edição de ?Popstars? chegou ao final, em setembro de 2002, considerava-se que havia sido um desastre, principalmente em comparação à repercussão e ao ibope de ?Fama?, da Globo, outra ?fábrica de novos talentos? -exibida no mesmo período e dia da semana.

A Sony Music, parceira do programa do SBT, estava desolada: ?Quando o programa terminou, só duas pessoas na gravadora ainda acreditavam no projeto. Tinha de colocar as fitas com os capítulos gravados porque até lá dentro tinha gente que não assistia?, afirma o vice-presidente artístico e de marketing, Alexandre Schiavo.

Mas a redenção veio justamente depois de ?Popstars? sair do ar: batizado de Rouge, o grupo de garotas ?nascido? no ?reality show? acabou se transformando num dos maiores fenômenos de venda de CDs dos últimos anos.

Em crise, o mercado fonográfico respirou aliviado: com cara de Spice Girls tupiniquins, as meninas venderam um milhão de discos em quatro meses com o hit ?Ragatanga?, o melhor resultado de 2002, de acordo com a Sony Music. O segundo CD, recém-lançado, já está em 200 mil cópias.

Com isso, ?Popstars 2? não preocupa mais seus investidores, apesar do ibope semelhante ao da primeira versão: ?A audiência pode não ser um estouro, mas, se a banda estourar, o programa alcançou o sucesso?, disse Elisabetta Zenatti, diretora-geral da RGB Entertainment, produtora que detém os direitos do programa.

Aproveitando a onda Rouge, a RGB, que também empresaria o grupo, lançou DVD e VHS, com shows do grupo e o ?melhor de ?Popstars??. Foram vendidas, respectivamente, 50 mil e 18,5 mil cópias, resultado expressivo. ?Numa pesquisa, descobrimos que os compradores se interessaram muito mais pelos trechos do programa do que pelos shows. Como não haviam assistido ao programa, queriam saber de onde as meninas surgiram. Foi um processo invertido: primeiro se interessaram pelo grupo, depois pelo ?reality show??, afirmou Zenatti.

Outra surpresa para a cúpula de ?Popstars? foi o fato de o grupo estourar sem ter participado de programas da Globo. Ironicamente, ?Fama? seguiu trajetória oposta à do ?reality? do SBT: teve desempenho melhor no ibope, repercussão, mas, nas lojas, nunca foi ?campeão de audiência?.”

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“?Reality? mostra a terceirização da programação”, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/03

“Orçado em R$ 6 milhões, o programa ?Popstars? é uma prova de que a TV aberta ruma para a terceirização de sua programação. A segunda versão do ?reality show? está sendo produzida pela RGB, 100% fora do SBT, sem profissionais da emissora.

Consolidada na Europa e nos EUA, a produção independente no Brasil era restrita à TV fechada e começa a ganhar a simpatia das emissoras abertas.

No SBT, o programa de Marília Gabriela também é independente, assim como a série ?Turma do Gueto?, da Record, o ?Oi Brasil?, da Bandeirantes, entre outros.

Elisabetta Zenatti, diretora-geral da RGB, já trabalhou nas principais produtoras da Alemanha, Itália, França e Holanda (como a Endemol, criadora do ?Big Brother?). Ela diz que a TV brasileira é uma das últimas a se abrir à terceirização. ?Isso se deve à Globo, que concentra a produção. Mas, com a crise, as TVs perceberam que pode ser vantajoso comprar os programas.?”