Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Lady Di é só um produto velho na prateleira das notícias



Quanto mais o tempo passa e o tempo voa (com até a poupança voltando a ser uma coisa boa), o acidente da princesa continua rico em metáforas sobre a relação hipócrita entre “leitores ávidos de fofocas” e “jornais sérios que fingem não alimentar tal sede”.

Os paparazzi foram crucificados. Mas nenhuma culpa formal conseguiu provar algum envolvimento decisivo dos fotógrafos na caçada fatal.

Os jornais ditos sensacionalistas ingleses foram queimados em praça pública. Mas a tiragem dobrou e chegou a triplicar sob a menor ameaça de uma edição com “fotos exclusivas contando tudo sobre a morte da princesa”.

Enfim, agora, o segurança, único sobrevivente, única testemunha de tantas versões e projeções especulativas, recobrou a memória parcialmente e já está em condições de falar sobre os últimos momentos. Resultado: nós é que esquecemos. É a turma do “deixa pra lá que isso já encheu”. E saturou por nossa própria manipulação. É a mesma hipocrisia das campanhas de desarmamento que “mobilizam” a comunidade mas não se refletem nas programações, pautas e conteúdos (até anúncios) dos veículos. A base da credibilidade é o testemunho. Que o digam os primeiros cristãos que assimilaram um império só pela luta de opinião e práticas.

Se estamos repletos do “produto Diana” é porque as prateleiras da noticia assim quiseram e assim fizeram. Conseguir do segurança um detalhamento do caso não só nos daria uma peça definitiva para compor um quebra-cabeças policial, mas, quem sabe, teríamos enfim o fato. Acontece que a mídia se enche sempre de arrogância ao se autoproclamar “satisfeita”. Acredita ter tratado com tamanha “profundidade'” as versões que seda a tarefa do raro zelo profissional para voltar ao tema e assumir um gigantesco “erramos” (ou não).

No capítulo das infografias, esta nova febre que é tratada em muitos jornais como calhau de luxo, recolhi ao menos quatro excelentes trabalhos com a ótica “definitiva” do acidente, porém as quatro versões são antagônicas. Como o leitor não tem tempo nem dinheiro para comprar e ler diversos jornais, seríamos obrigados a visitar sempre um tema “esgotado” para nos aproximar da verdade.

Quando ele não lembrava, nós o queríamos. Quando ele começa a lembrar, nós o esquecemos. É uma trágica metáfora sobre a mídia que só se mobiliza enquanto dura um show. Vide a Campanha da Fome. Está mais fácil erradicar o que já construímos tão arduamente na cidadania. Enfim, se até o presidente desempacota, poderíamos voltar sempre e revelar novos lados para não perdermos o boeing da história, pois o trem já partiu faz tempo. Aliás o pacote é o mesmo. Só mudou o embrulho!!!