Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Laura Mattos

O CLONE

"?O Clone? bate recorde em pleno terremoto", copyright Folha de S. Paulo, 26/12/01

"A crise na audiência que veio à tona na Globo com o fenômeno ?Casa dos Artistas? (SBT) teria ganhado ares de tragédia mexicana não fosse um fato: a novela ?O Clone? não só se manteve intacta ao terremoto Silvio Santos como tem batido recordes no Ibope.

Vital para a emissora, a trama das oito empatou este mês com ?Laços de Família?, rainha da repercussão, com 42 pontos de média (cada ponto equivale a 44 mil domicílios na Grande SP). No auge do ?reality show? do SBT, alcançou média de 59% da audiência, ultrapassando ?Porto dos Milagres? (58%) e ?Laços? (57%).

Enquanto a novela das sete, a ?moderninha? ?As Filhas da Mãe?, será tirada do ar antes da hora pelos baixos resultados no Ibope, ?O Clone?, com o açucarado romance entre Jade e Lucas, reforça a idéia da Globo de manter no ar o melodrama e se afastar de qualquer experimentalismo.

A autora, Glória Perez, 53, acha que ?folhetim é folhetim?. Diz, ?sem vergonha?, que sempre é preciso criar uma história mirabolante, até ?sensacionalista?, para chamar o telespectador a ver a novela no dia seguinte. Não se preocupa com as críticas que tem recebido de cientistas pela abordagem que faz da clonagem e diz ter certeza de que já existem clones humanos secretos. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu à Folha.

Folha – Em um momento em que a Globo passa por dificuldades financeiras e se abate com problemas de audiência, ?O Clone? tem batido recordes. Não foi abalada nem por ?Casa dos Artistas?. Por quê?

Glória Perez – ?Casa dos Artistas? tem perfil semanal. Todos os dias, o público enjoa. No começo, tinha mais audiência durante a semana. Depois, as pessoas foram se cansando e deixando para ver, em massa, aos domingos.

Folha – Por isso a novela resistiu?

Glória – Sempre haverá espaço para uma boa história. É claro que o show de realidade é interessante. Vivemos num mundo muito massificado e as pessoas buscam reafirmar a individualidade. Mas sempre haverá espaço para as histórias de ficção, porque elas também são a realidade. Eu sempre procurei trazer a realidade para a novela, porque verifiquei que a onda estava vindo por esse lado.

Folha – Essa mistura, em seu limite, não é um caminho à teledramaturgia? Uma ?reality novela? não seria um teste interessante?

Glória – Não seria novo. Se não me engano, Bráulio Pedroso (autor de ?Beto Rockefeller?, novela com linguagem revolucionária da Tupi, em 1968) tentou essa linguagem. Houve uma novela em que ele colocava as pessoas numa situação e deixava correr tudo sem script. Não deu certo.

Folha – Acha que a audiência de ?O Clone? também tem a ver com o interesse no islamismo despertado pela guerra no Afeganistão?

Glória – Não sei dizer. Mas acho que esse universo sempre atraiu muito, sempre teve magia. O ?mundo das arábias? faz parte do imaginário popular. Mas a decisão não tem a ver com isso. A clonagem, que seria um passo para o homem tomar o lugar de Deus, coloca em conflito o Ocidente com a cultura islâmica. Falar dos muçulmanos foi consequência de escolher a clonagem como tema.

Folha – Para escrever as tramas, sempre conta com pesquisadores e às vezes acaba sendo criticada por eles. A maneira como retrata a clonagem, por exemplo, tem sido questionada por cientistas.

Glória – É óbvio que era muito complicado um clone dar certo na primeira tentativa, como aconteceu na história. Mas, na novela, tudo bem. A obra de ficção não precisa de detalhes técnicos. Ninguém questiona ?Frankenstein?, porque isso não importa para a dramaturgia. A novela não tem de ensinar como se faz um clone. O que quero é que as pessoas pensem sobre o assunto.

Folha – E as críticas dos xeques?

Glória – A gente briga muito, mas fica de bem em seguida. Foi difícil chegar a um entendimento, mas chegamos. A religião é uma coisa complexa. Na novela, tenho de me basear mais nos costumes. Não posso me tornar uma especialista no Alcorão em dois meses.

Folha – É necessário sacrificar a pesquisa em alguns momentos?

Glória – Já pensou que chato seria se o cientista passasse a novela toda tentando fazer um clone?! Não quero discutir biologia.

Folha – Alguns cientistas criticam o fato de o clone ser saudável.

Glória – Isso é muito discutível e só vamos saber daqui a alguns anos. É claro que já existem clones humanos, mas só vão mostrá-los quando chegarem a uma determinada idade. Imagine o peso que cai contra o cientista se ele tiver alguma doença.

Folha – A passagem do tempo em ?O Clone? é outro alvo de críticas. Murilo Benício interpretará Lucas, com uns 40 anos, e seu clone, com uns 20. E a Vera Fischer também não mudou com o passar dos anos.

Glória – Acho a passagem do tempo em ?O Clone? a coisa mais realista do mundo. Hoje temos muitos recursos e as pessoas se cuidam mais. Tem plástica, silicone. Veja a Vera Fischer 20 anos atrás e me diga se ela está mais bonita agora ou naquela época.

Folha – No ?remake? de ?Pecado Capital? (98), escrito pela senhora, Vera Fischer entrou no meio da história para recuperar o ibope e…

Glória – Não foi isso. Mas não queria falar sobre esse assunto.

Folha – OK. Tiramos a Vera e continuo a pergunta, mesmo porque esse recurso, de mudar o elenco para subir a audiência, foi recentemente usado em ?A Padroeira? e…

Glória – Não, não. Não teve nada disso a entrada da Vera em ?Pecado Capital?. Teve a ver com coisas que eu não gostaria de tocar.

Folha – Tiramos a Vera…

Glória – Pode tirar essa pergunta da Vera. Não poderia te dizer isso.

Folha – A Vera está fora. Queria saber quanto do elenco é definido pelo autor, pela direção da novela e pela Globo. Há atores que só trabalham com um autor. O Eri Johnson, por exemplo, sempre é escalado para suas tramas. Por quê?

Glória – A definição do elenco é um acordo entre todos. O Eri sempre está em minhas novelas porque ele interpreta muito bem certos tipos que gosto de mostrar.

Folha – Quando ?De Corpo e Alma? (92) estava no ar, o SBT fez uma anúncio dizendo que a trama era mexicanizada. Concorda quando é chamada de melodramática?

Glória – Todo folhetim é melodrama, e novela é folhetim por definição. A diferença é fazer novela com vergonha e sem vergonha. Autor de novela que diz que não faz folhetim está mentindo. Quando damos ganchos no fim de um capítulo para chamar para o próximo, sabemos que podemos não estar sendo coerentes, mas o sensacionalismo é parte da técnica. Mas a novela mexicana é muito diferente da brasileira. Não tem psicologia, só trama.

Folha – ?As Filhas da Mãe? tentou uma nova linguagem e não deu certo no Ibope. ?O Clone?, folhetim assumido, é recorde de audiência. Isso prova que o público não quer nada além do melodrama?

Glória – Não consegui assistir a nenhum capítulo de ?As Filhas da Mãe?. É possível enfeitar uma novela de milhares de maneiras, mas a estrutura do folhetim é uma só. Se mexer na estrutura, dançou.

Folha – Como consegue criar 36 páginas por dia da novela e ainda estar completamente ligada ao processo de Guilherme de Pádua? Glória – É muito difícil estar tão concentrada na realidade e na fantasia ao mesmo tempo. Mas tenho de enfrentar. Em toda a minha vida, desde a morte da Dani [a atriz Daniella Perez, filha de Glória, assassinada em 92?, tenho um olho para o mundo e outro para esse processo. É um horror, é angustiante, é apavorante, mas aos poucos a gente aprende a se equilibrar, a dividir o tempo.

Folha – Agora é para noveleiros: o clone terá um ?affair? com Jade?

Glória – Vamos supor que você, aos 20 anos, conheça um homem maravilhoso, viva um romance maravilhoso. Mas não se case com ele e não consiga ser feliz com nenhum outro homem. Até que, 20, 25 anos depois, se reencontra com o príncipe. Só que ele engordou, ficou um pouco careca, está chato à beça. Aí aparece o clone, que não é ele, mas é a figura que você amou durante toda a sua vida. Vai dizer que não balança?"

ROBERTO CARLOS

"Globo pirateia MTV no especial natalino de Roberto Carlos", copyright Folha de S. Paulo, 26/12/01

"O especial natalino de Roberto Carlos, ?criado? e exibido pela Rede Globo na noite do sábado passado, foi a coroação involuntária daquela máxima do ladrão que rouba ladrão.

Salvo um e outro detalhes tão pequenos, o programa foi cópia certinha do ?Acústico MTV?, que consagrou o atual formato artístico de Roberto e que ninguém viu, porque a Globo proibiu a aparição de seu contratado exclusivo na ?rival? (rival??) MTV.

Não é que a MTV agisse como a primeira ladra, mas foi impossível assistir ao ?RC Especial? sem lembrar a ?Casa dos Artistas? do SBT, que a Globo acusou de plágio de programa registrado sob sua propriedade. Salvo um e outro detalhes, a ?Casa?, de Silvio Santos, era isso mesmo, mas… E o ?RC Especial? deste ano, o que foi?

Foi assim. Roberto cantou 11 das 17 músicas que gravou para o ?Acústico MTV?, mais ?Quando Digo Que Te Amo? (96), que constituiu então a única ?novidade? em relação ao repertório do especial da rede musical.

Além de serem praticamente as mesmas, as canções vieram com os mesmos arranjos e a mesma equipe de músicos -Samuel Rosa, Toni Bellotto e Milton Guedes, que na MTV apareciam como convidados, em separado, reapareceram na Globo, com outras roupas e reunidos, os três, em ?É Proibido Fumar? (64).

Se era para ser diferente, na Globo havia as atrizes das novelas das seis, das sete e das oito, todas balançando os ombros num desânimo bem mal dissimulado. E pequenas entrevistas, nas quais Roberto abusou em discorrer sobre o amor, sempre com as mesmas palavras. E vinhetinhas pretensamente modernas, que até a MTV sentiria rubor em cometer.

Em busca do ?bem?

Ah, havia o profissionalismo também. Na Globo, Roberto Carlos não se permite errar como o fez em momentos reveladores do ?Acústico? editado e não exibido pela MTV.

Em ?É Preciso Saber Viver? (74), na segunda emissão da já célebre substituição de ?o bem e o mal? por ?o bem e o bem?, Roberto se esqueceu do bem e foi de ?se o bem e o mal existem? mesmo. Isso na MTV, porque na Globo ele não errou -e ainda fez um gesto matreiro de ?deixa isso para lá?, quando cantava o supersticioso trecho ?o bem e o bem?.

Coisa parecida acontece em ?Além do Horizonte? (75). Todo o trecho ?se você não vem comigo/ tudo isso vai ficar/ no horizonte esperando por nós dois/ se você não vem comigo/ nada disso tem valor/ de que vale o paraíso sem amor? foi reescrito.

Sem imagens ?negativas?, ficou assim: ?Porque você vem comigo/ tudo isso existe lá/ no horizonte esperando por nós dois/ porque você vem comigo/ tudo isso tem valor/ pois só vale o paraíso com amor?.

Isso está maquiado no disco, mas na gravação do ?Acústico MTV? Roberto se embananou todo, cantando ?pois só vale o paraíso sem amor? -o conflito entre o passado e o presente é nítido, e esclarecedor.

No sábado, tudo soou limpinho, higienizado, sem arestas. É a conclusão que fica de a grande rede piratear a minúscula TV musical para embrulhar mais um peru natalino com canções de Roberto Carlos: na Globo, até o que poucos minutos atrás tinha sabor renovado sai padronizado, amassado, arrastado. E o semblante do artista ressurge cansado, e nem a voz soa tão segura quanto vinha soando ultimamente. Impressionante, essa Rede Globo."

PIRATA LEGAL

"Juiz permite volta de rádio pirata", copyright O Estado de S. Paulo, 27/12/01

"Uma sentença pouco comum foi dada pelo juiz Heraldo Garcia Vitta, da 2.? Vara Federal de Bauru. Ele autorizou o funcionamento da Rádio Comunitária Vale do Sol FM, de Duartina (30 quilômetros de Bauru), fechada em outubro por ordem da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A decisão foi tomada no âmbito de um mandado de segurança e pode abrir nova brecha para a legalização de outras rádios piratas ou comunitárias.

Vitta acatou a argumentação do técnico em eletrônica Antonio Felipe (dono da rádio) de que a estação é de baixa potência (25 watts). Ele já fora preso e processado por exercício ilegal de radiodifusão. Junto com esse argumento, foram apresentadas guias de pagamento de impostos municipais e estaduais decorrentes da prestação de serviço, ofícios de entidades e autoridades (inclusive o juiz eleitoral da cidade) demonstrando que a rádio cumpre seu papel, prestando serviços à comunidade. A Vale do Sol transmitiu os horários eleitorais gratuitos, as campanhas de desarmamento e outras veiculadas pelo governo.

Carência – Todo o quadro apresentado, levou o juiz ao entendimento de que ?o funcionamento de uma rádio comunitária sem fins lucrativos ou vinculação partidária, ainda que instalada sem a devida autorização, vem tão somente a suprir a carência de dada comunidade, garantindo também a ela, nestes tempos de globalização e Internet, um mínimo de direito fundamental de liberdade de expressão, criação, manifestação do pensamento e informação?.

Duartina, de 12,5 mil habitantes, não tem outra estação de rádio e está situada num declive onde, segundo os impetrantes do mandado de segurança, é difícil a sintonia das estações de fora. Com a decisão judicial, a Vale do Sol voltou a funcionar no sábado.

O advogado Adriano Lúcio Varavallo, autor da ação, disse ontem que já foi procurado por vários donos de rádios comunitárias e piratas, mas lembra que cada caso deve ser estudado individualmente, ?pois há que se considerar a condição do local onde se pretende fazer a rádio funcionar e os antecedentes?. Segundo ele, a nova decisão do juiz federal, agora quanto ao mérito do mandato de segurança, deverá também provocar o arquivamento de um inquérito existente na PF contra Antonio Felipe."

PIMENTA NEVES

"Câmera Oculta", copyright Folha de S. Paulo, 24/12/01

"A Justiça determinou à Rede Globo que entregue, na 2? Vara Criminal do Foro de Santo Amaro, a cópia integral da reportagem do ?Fantástico? em que, segundo despacho do juiz Oscild de Lima Júnior, ?foram exibidas imagens desautorizadas? da residência do jornalista Antônio Pimenta Neves.

Os advogados de Pimenta Neves, que é réu confesso do assassinato da jornalista Sandra Gomide, pedem que a fita seja periciada para futura ação cível de indenização, sob alegação de ?linchamento? moral e físico."