Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Laura Mattos

RÁDIO

"O oba-oba das AMs e FMs em São Paulo", copyright Folha de S. Paulo, 6/03/02

"A disputa das rádios 89/Nativa com Kiss/Tupi, que tirou provisoriamente a segunda dupla do ar, trouxe à tona um dos maiores problemas do setor: o uso irregular das concessões.

Em SP, os dials de AM e FM são emaranhados das chamadas ?rádios que andam?. Funciona mais ou menos assim: como não é fácil conseguir concessão do Ministério das Comunicações para abrir uma rádio na capital -o maior mercado brasileiro-, empresários e, muitas vezes, políticos conseguem emissoras de cidades próximas, mas as instalam na capital.

Não raro, antena e estúdio são montados em plena avenida Paulista, como é o caso da Kiss e Tupi. A história dessas FMs, aliás, é um bom exemplo dessa confusão.

Nativa e 89, que pertencem a um mesmo dono, denunciaram à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que as concorrentes, propriedades do grupo CBS, não tinham autorização para transmitir de São Paulo. A Kiss (102,1 MHz) é uma concessão de Arujá (a 38 km de SP) e a Tupi (104,1 MHz), de Guarulhos (a 15 km de SP). As FMs foram fechadas e, posteriormente, voltaram a funcionar por meio de liminares.

Até aí, simples de entender. A questão é que 89 FM (89,1 MHz) e Nativa (95,3 MHz) também não são genuinamente paulistanas. Com sede na Paulista, a ?rádio rock? é concessão de Osasco (a 18 km de SP) e a outra, cujo slogan é ?O Amor de São Paulo?, de Diadema (a 16 km da capital).

Casos isolados? Longe disso. Consulta feita por esta coluna no Plano Básico de Radiodifusão do Ministério das Comunicações mostra que, das AMs e FMs disponíveis no dial de São Paulo, quase metade é de outras cidades.

Neneto Camargo, proprietário da 89 e da Nativa, afirma que suas rádios estão ?regularizadas?. Então nem sempre é ilegal conseguir concessão em outra cidade e montar a emissora em São Paulo? A assessoria do Ministério das Comunicações afirma que ?a antena tem de estar na cidade de origem da concessão. Se as rádios funcionam fora, ou estão irregulares ou operam com liminares?.

Edilson Ribeiro, superintendente de Radiofrequência e Fiscalização da Anatel, se mostrou surpreso com o levantamento da Folha -apesar de as informações terem sido obtidas no próprio site da Anatel. ?Não tenho conhecimento desse percentual. Vamos verificar caso a caso?, disse.

É um bom momento, mesmo porque já há prefeitos -de cujas cidades as rádios ?migraram? para a capital- que ameaçam tentar recuperar as rádios na Justiça. E esse é só o primeiro capítulo de um longa novela mexicana…"

 

CASO JACK WELCH

"Ricos, famosos e infiéis", copyright Veja, 11/03/02

"Há seis meses, o bilionário americano Jack Welch teve seu rosto estampado na capa dos principais jornais e revistas de todo o mundo. Aposentou-se, dando adeus à General Electric, empresa que comandou como uma lenda viva por mais de vinte anos. Depois disso continuou em evidência promovendo as vendas de sua autobiografia, que se transformou rapidamente num best-seller. Na semana passada, Welch voltou ao noticiário envolvido num escândalo amoroso com a jornalista Suzy Wetlaufer, da Harvard Business Review, respeitada publicação econômica americana. A história é daquelas que ganham repercussão gigantesca pelos personagens envolvidos e pelas circunstâncias da paixão que brotou entre os dois. Como o sentimento politicamente correto americano impede que se discuta a questão apenas no que ela tem de incendiariamente humano, o amor, a opinião pública dos Estados Unidos se distraiu com a faceta mais tediosa do namoro: a discussão sobre se houve no caso um atentado à independência do jornalismo.

Tudo começou quando Suzy foi escalada, no fim de 2001, para entrevistar o empresário famoso e descobrir alguns segredos de sua bem-sucedida carreira. O encontro certamente rendeu mais do que simples perguntas e respostas. Ganhou um contorno afetivo. Agravou-se porque Jack é casado. O caso deve ter atingido certo grau de seriedade, pois Jane, esposa de Welch, telefonou para a amante do marido exigindo satisfações e questionando a seriedade profissional da jornalista. Antes disso, circularam pela internet fotos de Welch e Suzy saindo abraçados de um restaurante famoso de Nova York, o 21 Club.

O caso virou um escândalo ético. Os colegas de Suzy se revoltaram com o fato de ela só ter avisado a direção da revista sobre o romance após o telefonema de Jane. Ao tomarem conhecimento do namoro, os responsáveis pela publicação apontaram outros dois repórteres para refazer a entrevista. Alguns jornalistas, furiosos com a situação, enviaram uma carta ao editor-executivo cobrando dele a demissão de Suzy. Segundo os colegas da namorada de Welch, ela já havia comentado entusiasticamente ter mantido com ele uma relação que foi muito além da amizade. Suzy deixou claro que teve um romance com Jack. O caso se tornou público na redação muito antes do telefonema de Jane. Segundo uma reportagem do jornal Wall Street Journal sobre o namoro, os colegas de Suzy disseram temer que o prestígio da revista pudesse sair abalado do episódio. Com mais de 240.000 seletos leitores e uma arrecadação com publicidade superior a 100 milhões de dólares por ano, a Harvard Business Review não teve nenhum baque visível com o episódio. Mas Suzy perdeu o emprego.

Jack Welch, de 66 anos, não confirma nem desmente o relacionamento com Suzy, 24 anos mais nova. ?Isso é assunto privado. Não comento.? Jack definiu Suzy como uma entrevistadora ?ágil e engraçada?. Comentou também que discordou de Suzy quanto ao título que ela ia dar à entrevista: ?Jack morde Jack?. Segundo o aposentado milionário Jack, a jornalista ficou tão incomodada com as intromissões dele que no fim da conversa tinha a impressão de que a entrevista não tinha sido realizada por ela.

Namoros clandestinos de altos executivos e empresários são um assunto que a imprensa americana de negócios cobre com assiduidade. Numa reportagem recente, das tantas que tentaram explicar a falência da gigante de energia Enron, a revista Newsweek retratou a grande carga erótica que imperava nos altos escalões da empresa e que se expressava com vigor nas constantes festas promovidas pelos executivos. Jeff Skilling, ex-CEO da gigante do setor de energia, parece ter vivido uma relação de amor e ódio com uma das estrelas em ascensão da empresa, a executiva Rebecca Mark. Escolhida por duas vezes como uma das cinqüenta mais poderosas mulheres de negócios dos Estados Unidos pela revista Fortune, Rebecca se recusou a comentar o caso. Ele respondeu por intermédio de um porta-voz que tudo não passava de mentiras. A reportagem de Newsweek afirmava que Skilling teve casos com diversas outras executivas, a quem concedia privilégios. Elas eram chamadas na companhia de ?as mulheres do tenente francês?, numa alusão ao filme estrelado por Meryl Streep e Jeremy Irons. Skilling divorciou-se da esposa e foi noivo de uma secretária da Enron, promovida com um megassalário de 600.000 dólares por ano.

O magnata das comunicações Rupert Murdoch, de 71 anos, protagonizou um dos relacionamentos intracorporativos e extraconjugais mais ruidosos dos últimos tempos ao se apaixonar por uma executiva de seu império, a chinesa de Hong Kong Wendi Deng. O caso andou na clandestinidade uns tempos, mas terminou bem: Wendi casou-se com o magnata australiano. Anna, a mulher de Murdoch, não se conformou e manteve com o ex-marido uma barulhenta troca de acusações pela imprensa. Nem o provável bilhão de dólares que levou com o divórcio a acalmou. ?Deng acabou com um casamento maravilhoso. O Rupert que eu conheci morreu há alguns anos?, disse Anna. Quanto ao filho do novo casal, Anna disse que, se depender dela, ele nunca se tornará um herdeiro do império construído por Murdoch. Quem disse que o capitalismo não favorece a paixão?"