Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Laura Mattos

RÁDIOS COMUNITÁRIAS

“Senado teme ?avalanche? de rádios”, copyright Folha de S. Paulo, 30/04/03

“As autorizações para o funcionamento de rádios comunitárias, que têm de passar pelo Congresso, poderão ficar apenas nas mãos do Ministério das Comunicações. Esse é o teor de uma proposta de emenda constitucional (PEC) a ser votada hoje na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Desde a Constituição de 1988, o Executivo não é mais o único a definir quem pode ou não receber concessões. Pedidos de AMs e FMs comunitárias e comerciais, além das TVs, passam obrigatoriamente pela Câmara e pelo Senado, após a análise do ministério. À época, a regra foi criada para evitar que o governo usasse emissoras como moeda política.

De acordo com a PEC, as rádios comunitárias voltariam a ser liberadas pelo modelo antigo. A proposta é de Osmar Dias (PDT-PR), presidente da Comissão de Educação, órgão do Senado responsável pela análise das concessões.

Segundo o senador, o grande número de pedidos de rádios e TVs prejudica as atividades da comissão, que trata ainda de assuntos como evasão escolar e políticas orçamentárias da educação.

Seu projeto, apresentado há 15 dias, tramita a toque de caixa. Motivo: o Senado teme a chegada dos 4.400 pedidos de comunitárias que, em razão de um esquema de ?mutirão? no ministério, deverão ser encaminhados ao Congresso dentro de três meses.

Dias afirma que essa ?avalanche? desestruturaria a comissão. Para ele, a possibilidade de o Executivo usar politicamente as rádios comunitárias não é significativa, já que as estações têm baixa potência e não podem dar lucro.

Daniel Herz, coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, também não concorda com a passagem das comunitárias pelo Legislativo.

Em sua opinião, no entanto, a análise não deveria ser concentrada em Brasília, mas regionalizada. ?Com órgãos regionais, ligados ao ministério, seria até mais fácil fiscalizar o uso das estações.?

Ele não acredita que o Congresso evite os critérios políticos. ?Mesmo com essa regra, na gestão de Pimenta da Veiga [ministro das Comunicações, de 1999 a 2002], foi Minas, seu reduto eleitoral, que ganhou mais rádios.? (Pimenta, ao deixar a pasta, afirmou que a distribuição foi proporcional ao tamanho do Estado.)

?O Legislativo pode até atenuar essa prática, mas não a evita?, diz Herz, que também é membro do Conselho de Comunicação Social.

A polêmica será tema de audiência pública hoje, na Comissão de Educação, com Eugênio Fraga, secretário de radiodifusão do ministério. E esse é só o começo.”

 

TV RECORD, 50 ANOS

“Record transforma história em negócio”, copyright Folha de S. Paulo, 30/04/03

“Doze anos depois de assumir o controle da Record, a Igreja Universal descobre que o acervo da emissora, que completa meio século em setembro, pode ser uma importante fonte de renda.

A recuperação e organização dos arquivos, que incluem imagens raras dos anos 50, deverão consumir cerca de R$ 2 milhões.

A emissora, no entanto, diz acreditar que em pouco tempo irá recuperar o investimento. Com um mínimo de planejamento, a venda de imagens já rende algo em torno de R$ 25 mil por mês.

A restauração já atrai até estrangeiros. O canal Discovery e a rede britânica ITV, por exemplo, estão comprando imagens de Caetano Veloso, em especial dos ?Festivais de MPB?, para produzir documentários sobre o cantor.

A ?profissionalização? do acervo deverá contar com alguns ajustes na relação com a concorrência. Antes desestruturado e sem controle, o arquivo não era vendido e chegava a ser usado por outros canais até sem autorização da direção da emissora.

Nessa nova fase, o mais delicado dos acertos deverá ser com Silvio Santos, que foi sócio e apresentador da emissora nos anos 70 e 80.

Na semana passada, a Record estudou a possibilidade de notificar o SBT pela exibição de um trecho de ?Quem Tem Medo da Verdade??, dos anos 60. No programa, Roberto Carlos enfrentava um ?julgamento?, em que era acusado de desvirtuar os jovens. Silvio Santos foi seu ?advogado de defesa?, e o cantor foi absolvido.

?Temos que ver como lidar com essa situação, porque o Silvio deve ter imagens da época em que esteve aqui, mas elas pertencem à Record?, disse à Folha Hélio Vargas, diretor de programação.

A saia justa só não foi adiante porque a Record está negociando a participação de artistas do SBT, Silvio Santos inclusive, em cinco especiais sobre seus 50 anos.

Incêndios e raridades

Grande parte da memória da Record foi perdida nos seis incêndios que a emissora enfrentou ao longo de sua história. Além disso, nos primeiros anos, sem videoteipe, a maior parte da programação era ao vivo. Fora isso, sem noção da importância da memória, produtores costumavam reutilizar os rolos de película, muitas vezes apagando programas históricos.

Parte do trabalho de reparação do arquivo está sendo desenvolvida pelo Estúdio Mega, que, entre outras coisas, atenua o chiado do som e os chuviscos das imagens mais antigas que sobraram.

Nesse garimpo, já foram encontradas cerca de 6.000 caixinhas com reportagens filmadas em película 16mm, dos anos 50 e 60.

Há cenas importantes, uma vez que filmar algo exigia um grande investimento por parte da emissora. Dentre as raridades, estão o registro da construção da ponte Rio-Niterói e da avenida 23 de maio, o enterro do presidente Castello Branco, em 1967, e a reforma do Palácio dos Bandeirantes, no mesmo ano.

Há também muito material de jornalismo internacional, desde importantes batalhas da Guerra do Vietnã até Jacqueline Kennedy assistindo a um desfile de moda na Índia, em 1962.

Especiais

A recuperação da memória acontece no momento em que a emissora completa meio século. A Record, terceira emissora a entrar no ar no país, estreou às 20h do dia 27 de setembro de 1953. Foi a ?Globo? dos anos 60, quando viveu o ?glamour? dos ?Festivais de MPB?.

Cenas batidas, como Caetano cantando ?Alegria, Alegria? e Gil e os Mutantes com ?Domingo no Parque?, serão exibidas, agora com mais qualidade, ao longo dos cinco episódios do especial ?Record 50 anos?.

Wagner Matrone, diretor do projeto, deixa claro que o objetivo é homenagear a Record, mostrando ?o melhor da emissora?. O famoso chute que um bispo da Universal deu ao vivo numa imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1985, claro, ficará de fora.”

 

RÁDIO NO BRASIL, 80 ANOS

“?Revista USP? apresenta dossiê sobre a história desse veículo no Brasil, desde 1922”, copyright O Estado de S. Paulo, 4/05/03

“A Revista USP traz como matéria de capa de sua edição mais recente um dossiê sobre os 80 anos de rádio no País. A nostalgia tempera os textos, o que sempre é esperado na matéria, e cai bem. Quem, até a explosão televisiva, chegou a ouvir pelas emissoras paulistas a voz de Charutinho (Adoniran Barbosa) e Nhô Totico, ou, pela Rádio Nacional, a novela das aventuras de Jerônimo, o Herói do Sertão, herói criado por Moysés Veltman, que teve capítulos também escritos por seu irmão, o jornalista Henrique Veltman, assim como os programas de calouros e as narrações esportivas de Ary Barroso, não tem direito a deixar a emoção de lado, nesta praia.

Para quem não pegou o tempo em que os Demônios da Garoa e Tonico e Tinoco conquistavam as massas pelas ondas radiofônicas, vale o passeio pelo museu e as análises sobre esse veículo que abriu o caminho para a expansão da mídia, como instrumento tanto de democratização da informação como de ferramenta do controle e manipulação da mesma massa por todo tipo de interesse escuso e vigarice, incluídos aí os governos totalitários. O tom emocional, com freqüência desprezado em estudos e reportagens, deve ser considerado como conteúdo das matérias e não como ruído.

São textos que falam de vida e experiência. Desde Mario Fanucchi e sua admiração infantil por Nhô Totico, até Milton Parron e a cobertura do Joelma, o primeiro dos grandes incêndios na cidade, que ocorreu em 1974.

Parron recorda: ?Também chorei.? Ou seja, diante daquela tragédia, o jornalista não teve como fugir à verdade da emoção intraduzível em palavras.

E isso entra na História. Há também homenagem a Roquette-Pinto (no dia 1.? de maio de 1923 ele inaugurou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro), de Vera Regina Roquette-Pinto, texto sobre o negro e o rádio no Brasil, que é o depoimento do professor João Baptista Borges Pereira, os artistas obviamente eternos, o rádio esportivo, etc.

À parte a nostalgia de um mundo registrado na literatura de Marcos Rey, sobre os anos 50 e 60, que está sendo oportunamente reeditada pela Companhia das Letras (com belo tratamento gráfico: as capas de Ópera de Sabão e Memórias de Um Gigolô reproduzem fotos-crônicas de Bob Wolfenson e Cristiano Mascaro, respectivamente), por causa dos períodos de baixa, devido à televisão e outras transformações, há o dado gritante da permanência do veículo inventado pelo Marconi.

Dos aparelhos de ondas curtas, que permitiam sintonizar emissoras de todo o mundo, algumas das quais com transmissões em português, chegamos à internet, que dá novo passo à revolução democrática (com tudo o que isso implica, caso contrário não seria democracia), colocando o ouvinte e também espectador, pois a televisão agora vem no pacote, em contato com todos os cantos do planeta. Este é o tema de Lígia Maria Trigo-de-Souza em Rádios. Internet.br: o rádio que caiu na rede…

A publicação traz também ensaios de José de Paula Ramos Jr., sobre Drummond, a ameaça às línguas minoritárias, por Aleksandar Jovanovic, o futebol, tratado com a seriedade por Francisco Costa, mais reflexões de Boris Schnaiderman sobre Sokúrov, de Luciana Gama, a respeito da obra crítica de Luiz Costa Lima e Marília Librandi Rocha, que analisa Revisão de Sousândrade, por Augusto e Haroldo de Campos. Email: revisusp@edu.usp.br Filosofia – Clonagem e ética são os assuntos de Maurício de Carvalho Ramos no primeiro número de Scientiae Studia – Estudos de Filosofia e História da Ciência, outra publicação uspeana. O mesmo autor fala da Origem da Vida e Origem das Espécies no Século XVIII e Pablo Rubén Mariconda volta a Galileu, com um artigo e a tradução de carta do cientista italiano datada de 15 de setembro de 1640. Email: scientiaestudia@edu.usp.br.”