Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Laura Mattos

REGIONALIZAÇÃO / RÁDIO

“Projeto de regionalização da TV exige música nacional no rádio”, copyright Folha de S. Paulo, 27/08/03

“O mesmo projeto de lei que obriga as TVs a veicular programas regionais exige que as rádios transmitam uma cota de músicas e noticiários nacionais.

Aprovado há duas semanas na Câmara, o texto segue para o Senado e, de acordo com sua autora, a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), poderá ser votado neste ano. Concentrado na discussão sobre televisão, o projeto estabelece que 20% da programação de AMs e FMs tenham ?caráter nacional? e a metade, 10%, regional.

Ou seja, a TV, que opera em redes, teria de valorizar programas regionais, enquanto as rádios, mais voltadas às questões locais, seriam obrigadas a romper fronteiras de suas cidades.

Uma inversão? Não exatamente, segundo Jandira Feghali.

A deputada afirma que, ao incluir a cota nacional para AMs e FMs, estava preocupada ?em garantir um aspecto brasileiro? no dial, principalmente musical.

?No rádio, o jornalismo regional acontece naturalmente. As estações não existem sem a notícia local. Mas é importante garantir a presença de música brasileira.?

De acordo com Feghali, houve uma forte pressão do empresariado para evitar as cotas do rádio no projeto de lei. ?Depois de ter enfrentado o lobby das TVs, não esperava uma resistência tão forte por parte dos donos de rádio.?

Ela diz que a votação do projeto na Câmara, em tramitação havia cerca de dez anos, quase foi cancelada na última hora em razão das cotas para o rádio. ?O acordo foi difícil. O setor não queria nenhum percentual obrigatório.?

A Abert (Associação de Emissoras de Rádio e Televisão) é contrária às cotas e defende a auto-regulamentação do setor.

Apesar dos acordos costurados na Câmara, a deputada ainda prevê algumas dificuldades. ?Os lobbies vão voltar. Mas a negociação será bem mais simples agora.?

Jandira Feghali afirma que buscará agilizar a tramitação do projeto no Senado. ?Tentaremos andar na frente das reformas [tributária e da Previdência]. A intenção é votar ainda neste ano.?

Na prática, o projeto de Feghali cria regras que já se tornaram uma tendência da comunicação. Com pouca verba, pequenas emissoras de rádio buscam se afiliar a redes nacionais (CBN e Jovem Pan, por exemplo). Assim, livram-se dos investimentos com a produção de notícias e podem faturar uma fatia da verba de grandes anunciantes.

Já as TVs começam a valorizar as afiliadas como uma forma de incrementar o faturamento com o saturado eixo Rio-São Paulo.

É a lei. A lei do mercado.”

 

C.S.I.
Paula Mageste

“Na cena do crime”, copyright Época, 1/09/03

“Os mortos falam. E os criminosos, mesmo os mais meticulosos, sempre deixam algum indício na cena do crime. Esse é o mote de C.S.I. (Crime Scene Investigation, ou ?investigação da cena do crime?), a série de televisão campeã de audiência nos Estados Unidos, com 25 milhões de espectadores, e vendida para o mundo inteiro. No Brasil é exibida pelo canal Sony (Net/TVA) e, em junho, foi a favorita do público entre 18 e 45 anos. A quarta temporada de C.S.I. começa em setembro, nos EUA, e chega às telas nacionais em novembro. Para aplacar a ansiedade dos fãs do time de investigadores forenses liderados por Gil Grisson (William Peterson) e Catherine Willows (Marg Helgenberger), o Sony exibe uma maratona C.S.I. e C.S.I. Miami (filhote da série principal, que estreou em 2002) a partir da segunda 1?.

O sucesso de C.S.I. resulta da combinação de vários fatores. Para começar, a mistura de trama policial com medicina forense e tecnologia virou uma febre mundial. A escritora Patricia Cornwell, por exemplo, não sai da lista dos mais vendidos a cada novo romance estrelado pela heroína Kate Scarpetta. Na TV, C.S.I. não foi a primeira – nem a última – do gênero. A programação inclui Forensic Files, I, Detective e as novas Peacemakers, com roupagem Velho Oeste, e NCIS, passada numa base naval americana.

GRISSOM

Entomologista tímido e intuitivo, às voltas com problemas de audição

CATHERINE

Ex-stripper e mãe solteira, descobre ser filha de um magnata dos cassinos

ALEXX

A legista que fala com os mortos, em C.S.I. Miami

O que coloca C.S.I. na dianteira entre as séries que exploram o mundo forense é a produção do veterano Jerry Bruckheimer, cujo currículo inclui longas-metragens como Piratas do Caribe, Flashdance e Top Gun. Além de know-how, Bruckheimer tem dinheiro. Cada episódio de C.S.I. é feito em duas semanas, com orçamento em torno de US$ 2 milhões e os melhores profissionais de cada área. O maquiador, Matthew Mungle, ganhou um Oscar por seu trabalho em Drácula de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Coppola. Uma das roteiristas é Carol Mendelsohn, que escreveu Fama. ?O resultado é um filme noir na TV, com qualidade de película?, diz o produtor e roteirista Danny Cannon.”

 

SEX AND THE CITY

“Elas só pensam naquilo”, copyright IstoÉ, 1/09/03

“Num bar badalado de Nova York, quatro mulheres bonitas, bem-sucedidas e solteiras compartilham segredos de alcova. Uma delas conta ter tido o orgasmo mais intenso de sua vida, a outra anuncia a decisão de fazer greve de sexo devido aos últimos encontros frustrados, enquanto a caçula da turma está em dúvida se volta para o ex-marido que superou problemas de disfunção erétil. A conversa esquenta quando uma delas revela que descobriu os prazeres do sexo com outra mulher. Assim começa mais um episódio de Sex and the City, exibido aos domingos nos Estados Unidos pela HBO e que virou febre em vários países. No Brasil, a atração está na quarta temporada e é transmitida às segundas-feiras – com reprises às terças e sábados – pelo canal pago Multishow.

A fórmula das aventuras amorosas de quatro amigas trintonas na Big Apple é simples e poderia ter passado despercebida. Mas, segundo a direção do Multishow, a audiência de Sex and the City vai bem, obrigado. A série tem cerca de 130 mil espectadores por episódio – número representativo para o público de tevê paga. Por cada epis&oaoacute;dio a emissora paga US$ 3,7 mil à HBO, verba suprida com folga pelos anunciantes. Como explicar tal fato num país em que os fenômenos de audiência costumam ser novelas e programas de auditório?

Tudo começa pela forma como o universo feminino é tratado. As protagonistas interpretadas pelas atrizes Sarah Jessica Parker (a jornalista Carrie Bradshaw), Kim Cattral (a relações-públicas Samantha Jones), Kristin Davis (a marchand Charlotte York) e Cynthia Nixon (a advogada Miranda Hobbes) têm uma vida que toda mulher gostaria. Embora focada nos costumes de Nova York, o cotidiano do quarteto cairia como uma luva para londrinas, parisienses, paulistanas, cariocas ou qualquer garota que more em uma metrópole. Que mulher não sonha chegar aos 30 com uma carreira consolidada e amigas leais que a acompanhem nas melhores baladas?

Mas o que agrada de cara é a personalidade e o humor com que os conflitos amorosos, sexuais e existenciais das quatro personagens são apresentados. Charlotte é romântica e maternal. Samantha é o oposto: troca de parceiros com uma enorme frequência. Miranda é racional e abusa do humor negro. Inspirada nos namoros das amigas e nos próprios, a jornalista Carrie escreve a coluna que dá nome à série.

Carrie, aliás, é um clone. Seu DNA foi colhido no córtex cerebral da jornalista Candace Bushnell, autora de uma coluna sexual no jornal New York Observer. A aventuras do quarteto são baseadas em seu livro, Sex and the City (Ed. Record. 345 págs., R$ 35). ?Carrie sou eu aos 35 anos?, confessou Candace em entrevista a IstoÉ. ?Quando comecei minha coluna, a pergunta principal era: ?Será que as mulheres podem ter sexo casual, como os homens?? O curioso é que a resposta que recebemos das mulheres foi afirmativa. Para os homens foi: ?Não! Mulheres não podem ter sexo casual.? Acho que isso é o que incomoda?, explica Candace. ?Desejamos compromisso. Mas esse não seria o desejo de todos? E enquanto isso não ocorre, vai se tentando, e fazendo sexo, pois ninguém é de ferro?, completa.”

 

TELENOVELAS

“Pesquisadores a serviço da ficção”, copyright O Estado de S. Paulo, 31/08/03

“O autor Manoel Carlos ia começar a escrever a cena mais esperada de sua novela, Mulheres Apaixonadas: queria que Fernanda (Vanessa Gerbelli) e Téo (Tony Ramos) fossem baleados; ela deveria levar dois tiros, ficar alguns dias em coma, consciente, e, quando morresse, teria seus órgãos doados; Téo levaria um tiro na cabeça, seria operado, sobreviveria, mas ficaria com uma pequena seqüela. Mas, para cumprir esse roteiro, em que lugar do corpo eles deveriam ser atingidos? Qual a cirurgia que salvaria Téo? Por que Fernanda não sobreviveria? Como os órgãos dela sairiam ilesos? Responder a essas e a outras perguntas é o trabalho do braço direito do autor, no caso de Manoel Carlos, Leandra Pires, uma das pesquisadoras que estão à disposição dos autores da Globo.

São esses profissionais que saem a campo entrevistando médicos, consultores, freqüentando associações, pesquisando na internet, em bibliotecas, buscando casos reais a fim de resolver as dúvidas de quem cria os folhetins. Muitas vezes, fazem a ponte entre autor e especialista para tratar de um assunto específico.

São eles que devem descobrir se havia carrinho de pipoca nos anos 20, por exemplo, ou se há um grupo de padres que largaram a batina por amor. É um trabalho de ?garimpo? de informações constante que pode ter como resultado a base de um folhetim inteiro ou de uma cena de 5 segundos no ar. Sugerem, palpitam e revisam as tramas; há até quem se arrisque a escrever algumas cenas. Às vezes, respondem a dúvidas até de madrugada, a fim de ajudar nos mínimos detalhes.

?O Manoel (Carlos) me falou como queria que fosse a morte de Fernanda e fui atrás de médicos. Passei dias em setores de emergência de hospitais com especialistas. Falei com neurocirurgiões sobre como seria o caso de Téo, associações de doadores de órgãos, plantonistas de pronto-socorro público e juntei tudo para o autor poder montar a história?, conta Leandra, que começou na Globo pesquisando para o seriado Mulher (2000).

?Dependendo de qual a seqüela que Téo teria, o tiro deveria ser num lugar diferente. Para Fernanda ser doadora de órgãos, mudamos a causa da morte. Os médicos aconselharam a morte cerebral, não do coração, para não haver comprometimento de órgãos. Até a gaze colocada nos olhos dela, logo após sua morte, foi um conselho de uma associação de doação de córneas.?

Com o mesmo envolvimento, a pesquisadora destrinchou outros assuntos em Mulheres Apaixonadas: consultou psiquiatras sobre mulheres obsessivas, visitou um grupo de mulheres que foram espancadas, conversou com homens que espancavam mulheres, foi a clínicas de quimioterapia, promoveu debates com jovens lésbicas e visitou até o Instituto Médico Legal (IML).

?Já perdi a conta de quantas vezes chorei durante o trabalho. Acho que o melhor material para pesquisa é o material humano, e, ouvindo tantos dramas, não há como não chorar?, conta Leandra. ?Mas também me divirto. Pesquisei em colégios para ajudar na criação das aulas do colégio de Lorena (Suzana Vieira) e ri muito com os jovens. Posso dizer que sou paga para aprender coisas novas todos dias. Quer trabalho melhor??

Degustador de trufas – Se o de Leandra é bom, imagine a pesquisa do historiador André Ryoki, que trabalha atualmente com Walcyr Carrasco em Chocolate com Pimenta, próxima novela das 6. Ryoki fez o ?sacrifício? de provar vários tipos de chocolate e visitou fábricas de chocolate artesanal para aprender passo a passo como é feita a iguaria. As informações serão usadas por Carrasco no enredo principal da trama.

Mas nem tudo é tão fácil. Ryioki pegou em seu trabalho de estréia o que é considerado ?penoso? por muitos pesquisadores: uma trama de época. Chocolate com Pimenta é ambientada na São Paulo dos anos 20. Além de muitas reuniões com o autor para debater detalhes culturais e sociais da década, Ryoki teve de dar workshop para o elenco sobre a década de 20. E responde diariamente a inúmeras dúvidas da produção.

?Esses dias tive de descobrir se na época já existia balão de látex (bexiga) para uma cena em que aparecia um vendedor de balões. Depois, a produção me ligou para saber se havia pipoqueiro nos anos 20. São detalhes que dão trabalho para pesquisar, não aparecem mais que segundos no ar, mas fazem a diferença. Sei que há quem assista uma novela como se estivesse brincando no jogo dos 7 erros.?

Crédito de autoria – Ela pesquisou para Janete Clair – de quem corrigia os textos à mão – , Dias Gomes e hoje é parceria de Gilberto Braga, de quem só ganha elogios. ?Há muitos anos trabalho com uma pesquisadora tão competente, que faço questão que assine como minha colaboradora?, diz o autor. Marília Garcia é uma referência na profissão. Está há mais de 20 anos na Globo e praticamente iniciou essa especialidade.

?Eu sou do tempo da pesquisa braçal?, brinca Marília. ?Não tinha toda essa facilidade da internet?, diz. Ela não só pesquisa como lê roteiros, revisa textos ao lado de consultores, dá sugestões e até já escreveu capítulos sobre um tema que pesquisou. Para tanto, já falou com autoridades e mendigos. Ficou durante anos pesquisando temas políticos de interesse para a novela, e depois série, O Bem Amado (1973), de Dias Gomes.

?Tinha de descobrir temas atuais, casos que estivessem acontecendo pelo País para dar idéias para a trama. Lembro que pela primeira vez na TV falamos sobre os sem-terra. Foi em um episódio do Bem Amado que envolvia uma pastoral da Igreja. Cheguei a arriscar o pescoço para descobrir essas histórias?, conta. ?Até roubar documento para pesquisa eu já roubei.?

Marília acredita que seu trabalho sobrevive da relação de confiança com os autores e não mede esforços para corrigir um pequeno erro no script. ?Já peguei uma cena que estava pronta para ser gravada em que tinha acabado a luz, mas a personagem ligava a televisão?, conta. ?Temos de ser exigentes com os detalhes, pois sei que há quem conta com os meus olhos.?

Atualmente, Marília trabalha na pesquisa de Celebridade, de Gilberto Braga – substituta de Mulheres Apaixonadas – , e do remake de O Profeta, de Ivani Ribeiro.

Há também aqueles contratados para pesquisas específicas. Clarisse Fukelman fez uma grande pesquisa histórica e cultural para Força de Um Desejo (1999), de Gilberto Braga. Estudou detalhes sobre a cultura negra da época – a trama se passava em 1860- ,colaborando, também com cenografia e produção de arte. ?Dava dicas sobre caracterização e objetos da época. Tinha de me virar para pesquisar, pois não há muitos registros de imagem desse período?, conta. ?Também ajudei nos diálogos, na prosódia da trama. Sempre que podia, o Gilberto inseria expressões e termos da época na novela.?

Já Fernanda Lauer foi contratada para pesquisar locações em Terra Nostra (1999). Foi ela quem descobriu o navio onde Matteo (Thiago Lacerda) e Giuliana (Ana Paula Arósio) se conheciam. ?Andei dias pelo Porto de Santos , em julho, para depois descobrir que nessa época há poucos navios atracando. Quando estava quase desistindo, vi um navio antigo que parecia abandonado?, ela fala. ?Descobri que se tratava de uma disputa de família. Falei com um dos donos do navio e o aluguei. Tive de pechinchar, queriam uma fortuna. Jayme Monjardim (diretor) ficou encantado?, continua. ?Quando vi o navio em cena nem acreditei que era o mesmo.?

Enciclopédia – A nova pesquisa da jornalista Carmem Dulce Righetto, há 12 anos trabalhando na Globo, é sobre os 450 anos de São Paulo, para a série Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral. Sua lista de pesquisas inclui A Próxima Vítima (1995), Anjo Mau (1997), A Muralha (2000) e A Casa das Sete Mulheres(2003).

Carmen começou na área organizando o arquivo de uma editora. Fez pesquisas em italiano, inglês, espanhol, e ajudou a organizar temas para a enciclopédia Conhecer. Adora livros, bibliotecas, mas o que gosta mesmo é de pesquisar durante uma boa conversa. ?Uma vez, o Alcides Nogueira, que só trabalha à noite, precisava saber quanto custava uma sardinha de bar. O jeito foi ligar para amigos, ir perguntando, até encontrar alguém que poucos dias antes tinha comprado sardinha.?

Para Silvio de Abreu, em A Próxima Vítima, foi atrás de um veneno nada convencional, algo que passasse longe dos casos de Agatha Cristhie. Falou com médicos, especialistas, e descobriu a essência de nicotina. Foi o que acabou matando uma das personagens da trama, toda apoiada em assassinatos em série.

?Não somos muito valorizados, não ganhamos muito e quase todos nós temos de ter uma profissão paralela para sobreviver?, conta ela. ?Pesquisar acaba virando um vício e, quando você vê, virou um curioso sem volta, um viciado em perguntar, descobrir e contar.?”

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“Novela incentivou doações de medula”, copyright O Estado de S. Paulo, 31/08/03

“Em um cenário de quarto de hospital, Carolina Dieckman, Vera Fischer, Ricardo Waddington e Jorge Damatta repassam uma das cenas do drama de Camila, personagem de Laços de Família que tinha leucemia. Dessas quatro pessoas, apenas uma nunca tinha visto tantas luzes, câmeras e nem Vera Fischer de pertinho: o doutor Jorge Damatta, especialista em medula óssea do Instituto Nacional do Câncer. Estava lá como convidado de honra, ajudando na gravação das cenas que tratavam da internação da personagem, coordenando as ações médicas. Foi uma, duas, várias vezes aos estúdios do Projac, da Globo, prestar ?assessoria? à novela.

?O Ricardo Waddington (diretor) gravava as cenas e perguntava em seguida se estava bom para mim?, conta Damatta. ?Quem sou eu para falar algo sobre um trabalho tão bom como o deles?, conta o médico, com humildade rara para alguém com 18 anos de experiência em transplante de medula.

O trabalho de Damatta junto com o autor da trama, Manoel Carlos, começou quase um ano antes de a novela ir ao ar. Ele iniciou seu trabalho como mero consultor, respondendo a dúvidas sobre leucemia enviadas em forma de questionário pela produção do folhetim. Logo virou mais que colaborador.

Passou a conversar com Maneco, o autor, por telefone, a pesquisar, a dar explicações mais detalhadas sobre a doença e a opinar sobre o que poderia e o que não poderia ser feito para salvar a personagem. ?Lembro que ele queria na época que a Íris (Débora Secco), que era meia- irmã de Camila, pudesse ser uma doadora de medula e eu disse que isso não era possível na medicina real?, lembra o médico. ?O Maneco não hesitava em mudar tudo quando eu lhe explicava que não podia ser daquele jeito.?

Além da pesquisa e da assessoria ?de corpo presente? na produção, Damatta chegou a participar da novela, ou melhor, só suas mãos. Foram elas que apareceram na trama na cena em que o médico retirava sangue do cordão umbilical do bebê para salvar Camila. ?Apesar da licença poética, a novela passava o mais perto possível da realidade?, fala ele. ?Eles ficaram felizes quando me ofereci para fazer a cena.?

Do primeiro e único trabalho na TV, guarda fotos, recordações e histórias engraçadas das gravações. Guarda também uma gratidão a Manoel Carlos, que ultrapassa o deslumbramento de um ?mortal? convidado a participar do mundo de conto de fadas da TV. Explica que é a gratidão de um médico feliz em poder salvar mais vidas depois da novela.

Quando o folhetim acabou, Maneco perguntou o que poderia fazer por ele. E Damatta pediu seu aval para levar alguns atores ao Hospital do Câncer. Foi assim que Reynaldo Gianecchini e Carolina Dieckman atenderam ao seu desejo.

?Medicina na TV tem de ser levada a sério. Não podemos iludir os telespectadores quando o assunto é uma doença tão difícil como é o câncer?, fala. ?Além desse respeito com o tema, a novela aumentou muito o número de doações de medula. Só isso já valeu muito a pena?, continua. ?Há diálogos com doentes, há olhares de pacientes, que nós, médicos, nunca mais esquecemos na vida. Tenho essa mesma sensação com Laços de Família.?”