Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Leila Reis

DESEJO DE MULHER

"A diversidade é ignorada pela TV", copyright O Estado de S. Paulo, 4/8/02

"Vai longe o tempo em que a novela das 7 era para rir, relaxar. Durante bons anos, a chanchada imperou nessa faixa de horário da Globo. São dessa safra Locomotivas, Sassaricando, Cambalacho, Deus nos Acuda, Que Rei Sou Eu? (a melhor de todas), Vereda Tropical, Guerra dos Sexos, As Filhas da Mãe e outros textos assinados pela prata da casa, como Sílvio de Abreu, Cassiano Gabus Mendes e Carlos Lombardi.

Essa fase parece ter sido enterrada definitivamente com Desejos de Mulher, que agora entra na fase final. A novela de Euclydes Marinho começou como um dramalhaço, jogando nas costas da heroína Andréa Vargas (Regina Duarte) todos os infortúnios que aterrorizam o imaginário de qualquer mulher.

Traída, roubada e enganada pelo marido, pelas irmãs, pela mãe biológica e pelos pais adotivos, Andréa pena até hoje com amnésia psicológica.

A desgraça não foi suficiente para o drama semi mexicano. Como que contaminada pela programação em voga na vizinhança, Desejos de Mulher enveredou pelo caminho do crime simulando, na ficção, o universo hardcore dos shows policiais. Como o leitor Miguel Gross sugere, a novela deveria ser intitulada de A Escola do Crime e da Maldade.

Enquanto as câmeras do Cidade Alerta, Repórter Cidadão, Brasil Urgente focalizam perseguições a assaltantes de bancos, traficantes ou mostram ?ao vivo? acidentes na ruas de São Paulo, as da Globo focalizam pancadaria, seqüestros, chantagem, vinganças diabólicas e uma série de assassinatos.

A república em que moram as aspirantes a modelo que, em princípio, deveria representar o glamour da moda, tornou-se um ringue do terror. O ninho das bonitinhas é palco de toda violência: bate-bocas homéricos, invasão de traficantes armados com metralhadora e ladrões pés-de-chinelo.

A adolescente Gabriela (Mel Lisboa) vive levando bofetada do amante Bruno (José de Abreu) na frente do filhinho, quando não é esganada pelo namorado Beto (Marcio Kieling). E já está escrito: antes de subirem os créditos finais, será assassinada por Bruno que já deu fim em pelo menos duas mulheres. As irmãs inimigas Selma (Alessandra Negrini) e Andréa já se digladiaram à beira de um abismo. A pobre Andréa perde a memória porque acha que matou a vilã.

Essa, diríamos, adequação da novela à tendência do momento – a violência real dramatizada por correria atrás de soldados da PM, acompanhada pela narração de repórteres sem fôlego – trouxe dividendos para a Globo. Desejos de Mulher, que começou com 28 pontos de média no Ibope (na Grande São Paulo), bateu nos 34 esta semana.

Do ponto de vista de resultado, a Globo acertou. A receita, no entanto, desandou pelo excesso. Se a perversidade do cotidiano é retratada com lente de aumento pelos programas policialescos, por que contaminar um horário que deveria ser de entretenimento com a sua representação?

A diversidade, reivindicada hoje por todos os segmentos, precisa sensibilizar aqueles que decidem a programação da TV."

 

TV PAGA / ELEIÇÕES

"Horário gratuito agita TV paga", copyright O Estado de S. Paulo, 4/8/02

"Além de marqueteiros e candidatos, outra turma está ansiosa pela chegada do horário político: a da TV paga.

De olho na migração do público que, sem paciência para promessas eleitoreiras rumo aos canais por assinatura, programadores se preparam para faturar mais no período. São pacotes especiais, descontos, promoções, um vale-tudo para fisgar os anunciantes na temporada em que a fuga da TV aberta – que exibirá horário eleitoral de 20 de agosto a 2 de outubro – é mais do que certa.

Atento à audiência da propaganda eleitoral, o mercado aposta que a migração de público dos canais abertos para os pagos ficará em torno de 5,4% no período do horário eleitoral.

É uma perspectiva que pode ou não se confirmar, já que esta será a primeira eleição desde que a audiência da TV paga é aferida pelo Ibope.

?Em 2000 (eleições para prefeito e vereadores), por exemplo, observamos uma queda de ibope da TV aberta de cerca de 18% no horário político exibido à noite e 27% no da manhã?, diz o diretor de mídia da DPZ, Flávio Rezende.

?Nessa queda, há o porcentual que migra para a TV paga e essa fatia nos interessa muito. Além de migrar, esse público tende a permanecer mais tempo nos canais por assinatura, mesmo com o término do programa eleitoral?, continua. ?É a boa oportunidade deles. Pesquisas mostram que a TV paga pode faturar 15% a mais neste período em relação à mesma temporada do ano passado.?

De olho nesse número, programadores lançaram espaços comerciais para todos os gostos. A Fox e o National Geografic terão um pacote fechado de anúncios para a época de eleições, com 180 inserções estrategicamente posicionadas nas duas faixas de horário político(das 13 às 13h50 e das 20h30 às 21h20), durante os seus 42 dias.

Segundo o diretor comercial do canais HBO, HBO2, Warner, Cinemax, Mundo e History Chanel,Cláudio Ferreira, a medição de ibope ajudará na comercialização desses pacotes. ?Imagino que na próxima eleição será melhor ainda, pois já teremos os dados da audiência desta para nos apoiar.?

Programação – Os programadores juram que não farão mudanças por causa do possível aumento de público. Uma das justificativas é o fato de uma das faixas de exibição da propaganda política já ser o horário nobre da TV paga. ?TV é hábito e não vale a pena mexer na programação por um espaço tão curto de tempo?, fala o diretor comercial dos canais Globosat, Cláudio Santos.

TV Aberta – Para Flávio Rezende, da DPZ, enquanto a TV paga comemora, a TV aberta está se mexendo para não perder tanto no horário eleitoral. Segundo ele, pela primeira vez alguns canais abertos estão disponibilizando breaks comerciais e cotas de patrocínio para produtos que têm a ver com eleição, inclusive, no horário político. A Globo é uma delas.

A emissora está oferecendo comerciais nos blocos sobre eleições dos seus noticiários, nos debates com os presidenciáveis e nos programas e E Agora presidente? e E Agora, Governador?

?Não é nada fácil vender espaços comerciais para esse tipo de produto, mas temos de lembrar que, este ano, o horário eleitoral pode despertar muito mais interesse. Será uma eleição para presidente e nosso País está em uma situação muito delicada?, diz Rezende. ?Basta o povo se interessar pelo horário político para o anunciante ir atrás.?"

 

FOLHA NA USP

"Jornalismo da USP terá disciplina sobre a Folha", copyright Folha de S. Paulo, 4/8/02

"A Folha e a ECA (Escola de Comunicações e Artes) da Universidade de São Paulo assinaram um convênio pelo qual o jornal será analisado em uma disciplina do curso de jornalismo e editoração.

A matéria, optativa, será ministrada pelo professor livre-docente José Coelho Sobrinho, 57, às terças-feiras à noite (das 19h30 às 22h). Embora existissem apenas 60 vagas, acabaram sendo aceitas as matrículas de 63 alunos.

Além de estudantes de jornalismo, há inscritos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e da Faculdade de Economia e Administração, entre outras, na matéria. As aulas terão início depois de amanhã.

No próximo semestre, a mesma optativa será oferecida aos estudantes no período da manhã.

A disciplina, apresentada pela primeira vez pela ECA (antes só havia uma matéria similar sobre revistas semanais), objetiva permitir que os ouvintes tenham uma visão ampla da estrutura e do funcionamento de um jornal: ?É um estudo de caso de um jornal diário?, diz Coelho Sobrinho. ?A Folha, com seus profissionais, vai ajudar a ministrar o curso.?

Exposições

Em cada aula, jornalistas e colaboradores do jornal falarão sobre suas áreas. Nesta terça-feira, haverá uma introdução ao tema, que será seguida, na próxima semana, por palestras de Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor-adjunto de Redação do jornal ?Valor Econômico? e ex-secretário de Redação da Folha, sobre ?A implantação do Projeto Folha?, e de Eleonora de Lucena, editora-executiva do jornal, sobre ?Os desafios da Folha e da imprensa?.

Nas aulas seguintes, outros 31 jornalistas -entre repórteres, colunistas, editores e secretários de Redação- vão abordar os demais aspectos da produção de um jornal diário.

As exposições serão encerradas no dia 3 de dezembro, com uma palestra de Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal, sobre a ?História da Folha?."