Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Leila Reis

ASPAS

VIOLÊNCIA E BAIXARIA

"O sexo sobe à cabeça de quem faz TV", copyright O Estado de S. Paulo, 14/07/01

"Assistir a um ?escravo? ser torturado por duas sádicas é programa para a turma do sofá às 10 da noite? Discutir, às 3 da tarde, se o tamanho do pênis faz diferença para o portador (ou para a mulher) é educativo? E as questões relativas à complacência do hímen?

Pode até ser, mas quando a disputa fica muito acirrada na TV, o pessoal acaba perdendo a cabeça. Parece que é isso que aponta o futuro imediato porque, está comprovado, os profissionais do vídeo trabalham olhando para o terreiro do vizinho para se certificar se as galinhas são mais gordas. Como o assunto sexo – agora revestido de curiosidade científica – está na pauta de vários programas, é natural que não só continue em alta, mas que migre para outras freguesias.

A TV é assim mesmo desde que nasceu, em 1950. Ela vive de ciclos que explodem e minguam depois de algum tempo. Houve uma onda de programas de calouros (Chacrinha, Bolinha, Flávio Cavalcante, Barros de Alencar, etc.), de quiz shows (O Céu É o Limite, 8 ou 800, etc.), de jornalismo policial (Aqui Agora, Na Rota do Crime, Cidade Alerta, Linha Direta…), de culinária. Hoje temos um quilo de fofoqueiros devassando a intimidade de personalidades do show biz pela TV e discussão sobre sexo.

Não o sexo dos miseráveis, explorado pelo Programa do Ratinho, que colocam em cena personagens de histórias de amor malsucedidas para despejar sua raiva (e grossa pancadaria) em cima do ex-companheiro, com a ajuda dos bizarros coadjuvantes de Ratinho.

Quarta-feira, Luciana Gimenez, sucessora de Adriane Galisteu no Superpop, da Rede TV!, passou o programa com um homem acorrentado a seus pés. Chicoteado e queimado por ?lágrimas quentes? de velas entornadas por duas sádicas vestidas a caráter, o homem ficava lá, subjugado, para ilustrar uma conversa atravessada sobre relacionamentos sadomasoquistas. ?Nunca transei com escravo, sou princesa?, esclarecia uma das mulheres. ?Eu sinto prazer em machucar?, ensinava a outra.

A apresentadora tentava envolver os garotos de um grupo musical e uma atriz de teatro (no pedaço, para venderem seus peixes) na discussão, mas eles não conseguiam disfarçar o queixo caído diante da situação e trataram logo de informar que, com eles, sexo era de outro jeito. Para fechar a noite, Luciana chamou ao palco uma drag queen (toda perfurada por piercings) para dublar uma música enquanto ralava o corpo com uma lixadeira elétrica.

Conseguiu uma audiência equivalente a 320 mil telespectadores na Grande São Paulo (quatro pontos de média no Ibope, um ponto a menos que sua comportada adversária – Adriane Galisteu (É Show, na Record).

Colega de emissora de Luciana Gimenez, João Kleber defendeu sua personagem Paulete Pink com um discurso inflamado na terça (Te Vi na TV) para justificar a reprise de uma incursão do travesti pela Rua Augusta, a pretexto de entrevistar prostitutas mal saídas da adolescência. O discurso social não cola quando a traveca de peruca rosa insiste para as meninas revelarem as ?taras? de seus clientes.

Mais instrutivo do que isso, só a tabela exibida durante o Melhor da Tarde de quinta, na Bandeirantes, com a classificação dos tipos de pênis que ia de ?micro – 6 cm? a ?supergrande – mais de 18 cm?."

 

CLASSIFICAÇÃO

"Senado põe em debate lei ?light? para a TV", copyright Folha de S. Paulo, 14/07/01

"O Senado prepara uma audiência pública para discutir uma nova lei de classificação de programas de TV. O projeto propõe as mesmas normas da portaria 796, do Ministério da Justiça, que teve seu efeito anulado por uma liminar conseguida pelas emissoras.

Há, no entanto, uma diferença determinante em relação à portaria: o projeto de lei diz que as emissoras não são obrigadas a exibir os programas nos horários determinados pelo governo.

O discurso fica mais próximo à proposta de auto-regulamentação das TVs. O projeto de lei é do senador João Alberto Souza (PMDB-MA) e está na Comissão de Educação do Senado. No dia 26 de julho, o relator, senador Pedro Simon (PMDB-RS), fez o requerimento de uma audiência pública, que deve ocorrer após o recesso parlamentar. Depois disso, o projeto segue para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e, se aprovado, será votado.

A portaria 796 aguarda julgamento de duas ações: uma movida pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão e outra pelo PTB. Ambas alegam que a obrigatoriedade de seguir a classificação é inconstitucional."

 

GNT

"Gênios de verdade e os medíocres na televisão", copyright Jornal da Tarde, 14/07/01

"Excelente o primeiro documentário Leonardo da Vinci, da série de três intitulada, Gênios, que o GNT começou a apresentar na última quarta-feira. A série é enfocada em conhecimentos e ciência, por isso Leonardo da Vinci foi apresentado principalmente como um homem de ciência e artista. Via o desenho como escrita da ciência e seu espírito aventurou-se pela anatomia, geometria e arquitetura. Dissecava cadáveres para estudar o funcionamento do corpo, seus volumes e movimentos. Os desenhos ?científicos? que fez inauguraram o padrão desse tipo de descrição nos séculos seguintes, até recentemente.

O documentário mostra sua extraordinária visão tridimensional da geometria, presente em projetos e desenhos, que já trazem em si vários ângulos de visão. Até no corpo humano via relações geométricas. Grande parte de suas ?invenções? superava a tecnologia da época e foi mostrada no documentário com animações computadorizadas. Na área da pintura, o trabalho destaca duas obras-primas, das mais famosas do mundo: a Mona Lisa e a Última Ceia. Chamou a atenção, pela força dramática extraordinária, os seus esboços para um painel representando uma batalha, que não foi realizado. A lembrança imediata é Guernica, de Picasso, que apresenta o mesmo sobrepor-se de horrores.

A série continua na próxima quarta, com Charles Darwin, e termina dia 25, com Pitágoras, sempre apresentando documentários de uma hora de duração. O interessante do trabalho é que os realizadores, ingleses, procuram colocar o personagem no contexto de sua época, para mostrar o seu avanço na área do conhecimento. Pitágoras, por exemplo. Diz um entrevistado que, na prática, 500 anos antes de Cristo, ninguém precisava do cálculo exato da hipotenusa, medi-la bastava para suas necessidades. Mas Pitágoras era fascinado pela beleza abstrata do cálculo.

Pisou – Muito boas as imagens do jogo Brasil e México. Primeiros-planos fortes, detalhes enriquecendo a narrativa, foco sempre no principal. Se eram imagens colombianas, surpresa. Se eram mexicanas, confirmam o avanço deles. Já o futebol da Seleção Brasileira… Humilhantes as cenas do banco mexicano rindo de jogadas nossas, de jogadores de seleção atrapalhando-se com a bola. ?Pisar na bola? não é mais uma metáfora.

Bahia – Chocante a reportagem sobre o que aconteceu em Salvador na madrugada de ontem, com a polícia em greve, mostradas nos telejornais da Band. Depois, imagens de batalhões de policiais militares usando aqueles capuzes de malha para esconder o rosto, como os que os bandidos usam. Onde é que se vende aquilo, quem produz tanta quantidade, por que não se apreende? Vale pequena matéria.

Rubinho – Neste sábado, às 22h30, Nelson Piquet vai dizer, no programa Bola da Vez, do ESPN Brasil, coisas como: ?Rubinho não está no mesmo nível dos outros pilotos.?

Salinger – J. D. Salinger, um dos melhores escritores contemporâacirc;neos, esquisitão como homem, será focalizado hoje no canal GNT, às 17 h. Seu livro O Apanhador no Campo de Centeio foi dos primeiros a retratar o comportamento, os valores e a linguagem da geração que revirou os anos 60 nos Estados Unidos. Vale a pena conferir."

    
    
                     

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