Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Leniência na TV


“A concorrência cada vez mais acirrada pela atenção dos telespectadores e verbas dos anunciantes deve marcar a televisão brasileira no ano 2000. A Rede Globo, eterna campeã de audiência, não corre o risco de deixar a liderança. Mas não quer mais perder terreno para as rivais SBT e Record. Por isso decidiu investir pesado no que os analistas rotulam como ‘popularização’ dos programas. Famosa pelo padrão global de qualidade, a emissora deve abrir brechas cada vez maiores na programação para encaixar produções com forte apelo popular, casos da apresentadora Ana Maria Braga, do humorístico Zorra Total e de alguns episódios do Você Decide, que já estão no ar.

Para Daniel Barbará, presidente do Grupo de Mídia, este ano será marcado por programas com vida curta, abordados por índices de audiência considerados insatisfatórios por diretores de programação e anunciantes. Ele acredita que a disputa afetará principalmente os horários nobres, entre 19h00 e 23h00, e durante as tardes de domingo. ‘Os anunciantes estão cada vez mais interessados no horário nobre, nunca se vendeu espaços com tanta antecedência. Praticamente todos os intervalos desses horários estão vendidos até o final do ano’

A expansão dos canais por assinatura, o avanço tecnologia, que permitirá fazer da televisão um computador, e o aumento de vendas de novos aparelhos de TV para as classes C , D e E, são as principais causas da popularização das emissoras abertas, dizem os analistas.

A Rede Globo não quer ceder essa audiência ‘popular’ para as outras emissoras. Desde o segundo semestre do ano passado, saiu em busca de novos produtos para conter os avanços da concorrência. Trouxe Ana Maria Braga, Serginho Groissman, Luciano Huck e Jô Soares, novas estrelas da casa.

No SBT e na Record, a tendência de popularização já se consolidou e, em alguns horários alcançou o resultado almejado: empatar ou superar a líder. Os novos programas que esses canais colocam no ar este mês refletem s preocupação com a popularização. A Record estréia um infantil inspirado no seriado mexicano Chaves e um outro comandado por um apresentador chamado Ed Banana. No SBT, as estréias trazem Dercy Gonçalves, uma reedição do Fantasia, um programa apresentado pelo veterano Moacyr Franco, sem contar as novelas mexicanas.

O novo ano começou também com o fim de um mito sustentado por anos pela direção das emissoras: a de que o verão não é uma boa época para estréias. Desde o ano passado, quando a Rede Globo estreou uma novela e uma minisérie – a cultuada O Auto da Compadecida, no mês de janeiro, os programadores perceberam que o período é de férias sim, mas que o telespectador continua assistindo televisão. Por conta da ‘descoberta’, o SBT lançou sua nova programação este mês, a Rede Record estréia novos programas nos próximos dias, e a Globo já exibe a superprodução A Muralha, minissérie que conseguiu no dia da estréia uma audiência de 44 pontos.

A Rede Bandeirantes lança este mês um infantil comandado e produzido por Daniel Azulay. Esse produto, assim como o infantil Miguelito, da Record e um programa sobre pesca (também na Record), indicam uma outra tendência, a da terceirização das produções. ‘Esse processo é muito parecido com o que vem ocorrendo com a economia brasileira’, explica Barbará.”

“Concorrência ‘populariza’ programação da TV”, copyright Gazeta Mercantil, caderno São Paulo, 12/1/00

 

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