Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Limites da pesquisa quantitativa

“Febre” nos cursos de pós-graduação em mídia desde os anos 70, as famosas pesquisas quantitativas – ou content-analysis – não estão sendo mais usadas unicamente e isoladamente como base científica para teses e argumentos. Na Grã-Bretanha, por exemplo, estudantes de graduação, mestrado e doutorado são orientados a acrescentar outros instrumentos de “sustentação”, como semiótica, entrevistas e questionários. Apesar da técnica ser bastante popular entre pesquisadores de comunicação – porque permite uma observação de como a mídia se comporta sobre determinados assuntos -, há um consenso geral de que a natureza da pesquisa é também significativamente limitada. A opção “triangular” (inclusão de entrevistas e análise semiótica) é vista como a mais segura para evitar distorções, ou seja, para prevenir generalizações quantitativas sobre dados qualitativos. Usando content-analysis não há como “avaliar” de que maneira a mídia influencia o público; que “discursos” e “imagens” estão contidos num artigo de jornal etc. Ou, ainda, a freqüência com que certos temas aparecem no noticiário pode levar o pesquisador a conclusões precipitadas, porque pesquisas quantitativas nem sempre fornecem mensagens relevantes (mudanças nas conjunturas política, econômica e social etc.).

Também há limites em relação à estrutura das categorias e definições usadas para a análise. Minha pesquisa sobre o noticiário internacional do Jornal Nacional esbarra neste aspecto. Até que ponto uma matéria sobre uma cidadezinha na Espanha onde homens estão à procura de mulheres para casar pode ser enquadrada como “curiosidade”, “variedade” ou “cultura”? Um remédio “milagroso” descoberto na Inglaterra é mesmo considerado uma notícia convencionalmente `internacional’?

Sem dúvida, pesquisas quantitativas revelam tendências, comparam níveis de cobertura e descrevem focos, indivíduos e grupos. Basta checar a vasta literatura sobre content-analysis disponível desde os anos 50. No entanto, acadêmicos como Klaus Jensen, Nicholas Jankowski e Thomas Lindoff (leia sugestão de bibliografia abaixo) afirmam que para referendar e validar qualquer estudo envolvendo os meios de comunicação de massa é necessário explorar outras fontes de pesquisa (principalmente questionários e entrevistas com os atores sociais em questão).

Dessa forma, garante-se uma ampla discussão sobre o tema e rompe-se a fronteira da superficialidade à qual os profissionais de mídia estão sempre sujeitos.

Sugestões bibliográficas:

Lindoff, Thomas R. (1995) – Qualitative Communication Reseach Methods, Londres, Sage Publications.

Jensen, K. e Jankowski, N. (1991) – A Handbook of Qualitative Methodologies for Mass Communication Reseach, Londres, Routledge.

Berger, A. (1982) – Media Analysis Techniques, Londres, Sage

Literatura básica sobre content-analysis:

Berelson, B (1952) – Content Analysis in Communication Reseach, Nova York, Free Press.

Holsti, R. (1969) – Content Analysis for the Social Sciences and Humanities, Massachusetts, Addison-Wesley Publishing Company.

Rosengren, K. (1981) – Advances in Content Analysis, Londres.

Sage Weber, R. (1985) – Basic Content Analysis, California, Sage.

(*) Maria Esperidiao foi subeditora de suplementos do Jornal do Commercio do Recife e é aluna do mestrado em Estudos do Jornalismo da Universidade do País de Gales.

Mande-nos seu comentário