Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Limpeza pós-Fujimori

TELEVISÃO PERUANA

Grandes executivos de emissoras de televisão peruanas são os mais novos personagens que vieram a público nas fitas da coleção do ex-chefe de espionagem de Alberto Fujimori, Vladimiro Montesinos. Eles aparecem recebendo generosas quantias em dinheiro em troca de apoio ao governo do ex-presidente, que atualmente está foragido no Japão. O envolvimento com corrupção sujeita os donos de emissoras à perda de suas concessões.

Segundo Scott Wilson [Washington Post, 18/12/01], há seis emissoras penduradas no processo de investigação do Congresso peruano, e pelo menos três proprietários de TV já fugiram do país. Ernesto Schutz é um dos contemplados pelas gravações de Montesinos. Dono da Panamericana Television, ele aparece recebendo US$ 350 mil em uma fita. Em outra, Schutz vai mais longe: "Tenho grandes necessidades ? pelo menos US$ 12 milhões." Ao receber uma contraproposta de US$ 9 milhões, recusa, alegando não ser possível cumprir as exigências do chefe de espionagem por este valor. Investigadores apontam que Montesinos, que está preso, chegou a pessoalmente redigir textos de telejornais e demitir repórteres inconvenientes.

A cassação de concessões e sua conseqüente redistribuição têm sido fator de complicação no esforço do atual presidente, Alejandro Toledo, em esclarecer as ilegalidades do governo Fujimori. Como não teve apoio de boa parte das TVs em sua campanha eleitoral de 2000 contra o ex-presidente, Toledo faz o possível para afastar acusações de que estaria se vingando das emissoras. De qualquer modo, nenhuma voz se levantou em defesa das TVs, o que indica que os processos são, em geral, bem-vistos. Apesar do "patrocínio" de Montesinos, as TVs peruanas estão quebradas: a corrupção só beneficiou os donos, que ficaram com todo o dinheiro.

O escritor Mario Vargas Llosa, que perdeu para Fujimori a eleição presidencial de 1990, comentou que deixar as emissoras de TV com suas concessões é como deixar um ladrão com sua arma.

BEST-SELLER

Um livro que "acusa" a emissora americana CBS News de tendências liberais entrou no dia 23 na lista de best-sellers do New York Times após uma semana apenas nas livrarias. "Bias: A CBS Insider Exposes how the Media Distort the News" (Tendência: íntimo da CBS mostra como a mídia distorce as notícias), escrito pelo ex-correspondente da CBS Bernard Goldberg, começa em 13? na relação de livros mais vendidos.

Como informa Paul Colford [New York Daily News, 18/12/01], a boa vendagem é admirável, considerando que entre os best-sellers estão quatro coletâneas de fotos dos ataques de 11 de setembro. "Um livro chegar à lista de best-sellers na primeira semana, quando a distribuição só atingiu 20% dos pontos de venda, é prova de grande demanda", disse Alfred Regnery, presidente da editora, a Regnery Publishing.

O sucesso de "Bias", assim como o êxito em vendas de livros dos comentaristas Bill O’Reilly e Rush Limbaugh, refletem o apetite do público por saber como funciona a mídia. A obra de Goldberg ganhou destacada matéria no Washington Post no dia 3 e crítica em 13/12 no The Times, além de uma hora no programa de rádio de Limbaugh.

O livro foi lançado cinco anos após a publicação de uma matéria de Goldberg no Wall Street Journal na qual ele afirmava que os telespectadores não deveriam acreditar nos noticiários das grandes redes, pois "a maioria dos repórteres tem naturalmente uma tendência liberal". A CBS não opinou sobre o livro, e em curta declaração disse que Goldberg pediu uma reunião com a rede pois não quer ser retratado como mentiroso ou funcionário ingrato.