Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

László Varga

MÍDIA EM CRISE

“Globopar tem prejuízo de R$ 5 bi”, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/03

“A Globopar (Globo Comunicações e Participações S.A.), holding que controla empresas como a TV Globo, Net e Editora Globo, afirmou ontem que registrou um prejuízo de R$ 5 bilhões no ano passado. As perdas são 233% maiores que o prejuízo de R$ 1,5 bilhão que a companhia registrou em 2001.

A Globopar atribuiu o resultado às perdas provocadas pela desvalorização do real frente ao dólar no ano passado e ao provisionamento de receitas (transformadas em garantias para credores). A dívida da Globopar atingiu em dezembro passado um total de US$ 1,1 bilhão.

As perdas com a alta do dólar em relação ao real não conseguiram compensar o aumento do faturamento da Globopar no ano passado. A receita bruta da empresa somou R$ 1,4 bilhão. Um avanço de 16,5% sobre o faturamento de R$ 1,2 bilhão de 2001.

No quarto trimestre do ano passado, a TV Globo, principal fonte de receita da Globopar, registrou um faturamento líquido de R$ 680,4 milhões, o que significou uma alta de R$ 50,1 milhões sobre os R$ 603,3 milhões de 2001.

A Globopar afirmou, no entanto, que a TV Globo perdeu dinheiro com a cobertura dos jogos da Copa do Mundo de 2002 e a gastos com o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). O faturamento líquido da Globopar, descontados os impostos, caiu dos R$ 665,4 milhões registrados em 2001 para os R$ 663,1 milhões em 2002.

A Net, empresa de TV a cabo da Globopar, teve uma queda de 105 mil assinantes no quarto trimestre de 2002. O total de clientes da empresa passou para 1,3 milhão de pessoas. Segundo a Globopar, a Net conseguiu aumentar sua receita no quarto trimestre de 2002, que somou R$ 290,8 milhões, contra os R$ 288,6 milhões do mesmo período do ano anterior.

A Editora Globo registrou no quatro trimestre de 2002 um faturamento de R$ 72,2 milhões, abaixo dos R$ 80,9 milhões do mesmo período de 2001.

A Globopar deixou de pagar aproximadamente US$ 3 milhões de juros aos seus credores no dia 1? de novembro de 2002. No dia 5 de dezembro, mais US$ 25 milhões deixaram de ser pagos. Essas medidas levaram a companhia a deixar de pagar outras obrigações, caracterizando uma situação de ?default?. Atualmente, ela negocia o parcelamento de suas dívidas.”

“Diário do Comércio já aceita sociedade”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/06/03

O presidente do jornal Diário do Comércio, Luiz Carlos Costa, responsável por uma publicação que circula há 73 anos em Minas Gerais e que enfrenta hoje uma severa crise financeira, inclusive com ameaças de falência, declarou que está disposto a compartilhar a direção da empresa com outras parcerias, desde que o presumível sócio ?possua intimidade com a gestão de jornais e tenha capital para investir?. O problema é que o DC deve hoje mais de R$ 20 milhões, além de débitos respeitáveis com a Receita Federal e a Justiça do Trabalho e, mesmo estando incluído no Refis – programa de refinanciamento dos débitos do governo federal – não conseguiu arcar com os compromissos assumidos por esta alternativa. Costa se justifica dizendo que o jornal está se preparando para entrar novamente neste sistema: ?ou se faz o possível para pagar o impossível ou não se faz nada?.

O Diário do Comércio, publicação especializada em economia e negócios, tem, segundo Costa, cerca de 12 mil assinantes em Minas Gerais e pretende chegar a 20 mil assinaturas, já que cerca de 30% de seu faturamento resultam desta rede. As vendas avulsas são insignificantes.

Em crise permanente há cinco anos, com salários atrasados e incontáveis pendências na Justiça do Trabalho, o DC conta hoje com 100 funcionários, dos quais apenas 23 são jornalistas. Já chegou a ter um quadro de 200 trabalhadores. Depois do Plano Real, passou por uma série de ajustes negativos, com destaque para a redução de pessoal. Muitos dos ex-funcionários, incentivados pela direção, receberam seus salários atrasados na Justiça. Hoje, jornalistas que lá trabalham recebem no máximo 60% dos vencimentos, ?quando esta felicidade acontece?, conforme comentou o Chefe de Redação, Fernando Lana.

Costa garante que a relação entre a empresa e os funcionários queixosos ?é amigável, em âmbito judicial?, apesar de antigos colaboradores estarem há nove meses sem conseguir um só centavo. ?Nossas contas estão abertas a todos?, salienta. Mas os números estão zerados e, segundo Lana, as perspectivas são apenas ?esperar por um milagre e confiar na boa fé dos donos do jornal?. Há notícias de retiradas de até R$ 20 mil por parte de diretores, enquanto os jornalistas se contentam com alguns vales ocasionais e baratos.

O Diário do Comércio foi fundado em 1932, pelo falecido jornalista José Costa, com base em uma publicação que já mantinha, o Informador Comercial, que anunciava desde 1932 devedores e cobradores na praça financeira de Belo Horizonte. É um jornal exclusivamente dedicado à economia e já chegou a ter cerca de 20 mil assinantes em Minas, superando inclusive o Estado de Minas. Participou de importantes campanhas no estado, como a criação da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), na década de 50, e foi o primeiro jornal no Brasil a adotar o sistema de impressão off-set, além de ser pioneiro na informatização da redação, por volta de 1990. Também foi precursor em Minas na criação de um jornal de serviços semanal, o Jornal de Casa, semanário distribuído gratuitamente e que hoje é um encarte acoplado ao DC, às sextas- feiras.

Seu fundador, o jornalista José Costa, esteve à frente do empreendimento até falecer, em 1995. Foi sucedido pelo genro, Marcílio Gonçalves, brutalmente assassinado, juntamente com a esposa, pelo próprio filho drogado, em 1998. Neste mesmo ano, o filho José Motta Costa, o ?Costinha?, assumiu a empresa, mas pouco tempo depois morreu vitimado por um câncer. As fatalidades não impedem o DC de continuar circulando e Luiz Carlos tem a certeza de que ?dias melhores virão?.”