Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Último Segundo / Reuters

COBERTURA DO TERROR

"Cobertura do ataque da CNN lidera audiência nos EUA", copyright Último Segundo / Reuters, 19/09/01

"A CNN atingiu mais um recorde de ibope na sua primeira semana da cobertura dos ataques contra o World Trade Center e Pentágono.

A rede terminou em primeiro entre todas as TVs a cabo na semana de 10 a 16 de setembro, com um índice de 3,6 pontos no horário nobre, que representa 3,07 milhões de domicílios assistindo ao canal por cabo ou satélite. Esse número representa uma vantagem de mais de 1 milhão de domicílios à frente do segundo colocado, o canal Fox News.

A única vez que a CNN havia conseguido esse feito foi em fevereiro de 1991, durante as primeiras semanas da Guerra do Golfo.

Todos os 39 programas mais vistos da semana — fornecidos pela empresa matriz da CNN, a Turner Broadcasting — estavam ligados à cobertura da emissora, chamada de ??Attack on America?? (Ataque contra os Estados Unidos). A tranmissão foi realizada 24 horas por dia sem intervalos comerciais.

Chamando a cobertura de CNN de ?brilhante?, Tom Wolzien, analista de mídia da Sanford Bernstein, disse em um relatório para clientes que o trabalho da emissora mostrou ?cobertura de notícias ultrarápida e imagens poderosas, aliadas ao trabalho sensato da âncora Judy Woodruff e à sensibilidade equilibrada do âncora Aaron Brown.?

Wolzien disse que os números evidenciam a imagem da CNN como a rede a qual os assinantes de cabo recorrem quando uma grande crise domina o noticiário.

A MSNBC, que também deu cobertura 24 horas aos ataques, teve seu melhor desempenho até o momento, em terceiro lugar com 2 pontos de audiência (1,37 milhões de domicílios), de acordo com dados da Nielsen.

Wolzien disse que o desafio para a emissora é continuar com altos índices depois que a crise arrefecer."

 

"Hamid enfrenta ?escolha de Sofia?", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 21/09/01

"Hamid Mir, jornalista paquistanês de 36 anos, está escrevendo uma biografia autorizada de Osama Bin Laden. Quando termina um capítulo, ele o envia, através de um único portador, para que o biografado faça qualquer correção. Ele foi recentemente entrevistado pela BBC e disse claramente que, em hipótese nenhuma, revelará o nome desse portador.

Mir confirmou para Comunique-se, através da Internet, tudo o que disse à BBC, inclusive a declaração de que o governo do Afganistão, dominado pelos talibans, está certo em não entregar Osama Bin Laden sem que antes os Estados Unidos produzam ?prova sólida e convincente? de sua participação nos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono. Mir também disse que Osama e as pessoas que estão a seu lado ?não têm medo? das possíveis represálias americanas.

Osama Bin Laden esteve há poucos dias em Cabul, capital do Afganistão, fez um discurso em praça pública e foi embora a cavalo, de volta ao seu esconderijo. No pouco tempo em que esteve em Cabul, falou apenas a dois repórteres e um deles foi Hamid Mir, editor do jornal Daily Ausaf, na língua urdu, editado em Islamabad, capital do Paquistão.

Hamid Mir é considerado um fundamentalista, mesmo nos padrões da imprensa paquistanesa. Sua coluna no Ausaf tem um permanente tom nacionalista e anti-indiano, além de não esconder sua simpatia por Osama bin Laden.

Na entrevista à BBC (tão boa que vem sendo constantemente repetida pela emissora britânica), Mir fugiu das dezenas de perguntas espertas do repórter, que foi à redação do Ausaf em Islamabad, buscando uma contradição entre a simpatia por Osama e a condenação do terrorismo pelo Islã. E, em todas, o paquistanês repetia: ?Eu já lhe respondi. Os Estados Unidos, antes de qualquer exigência, devem apresentar uma sólida e convincente prova da culpa de Osama?.

A questão que fica é: se a polícia paquistanesa, dentro do novo quadro de plena cooperação do país com os Estados Unidos, decidir prendê-lo para que revele os nomes de seus contatos com Bin Laden, Mir deve cooperar em nome da luta internacional contra o terrorismo, ou deve continuar silenciando em nome do preceito quase-sagrado dos jornalistas de não revelar suas fontes?"

 

"?Justiça Infinita?, o trailer", copyright Folha de S. Paulo, 20/09/01

"Um festival de ?fontes do Pentágono? invadiu a cobertura da ?guerra contra o terror?, CNN à frente, para vazar que mais de uma centena de jatos F-16, F-15, bombardeiros B-1, enfim, todo o supermercado de armamentos estará a caminho do golfo Pérsico nos próximos dias. De novo.

Desta vez, em lugar da ?Tempestade no Deserto?, o título do filme deve ser, segundo as fontes, ?Justiça Infinita?.

Para ilustrar o trailer, como eram todas fontes que não se identificavam, entrou o USS Theodore Roosevelt, um porta-aviões que deixou sua base ontem. Marinheiros no alto, de branco brilhante, um deles de bandeira em punho.

Ao mesmo tempo, prosseguiam os vazamentos de outras ?fontes?, sobre supostos contatos entre os terroristas e o Iraque, que fica ali, no golfo. Dez anos depois, Bush filho volta ao teatro de Bush pai.

A CNN deve perder seu maior trunfo. Sua equipe afegã foi mandada embora. Mas as negociações prosseguem. No Iraque, dez anos atrás, Ted Turner dobrou Saddam Hussein.

Ainda sobre a CNN: um porta-voz do canal precisou sair a campo para questionar o boato de internet de que as imagens da comemoração dos palestinos, no primeiro dia, eram na verdade de dez anos atrás. Vale reproduzir, traduzido do inglês:

– A CNN rejeita como sem base e ridículas as alegações que estão circulando pela internet… A CNN aplaude a Unicamp por esclarecer a verdade.

Sim, é isso mesmo. O e-mail surgiu na Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas, de um estudante. E foi bater até na Associação de Jornalistas da Palestinas, que caiu na história e chegou a atacar o canal por ?traição jornalística?.

O Brasil, finalmente, achou seu papel nessa ?guerra?.

Quem não vai nada bem é a rede americana ABC.

Seu âncora, o canadense Peter Jennings, foi o único a criticar George W. Bush e questionar sua capacidade de liderança, durante toda a semana passada. Como resultado, está sob o fogo pesado dos comentaristas da direita americana.

E esta semana, enquanto a CBS trazia o âncora Dan Rather e o comediante David Letterman chorando, o apresentador do ?Politically Incorrect?, da ABC, chamava as ações militares do país de ?covardes?.

Dois grandes anunciantes já suspenderam seus comerciais, Federal Express e Sears."

***

"Filme antigo", copyright Folha de S. Paulo, 21/09/01

"Voltar ao cotidiano da ficção política brasileira, depois de assistir aos atentados ao vivo, semana passada, é como ver uma reprise.

Nada parece ter mudado, ainda que o protagonista não seja mais Jader Barbalho ou ACM, e sim Ramez Tebet.

Ou ainda que os clipes de Duda Mendonça tenham agora como canção de fundo a obra de Caetano Veloso -como o próprio Mendonça, um recém-convertido a Lula.

O espectador sai informado de que a votação do relatório de cassação de Jader ficou para a semana que vem, ampliando a sensação de acerto geral, inclusive governo. O espectador se informa de que ?o clima é de total decepção? e que o senador Jefferson Perez quer abandonar o Conselho de Ética.

E que Ramez Tebet, já presidente do Senado, declarou em discurso que o Brasil ?não pode mais conviver com as desigualdades sociais?.

E que José Dirceu, finalmente reeleito presidente do PT, depois do ?mico? dos últimos dias, declarou à Globo que o Brasil precisa de uma política clara de distribuição de renda.

Daí a sensação de reprise, de filme antigo, em preto-e-branco.

Um filme, é preciso registrar, em que o Jornal da Globo aparece um dia dizendo que José Sarney não tem concorrente para presidente do Senado, embora um ou outro insista em concorrer, e no dia seguinte revela surpresa porque seu candidato não emplacou.

No outro filme, o dos atentados e da ?guerra contra o terror?, os canais Multishow, MGM e Fox, na TV paga brasileira, já anunciaram a transmissão do show em benefício das vítimas, hoje às 22h (21h de Nova York).

Por enquanto, as redes abertas brasileiras estão fora do Teleton globalizado, que nos Estados Unidos vai abranger praticamente todas: NBC, CBS, ABC, Fox, PBS, UPN, WB, Pax TV, Univision, Telemundo, Galavision, Telefutura.

No cabo, mas por enquanto só lá, nos EUA, a lista não tem fim: HBO, TNT, E!, MTV, VH1, Court TV, Discovery, Showtime, Lifetime etc.

A CNN ficou de fora.

O Dalai Lama deu entrevista à CNN, anteontem, pedindo paz. O papa João Paulo 2 ? viaja amanhã ao Cazaquistão, bem perto do Afeganistão, levando o mesmo discurso.

Nada que repercuta, porém, diante de Bush e suas ?palavras duras?, expressão da ABC, ontem, para novas ameaças aos afegãos."

***

"Mercado sem pátria", copyright Folha de S. Paulo, 18/09/01

"L ou Dobbs, o âncora de economia da CNN, surgiu ao vivo da Bolsa circundado pelo prefeito, o governador, os dois senadores e vários outros.

Riam todos -ou tentavam rir, até contar piadas, durante a primeira meia hora após a reabertura do mercado.

De Hillary Clinton a Rudy Giuliani, ainda que olhassem de quando em quando, tensos, para os números da queda, todos encenavam confiança.

Davam sequência ao esforço que havia tomado políticos e empresários na TV americana, desde o domingo: associar patriotismo com negócios.

O vice-presidente chegou a pedir na NBC que os americanos mostrassem aos terroristas como ainda tinham confiança na economia. Os americanos eram chamados a comprar ao menos uma ação -e não vender.

A Bolsa foi aberta com o hino informal do país. Uma bandeira gigantesca surgiu na entrada do prédio. Dentro, o secretário do Tesouro dizia à TV que esperava que os investidores agissem ?como americanos?.

Mas não teve jeito. No fim do dia, a BBC registrou:

– Alguns previam -e políticos pediam- que os investidores encenassem um ato patriótico no primeiro dia de negócios. Mas o temor de uma possível retaliação militar manteve as ações embaixo.

Mais que os atentados, teria sido a retaliação, a ?guerra?, a causa da queda recorde. Com ou sem patriotismo financeiro.

Ainda assim, a retórica prosseguiu e até piorou, no fim do dia. George W. Bush, sem esconder mais o populismo:

– Quero justiça. E há um velho pôster lá no oeste que diz: Procurado, vivo ou morto.

A CNN, que renasce em episódios assim, deu nova rasteira nas concorrentes: domingo à noite, jogou no ar as primeiras cenas do alto, de um helicóptero, dos prédios no chão.

Agora espera a ?guerra?, sozinha no Afeganistão.

Mas quem cansar da CNN e da BBC, transmitidas por cabo e satélite no Brasil, sempre pode recorrer à internet.

Das redes americanas, CBS e NBC disponibilizam imagens selecionadas de sua cobertura e programas. A ABC vai além: com quedas eventuais, apresenta a programação ?live?. O mesmo acontece com os canais da C-Span e o NY1, o ótimo canal local de Nova York.

O problema: imagem e som são ruins, aos pulos etc."

    
    
                     
Mande-nos seu comentário