Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Luciana Bonadio

MEMÓRIA / ANDREA
CARTA

“Jornalista cai de prédio e morre nos Jardins”, copyright
Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 16/09/03

“O jornalista Andrea Carta, 44 anos, caiu na madrugada desta terça-feira
do 5? andar do edifício número 78 da rua Sarandi,
nos Jardins, zona sul de São Paulo. O proprietário
do apartamento é o empresário Rogério Fasano,
que teria presenciado a morte do amigo. Carta era o diretor-responsável
da ?Vogue Brasil?.

De acordo com a delegada plantonista Ana Lúcia Junqueira,
do 78? Distrito Policial, tudo leva a crer que Carta se suicidou.
?As informações que nós temos levam a crer
que foi realmente um suicídio (…) Não existe nenhum
indício de homicídio?, afirmou a delegada na manhã
desta terça-feira. Os dois estavam sozinhos no local no momento
da queda.

O jornalista teria ido na noite de segunda-feira ao restaurante
do Hotel Fasano, de propriedade da família Fasano, para uma
reunião de trabalho. De acordo com testemunhas ouvidas pela
polícia, os amigos jantaram juntos e Carta teria exagerado
na bebida. Em suposto descontrole emocional, o jornalista teria
se alterado, falando alto no restaurante.

No depoimento à polícia, Fasano afirmou que o amigo
cobrava mais atenção dele. ?A vítima alegava
que, apesar dos muitos anos de amizade, não estava tendo
muita atenção do Rogério?, segundo a delegada.
Incomodado com a situação, o empresário teria
se retirado do restaurante em direção ao apartamento,
localizado na rua paralela à do hotel.

Quinze minutos após a saída de Fasano, Carta também
teria se retirado do local. Segundo a polícia, as câmeras
do circuito interno do hotel registraram a saída dos dois
em momentos diferentes. O jornalista se dirigiu ao apartamento de
Fasano e o empresário autorizou que Carta subisse. O funcionário
do prédio arrolado como testemunha teria confirmado que o
jornalista estava em ?embriaguez aparente?.

De acordo com a delegada, Carta teria começado a gritar
que iria se suicidar. Fasano não teria levado a ameaça
a sério e afirmado que iria dormir no hotel. Nesse momento,
o jornalista teria pulado pela janela localizada na sala de estar
do apartamento e se apoiado no parapeito. Fasano tentou segurar
o amigo com uma manta, segundo a polícia.

Apesar da atitude do empresário, Carta teria se desequilibrado
e caído. O jornalista ainda tentou se segurar no ar condicionado
o que, segundo a delegada, seria um sinal de arrependimento. ?A
impressão é que a intenção não
era se suicidar, mas só chamar a atenção?,
afirmou. A manta supostamente usada por Fasano foi encontrada no
local.

Sem sinais de briga

De acordo com a delegada, não havia sinais de briga no apartamento.
O único móvel quebrado é um ?puf? que fica
próximo à janela por onde Carta caiu. A polícia
acredita que o jornalista usou o móvel para pular a janela,
o que explicaria os danos no objeto.

Fasano chamou o resgate logo depois da queda, por volta das 2h40
da madrugada. Os bombeiros tentaram reanimar Carta, mas ele não
resistiu aos ferimentos e morreu no local. A polícia e a
perícia chegaram ao prédio por volta das 3h. A rapidez
com que tudo aconteceu – Carta saiu do hotel por volta das 2h30
– reforça a tese de suicídio, segundo a polícia.

Fasano compareceu nesta madrugada à delegacia acompanhado
do advogado, onde contou a história que, até o momento,
teria sido confirmada pelas testemunhas. Os dois eram amigos de
longa data, segundo a polícia, e Carta costumava freqüentar
o apartamento na rua Sarandi.

O zelador do prédio de Fasano, Manuel José de Souza,
confirmou que era comum Andrea ir ao edifício de madrugada.
Ele subiu ao apartamento de Fasano logo depois da queda e notou
que os móveis e os objetos estavam em seus lugares. O zelador
já mandou efetuar a limpeza da calçada em que caiu
o corpo, na lateral esquerda do prédio.

A polícia aguarda o resultado da perícia, que deve
sair em 20 dias, para confirmar a suposta embriaguez de Carta. Também
serão chamados para depor dois funcionários do hotel,
o porteiro do prédio que estava de plantão e os vizinhos.
Os moradores dos outros andares – o edifício tem um apartamento
por andar – não teriam ouvido nenhuma discussão.

Carreira

Além de ser diretor-responsável pela ?Vogue Brasil?,
Carta também esteve no comando da ?Casa Vogue?. Ambas as
revistas tinham mais de um quarto de século de existência.
A edição brasileira da ?Vogue? é a única
a não ser operada diretamente pela Condé Nast.

O jornalista costumava dizer que havia ?crescido? dentro da redação
dessas revistas, implantadas no Brasil em 1975 por seu pai, Luís
Carta (1936-1994). O jornalista começou a trabalhar aos 16
anos como office boy da revista ?IstoÉ?.

Depois dessa função, trabalhou com o fotógrafo
Lew Parella. Em seguida, foi para a Carta Editorial – responsável
pelas publicações da ?Vogue? no Brasil – como assistente.
Ele passou para a distribuição, sempre como assistente.

Antes de assumir funções mais hierárquicas,
ele fez uma série de estágios curtos na ?Vogue? inglesa
e na italiana. De volta ao Brasil, começou a trabalhar na
?Casa Vogue?, na qual ficou por cerca de cinco anos.

Após assumir o comando da ?Vogue Brasil?, permaneceu na
função. Andrea era sobrinho do conhecido jornalista
Mino Carta, diretor de redação da revista ?Carta Capital?.”

“Polícia investiga morte nos Jardins”, copyright Agência
Estado
, 16/09/03

“Policiais da Delegacia dos Jardins, na zona sul da capital paulista,
investigam a morte de Andrea Carta, de aproximadamente 50 anos,
parente do jornalista Mino Carta, da revista Carta Capital. Segundo
informações da Polícia Militar, por volta das
2h30 desta madrugada, André caiu de um apartamento do 5?
andar de um edíficio da Rua Sarandi, em Cerqueira César.
Andrea e Rogério Fasano, dono do apartamento e filho do proprietário
do Restaurante Fasano, um dos mais famosos da capital paulista,
haviam chegado pouco antes ao apartamento.”

“Jornalista Andrea Carta morre em São Paulo”, copyright
Reuters / UOL, 16/09/03

“O jornalista Andrea Carta morreu na madrugada desta terça-feira
ao cair do quinto andar de um prédio, de propriedade de seu
amigo e empresário Rogério Fasano, na região
de Cerqueira César, em São Paulo, chocando a elite
paulistana.

Carta, de 45 anos, era editor-chefe da Vogue Brasil e diretor da
Carta Editorial, que publica a revista. O título foi trazido
ao Brasil pelo seu pai, Luis Carta.

Ele era sobrinho do renomado jornalista Mino Carta, atual diretor
de redação da Carta Capital.

Segundo a Polícia Militar, quando a unidade de resgate chegou
à rua Sarandi, onde fica o prédio, não havia
mais nada a fazer. O caso está sendo investigado pela 78o
Distrito Policial, dos Jardins, zona sul da cidade, e o corpo foi
levado para o Instituto Médico Legal (IML).

O empresário Rogério Fasano, que estava com o jornalista
no momento da queda, é proprietário junto com sua
família dos restaurantes Gero e Fasano, além do novo
hotel Fasano.

De certa forma, ambos estavam ligados à indústria
do luxo na cidade, atividades que herdaram de suas famílias
italianas, um com publicações sofisticadas e o outro
na área gastronômica.

A empresária e consultora de moda Costanza Pascolato, colaboradora
da Vogue há 14 anos e amiga da família, lamentou a
morte de Carta e destacou sua obsessão pela qualidade dos
produtos que criava.

?Ele foi um trabalhador incansável?, disse Costanza à
Reuters ao telefone. ?Ele sempre enxergava os talentos das pessoas
e convencia pelo entusiasmo.?

Ela conta que os colaboradores sempre atrasavam o fechamento da
revista, mas que, nesta edição, a pedido do diretor-responsável
da revista, Ignácio de Loyola Brandão, todos se comprometeram
a fechar na próxima sexta-feira, como havia pedido Carta,
numa espécie de homenagem.

?Ele era uma gracinha, tinha bom gosto, era divertido. Seria um
bon vivant se não tivesse esse peso (da editora) nas costas?,
disse a consultora.

Segundo ela, as famílias Carta e Fasano eram amigas há
décadas e Rogério e Andrea se conheciam desde que
nasceram.

?Eles eram como irmãos, cresceram juntos. Um ouvia a opinião
do outro sobre tudo, se ajudavam?, contou.

ELEGÂNCIA PARA A ELITE

No meio editorial, Carta era visto como publisher de uma editora
que prezava pela elegância e sofisticação, atendendo
um público de alto poder aquisitivo.

?Com a Vogue ele investiu num nicho que é o de publicações
segmentadas, muito difícil no Brasil. Fazia revistas de alta
qualidade gráfica e vinha aumentando o leque de publicações?,
disse o jornalista Matinas Suzuki Jr., presidente do portal iG.

?Ele também era um cara de promoções e eventos.
Estava à frente de um grupo que movimentou muito a cidade
de São Paulo, sempre em sinergia com as publicações?,
afirmou.

?Andrea cresceu em redações. Gostava de jornalismo
e jornalistas (…), a pauta era bastante ampla, trazendo informações
de interesse da arte e da cultura.?

Loyola Brandão, escritor e diretor-responsável pela
Vogue, emitiu um comunicado no início da tarde desta terça-feira
lembrando que Andrea Carta aprendeu o ofício com o pai e
atuava tanto na frente editorial quanto na comercial.

?(Do pai) ele herdou o gene de fazer revistas de qualidade?, disse
em comunicado à imprensa, destacando que Carta começou
a trabalhar na editora aos 18 anos como assistente de Casa Vogue.
Sob seu comando, a editora ganhou outros títulos, como Vogue
RG, Vogue Jóias, Vogue Beleza e Homem Vogue, entre outras.

Carta deixa a ex-mulher, Sandra Bighetti, e dois filhos adolescentes,
Stefano e Luigi.”