Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lugar ao sol para ‘focas’

CURSO ABRIL DE JORNALISMO

Luiz Egypto

Em março de 1968, a Editora Abril promoveu um curso sobre redação e edição de revistas semanais. A esse programa candidataram-se 1.800 jornalistas, dos quais foram selecionados apenas 100. Deste grupo saiu boa parte dos componentes da primeira equipe do semanário Veja, que começou a circular naquele ano.

Em 1984, a idéia de um curso de formação de profissionais foi retomada por Alberto Dines, à época na Abril, e dessa iniciativa nasceu o Curso Abril de Jornalismo ? um programa destinado a jovens recém-formados com foco principal dirigido ao jornalismo de revistas.

As inscrições para a 21? edição do curso, a ser realizado no início de 2004, estarão abertas no período de 18 de agosto a 25 de setembro próximos. Poderão candidatar-se recém-formados em jornalismo (graduados em julho ou dezembro de 2003) e talentos das áreas de design e fotografia. No website do curso ? <www.cursoabril.abril.com.br> ? está o resumo do que acontece no transcorrer do programa:


"Durante quatro semanas, os alunos assistem a palestras, participam de workshops e, com orientação das redações, produzem a Plug:, uma revista-laboratório composta por revistas da Editora Abril. Com a missão de seguir a linha editorial de cada publicação, os alunos trabalham em grupo durante todas as etapas, da pauta ao fechamento. A Plug: é impressa é distribuída para os profissionais da Editora Abril, dos principais órgãos de imprensa do país e para as universidades. Quem quiser pode ainda participar da editoria especial, responsável pelo hot site do Curso Abril. Nesse espaço, os alunos fazem a cobertura completa do curso."


Desde 1992 o curso está sob a coordenação da jornalista Marília Scalzo, atual diretora de Educação Editorial do Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas do Grupo Abril. Há 15 anos na empresa, Marília trabalhou nas redações de Veja São Paulo, Playboy, Capricho, Casa Claudia e A&D. É com ela a entrevista a seguir:

Para que serve o Curso Abril de Jornalismo?

Marília Scalzo ? O Curso Abril de Jornalismo tem basicamente três objetivos: 1. selecionar e treinar jovens profissionais talentosos para trabalhar na Abril; 2. servir como treinamento e oxigenação para os profissionais que trabalham na Abril e que, ensinando, continuam a aprender e a pensar no que fazem; e 3. divulgar e ensinar jornalismo em revistas, a que as faculdades dedicam muito pouco tempo.

Como se estrutura o curso, qual sua duração e quantos alunos acolhe? 

M.S. ? O curso dura quatro semanas (sempre em janeiro/fevereiro) e acolhe, em média 50 alunos das áreas de jornalismo, design e fotografia. O curso é bastante prático: durante as quatro semanas fazemos uma revista ? a Plug: ?, sites, cdroms… Além disso, há uma programação intensa de palestras, workshops, conversas e visitas. 

Como são escolhidos os professores?

M.S. ? Há dois tipos de professores: os palestrantes, que são, na maioria, profissionais da Abril que podem falar sobre determinado assunto; e os orientadores, que são profissionais de uma determinada publicação onde um grupo de alunos ficará alocado e que orientarão o trabalho prático desses alunos.

Como avalia a formação recebida nas escolas pelos jovens que se inscrevem no curso?

M.S. ? Nós fazemos uma seleção muito grande. Recebemos, em média, duas mil inscrições para escolher 50 ou 60 alunos. Esses alunos com quem ficamos fizeram as melhores escolas, leram bastante e têm boa formação anterior, de casa. Talvez, por fazerem parte de uma fatia muito privilegiada da população brasileira (que estuda em boas escolas, viaja e lê), eles não sejam representativos do universo todo de formandos brasileiros. Leio os dois mil trabalhos que chegam todos os anos e posso dizer que metade é de jovens tão mal formados que dão pena.

Na seleção dos candidatos, a maior taxa de aproveitamento é de formados em escolas públicas ou privadas? O que significa isso?

M.S. ? A maior taxa de aproveitamento é das escolas públicas (e das PUC?s, que têm bom nível em várias capitais brasileiras) porque no Brasil, como a gente sabe, quem estudou em boas escolas desde o começo é quem consegue passar no vestibular para as escolas públicas. Os melhores alunos fazem esse caminho: boas escolas particulares nos ensinos fundamental e médio e escola pública, no superior.

Outras empresas jornalísticas ? não muitas ? mantêm cursos semelhantes ao da Editora Abril. Esta é a melhor maneira de formar mão-de-obra para as redações? As escolas de jornalismo não são capazes de cumprir esse papel?

M.S. ? Não se trata de competir com as escolas de jornalismo. Cursos de empresas são cursos de empresas. Não vão dar ao jovem profissional nenhuma formação, mas apenas mostrar como aquela empresa trabalha. Isso é o que era feito ao longo do primeiro ano de trabalho de qualquer "foca" dentro de uma redação. Hoje em dia, não há mais tempo nem gente disponível para isso e, por essa razão, as empresas fazem cursos. Lógico que, fazendo o curso, queremos fazê-lo cada vez melhor e mais aperfeiçoado, mas ele não deve e não pode ter a pretensão de ser um formador como as faculdades.

Qual a principal virtude do curso que você coordena e qual seu maior problema?

M.S. ? A maior virtude acho que é juntar pessoas muito diferentes e muito talentosas vindas de todas as partes do Brasil e deixar que elas criem uma porção de coisas dentro da empresa. Assim elas aprendem e ensinam e a gente também aprende e ensina. O maior problema hoje é não poder absorver todos esses profissionais maravilhosos que passam pelo curso. 

Qual sua posição sobre a obrigatoriedade do diploma em jornalismo para o exercício da profissão?

M.S. ? Não sou a favor da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Mas também não sou contra as escolas de jornalismo. Sou a favor do diploma de curso superior para o exercício da profissão e acho que a não-obrigatoriedade do diploma de jornalismo pode até ajudar as escolas de jornalismo a melhorar.