Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Luiz Costa

TELENOVELAS

"Quantos buracos pode ter uma história", copyright O Estado de S. Paulo, 25/08/01

"O que se pode esperar de telenovelas, best-sellers e filmes comerciais? Prensada pela baixa audiência, a Globo mudou tudo na novela A Padroeira. Matou personagens, inventou outros, afastou casais antes inafastáveis, deu uma reviravolta total na trama. A coisa ficou irreconhecível. Nem assim agradou.

O caso de A Padroeira chama atenção pela absoluta incerteza de sucesso quando se vira refém do público. Produtos comerciais, é verdade, são feitos para consumo ligeiro, de massa. Ninguém vai ver um Stalone esperando as sensações que veria em Greenaway, não se compra uma Glória Perez pensando encontrar um Guel Arraes nem se busca um Saramago em Paulo Coelho.

A platéia, sabe-se, é a meta e a medida dos produtos comerciais. O público acumulou tantas décadas de TV e cinema que já colecionou os próprios parâmetros para julgar o que funciona ou não numa história. São critérios empíricos, mas não desprezíveis. Um desses eixos é o fato de que, em qualquer telenovela, filme ou romance, mesmo o público mais cri-cri tende a querer uma lógica interna no mundo que lhe é oferecido.

Aceitamos de bom grado que um lobo fale com e engula Chapeuzinho Vermelho porque há um acordo tácito de que aquilo é uma verdade no horizonte de mundo da trama.

Um problema de A Padroeira era que os obstáculos a afastar os casais pareciam ora frouxos ora pesados para o horário. O tabu da mulher prometida a outro, vivido por Cecília (Débora Secco, histriônica), não parecia tão grande diante de um pai (Paulo Goulart) condescente demais. Já o amor incestuoso de Isabel (Mariana Ximenez) e Diogo (Murilo Rosa) assustou.

Agora, a tensão que separava os casais se intensificou. Pares como Cecília e Valentim (Luigi Barricelli) e Isabel e Diogo foram separados, vivem outros flertes, mudaram penteados e até personalidades. Um fiasco.

Caso curioso é o de Planeta dos Macacos, sucesso de público mas cheio de tropeços narrativos. Um deles é ter um herói sem brilho, que não faz nada de especial por meio filme e, mesmo assim, encanta macacos e humanos a ponto de fazer o impensável em raças inimigas: uni-las. Em momentos como esses, Planeta trai sua coerência interna, a própria lógica de sua história. Mas não a ponto de o público médio sentir-se incomodado. O filme mantém um eixo. Já A Padroeira é uma trama tão incoerente, com problemas de continuidade e confusa caracterização de personagens quanto Planeta. Mas tumultuou demais seu fio de meada. Até agora, a audiência não tem razões para perdoá-la."

 

CANAL 21

"Arrendamento de Canal 21 vira polêmica", copyright O Estado de S. Paulo, 22/08/01

"O anúncio de um possível arrendamento do canal 21 pelo iG provocou um reboliço no mercado. A assessoria do portal, presidido por Nizan Guanaes, garante que a empresa negocia a compra do Canal 21, do Grupo Bandeirantes, ou de outra emissora para transformá-la na TV City SP. O negócio contaria com a parceria do grupo canadense City TV, como consultora e virtual sócia do iG na formação do canal.

Enquanto a assessoria do iG confirma o interesse do portal em ter um canal de TV e as negociações com empresas de comunicação, como o Canal 21, a direção da Band nega veementemente a informação. Segundo o vice-presidente da Rede Bandeirantes, Antônio Telles, o negócio é uma ?especulação delirante? do mercado. ?Não há negociação alguma, nem sequer conversas atuais sobre arrendar o Canal 21 ou fazer qualquer tipo de parceria?, diz Telles. ?Pode até ser que o iG deseje realizar algo assim, mas entre o desejo e a consumação há um espaço bem grande.? Telles ainda diz que imagina de onde surgiu toda essa história.

?Há três anos, a Band chegou a realizar negociações para uma parceria operacional com o grupo canadense, o City TV, mas não deu certo. Não chegamos a nenhum acordo e as conversações acabaram?, explica o vice-presidente. ?Hoje, não há mais nada entre os dois grupos.?

A estratégia do iG de investir em um canal de TV já existe há algum tempo.

Nizan Guanaes chegou a negociar com João Carlos Di Gênio, proprietário do do Canal Brasileiro de Informação, o CBI. O portal também chegou a produzir conteúdo (atrações) para a Bandeirantes e para o Canal 21, iniciativa que acabou não dando certo."

 

MARCIA PELTIER

"Marcia Peltier estréia hoje programa dominical na Band", copyright Jornal do Brasil, 26/08/01

"A apresentadora Marcia Peltier vai ter de abrir mão de algumas das coisas que mais gosta de fazer aos domingos: no lugar do almoço com as filhas, um lanche rápido na redação, e, ao invés do sofá para um cochilo, um banquinho e muito trabalho pela frente. A partir de hoje, às 20h, ela assume o comando da programação jornalística de domingo da TV Bandeirantes, inaugurando um novo projeto da emissora.

Agora, além do programa Livre acesso – que sai do domingo e passa a ter apenas edições especiais -, ela será a âncora do Domingo com Marcia Peltier, espécie de revista semanal com reportagens sobre os fatos da semana. ?Haverá matérias internacionais e nacionais, uma entrevista ao vivo e uma reportagem especial que eu mesma vou desenvolver?, explica Marcia, que hoje pretende mostrar os bastidores da indústria farmacêutica no Brasil.

Domingo com Marcia Peltier também terá a presença de dois convidados especiais. O jornalista Fábio Panunzio, que prepara matéria especial sobre política, e Luciano do Valle, que assume a fatia esportiva do programa. ?Eles vêm para bater bola comigo?, diz Marcia, que garante entender bastante do assunto. ?Cobri as Olimpíadas de Atlanta, a Copa do mundo de 1998 e as Olimpíadas de Sidney. Sem contar que há três anos venho aprendendo um pouquinho a cada dia?, brinca, referindo-se ao casamento com o diretor do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Alberto Nuzman.

Descabelada – A apresentadora assinou contrato com a Bandeirantes em 1998, vinda de trabalhos na TVE (quando começou no jornalismo, em 1985), Rede Manchete e TV Globo, onde obteve maior projeção apresentando o Jornal Hoje. ?Entrevistei escritores como Carlos Fuentes e José Saramago?, recorda ela, que agora está lendo a autobiografia de um mestre iogue. ?Leio muito, adoro. Esse livro fala sobre os benefícios da ioga para o mundo ocidental.?

Marcia não pratica ioga (?ainda, porque vou praticar um dia?) nem outro exercício periódico, mas diz ter ?suas técnicas? para cuidar da saúde. ?É importante ficar de olho na respiração e na meditação?, ensina.

Apesar do distanciamento familiar que o novo programa vai impor, a apresentadora garante já ter encontrado consolo na capital paulista. ?Vou poder aproveitar aqueles restaurantes maravilhosos?, anima-se ela, que não faz dieta e agora se diz ?mais desencanada?. ?Estou com 42 anos, pode botar aí. Mudei muito de uns tempos para cá?, acredita. ?Mudei até o corte de cabelo, que é para não ter que ficar mais me preocupando se estou ou não descabelada.?"

 

REALITY SHOWS

"?Survivor? à chinesa", copyright Jornal do Brasil / Cox News Service, 24/08/01

"Dezesseis pessoas estão abandonadas numa pequena ilha da parte alta do Rio Yangtzé. Colhem ervas silvestres e caçam gafanhotos para sobreviver. Passam duas longas horas friccionando varetas de madeira para fazer fogo. A fome e o frio corroem suas entranhas.

Estas pessoas não são atores e este não é um filme. É TV realidade em estilo chinês. Inspiradas na série americana Survivor, embora negando com veemência qualquer semelhança, versões concorrentes de shows realidade estão surgindo na China. Mostram jovens separados em equipes, tentando sobreviver aos desafios da natureza e uns aos outros.

Os produtores chineses dizem que seus espetáculos enfatizam a unidade do grupo e a harmonia entre homem e natureza, e não a manipulação nem traições. Afinal, a televisão é um meio de comunicação estatal na China e um dos principais instrumentos para fazer propaganda de suas políticas e princípios. Contudo, até as ferramentas de propaganda têm sido pressionadas para dar lucro.

Comunismo – Cai Xiansheng, superintendente da TV Guangdong, que produz o Desafio da sobrevivência, sabe como seguir a linha partidária e, ao mesmo tempo, cuidar da linha básica do espetáculo. Ele moldou o programa inspirado na Longa Marcha de Mao Tse-tung (1934-1935), momento crucial na batalha dos comunistas contra o Exército nacionalista de Chiang Kai-shek.

?Não é divertimento?, diz ele. ?É mais uma experiência espiritual. Não há prêmio. Vai lembrar aos jovens as dificuldades da Longa Marcha e da revolução.? Os participantes, entretanto, sabem o que importa.

?Para eles, tolerar a fome não foi a parte mais assustadora?, disse um jornal de Yangcheng sobre o episódio na ilha. ?O que realmente os deixava preocupados era ser eliminados. No fim, apenas seis pessoas não chegaram a Shaanxi.? As chances são melhores do que as de Mao com seu precário exército. Depois de caminhar 9.600km durante um ano em 1934-1935, menos de um décimo deles sobreviveu à Longa Marcha e chegou a Yanan, sua base revolucionária ma província de Shaanxi.

Para Desafio da sobrevivência, o principal adversário é Viagem a Shangri-La. Com alimento para 10 dias e 10 fósforos, 18 pessoas devem sobreviver no alto platô tibetano no Sudoeste da China, perto das províncias de Yunnan e Sichuan. Os habitantes locais afirmam que a região inspirou o paraíso ficcional de Shangri-La em Lost Horizon (Horizonte perdido), de James Hilton.

Estrelas – Mais de 230 mil pessoas se candidataram para Viagem. Embora não haja prêmio em dinheiro, muitos são motivados pelo estrelato. Os programas permitem os espectadores votarem via internet nos concorrentes de que gostam ou naqueles que querem eliminados do espetáculo. Na primeira parte de Desafio da sobrevivência, que foi ao ar no ano passado, três pessoas tiveram seis meses e menos de US$500 para caminha em torno da China ao longo de suas fronteiras."

    
    
                     

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