Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Luiz Orlando Carneiro

JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, colaborou Ruy Sampaio Lima, 30/6/01

"Votos, partidos e mandatos

A dança de cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado, como conseqüência da legislação frouxa relativa à fidelidade partidária, foi objeto de editorial do JB, inspirado em estudo do Iuperj, segundo o qual 74% dos eleitores do Rio de Janeiro confessaram escolher candidatos sem considerar os partidos a que pertencem. A questão tem provocado comentários de leitores, como o selecionado para abrir esta seção.

Expressão Política

O editorial "Gato por Lebre", de 18/6, não chegou, a meu ver, ao cerne do problema da representação política do Brasil (face ao noticiário atual, não creio haver dúvidas de que realmente há um problema). O leitor Antonio Carlos Martins (Opinião dos Leitores, na mesma edição), sim, chegou lá, ao apontar o absurdo de um candidato com 8.995 votos ser eleito e outro, com 40.503 votos, ser descartado. E os suplentes, empossados, sem ter recebido voto algum? E a obrigatoriedade de registro partidário, que impede as candidaturas independentes (ou avulsas, como quer o editorial)? E a obrigatoriedade do voto? Lamentavelmente, o editorial nem chega a cogitar dessas questões. O jornalista, alheio ao fato de já vivermos sob uma ditadura dos partidos políticos (apesar de eu já ter lido neste mesmo jornal que só o PT pode ser chamado de partido), parece crer que tudo seria resolvido com a adoção da fidelidade partidária. Não vê, ou não quer ver, que essa providência servirá apenas para aumentar o controle que os partidos ? ou seja, os que os controlam, gente boa como ACM, Jader Barbalho, Paulo Maluf, Orestes Quércia, por exemplo ? já possuem sobre os correligionários eleitos pelo povo, gente que, justamente por isso, somente ao povo deveria satisfação de seus atos políticos. Na verdade, se queremos realmente resolver o problema da representação política brasileira, é necessária uma reforma profunda, que simplifique a atual legislação eleitoral, feita sob medida para distorcer a manifestação dos eleitores e preservar os interesses dos donos dos partidos políticos e dos que deles dependem para continuarem locupletando-se e atrasando a vida deste país. Tanto o voto , para o eleitor, quanto a filiação partidária, para o candidato, devem ser facultativos e não obrigatórios. O cidadão tem o direito de votar ou não. O candidato tem o direito de filiar-se ou não a um partido. A expressão política deve ser livre. E, evidentemente, toma posse somente quem tiver votos; primeiro, os que tiverem mais votos; depois os que tiverem menos. Se houver necessidade de substituições, deve-se aplicar o mesmo princípio. As eleições para cargos legislativos devem ser distritais. O candidato deve ter uma base territorial definida e de área razoável, de modo que todas as regiões sejam representadas. Marcílio Abritta ? Rio de Janeiro.

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O editorial "A Partir de 2002", do JB de 21/6, afirma que ?a França, ainda por cima, deve a si própria uma reforma política que acabe, entre outras coisas, com o longo mandado presidencial de sete anos…?. Ocorre que tal providência já foi tomada e, por isso, o artigo 6? da Constituição francesa, no seu texto atual, fixa em cinco anos a duração do mandato do presidente, por força de emenda constitucional de 2 de outubro de 2000, previamente aprovada por plebiscito popular de 24 de setembro de 2000. Carlos O. Saraiva ? Rio de Janeiro.

JB ? O leitor está absolutamente certo.

Pena de Morte

A questão da pena de morte , bem abordada , no editorial "Golpeando Forte", de 24/6, é uma daquelas polêmicas que revelam muito acerca do grau de respeito aos direitos humanos que se encontra nas diversas sociedades. À luz da amplamente noticiada execução do terrorista Timothy McVeigh, os Estados Unidos estão mais uma vez no centro de debate, colocados lado a lado com os regimes chinês e iraniano. Quanto a isso, aliás, os americanos não têm do que reclamar, pois são eles que adoram censurar governos repressivos como os dos próprios Irã e China e, ao mesmo tempo, permitem que se matem fetos e pessoas condenadas por crimes. Os institutos do aborto e pena de morte são cruéis e injustos, e quem os admite deveria pensar duas vezes antes de ousar falar em direitos humanos. Hugo Dart ? Rio de Janeiro.

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Uma vez mais o Jornal do Brasil foi o único do Rio de Janeiro (não li os de outros estados) a levar ao conhecimento de seus leitores, através do editorial "Golpeando Forte", de 24/6 , o acontecimento marcante que teve lugar em Estrasburgo, França, nos dias 21, 22 e 23 de junho: O Primeiro Congresso Mundial Contra a Pena de Morte. Há mais de três meses, defensores dos direitos humanos vêm recebendo a petição via internet para assinar a Cyber-Pétition, manifesto contra esse castigo cruel e desumano. Foram cerca de 1 milhão de assinaturas e, acredito, mais seriam se a mídia tivesse dado a devida cobertura ao congresso, com a conclusão a que se chegou sobre o tema, aliás muito bem resumida no editorial citado. Na página da internet <www.e-cart-type.com>, quem estiver interessado no assunto encontrará desde os objetivos do congresso até os discursos de encerramento de todos os presidentes de Parlamentos europeus. Maria Cecília Gouvêa Waechter ? Rio de Janeiro.

Música

Para Silvio Essinger, os quatro LPs gravados na época da Jovem Guarda por Wanderléa (isso mesmo, Wanderléa!) são ?clássicos?. Segundo ele, The Cure e The Smiths reabilitaram nos anos 80 0 ?rock aventureiro e fiel aos princípios dos primeiros dias?, sugerindo um absurdo paralelo entre esses dois representantes do, quando muito, terceiro escalão e gigantes do rock como Beatles, Led Zeppelin. Num de seus mais recentes arroubos hiperbólicos, ele decretou que com uma única música ? Good Vibrations, brilhante, sem dúvida ? os Beach Boys ?mudaram a história do pop?. Em seu incontido deslumbramento, artistas medianos viram ?gênios?, musiquinhas chinfrins são ?clássicos? e qualquer disco apenas bonzinho é uma ?obra prima? empolgante e arrebatadora?. Silvio Essinger é a Márcia de Windsor (?minha nota é dezzzz!?) do terceiro milênio. Nivaldo Agostinho Lemos ? Niterói.

JB ? Silvio Essinger responde: Infelizmente, não tenho outra escolha que não a de aplaudir as observações do leitor. Por mais que continue achando que Wanderléa (isso mesmo, Wanderléa) seja um clássico ? da Jovem Guarda, inegavelmente ? e siga comparando Smiths e Cure a Led Zeppelin e Beatles (sem dúvida, algumas das maiores bandas de suas respectivas décadas), agradeço muitíssimo o alerta para os perigos do deslumbramento, os quais realmente desconhecia. Desculpe-me o leitor, mas não me foi possível deixar de apreciar os vários capítulos da história da música ? simplesmente não consigo deixar de me empolgar e reconhecer o valor das manifestações musicais de todas as décadas. O leitor pode ter certeza de que há muita, muita coisa mesmo na música que eu acho abominável. Mas acredito que devemos estar fartos delas.

Urbanização

Li o editorial "Adeus às Ilusões", de 26/6, e fiquei pensando: tudo bem, que venham os arquitetos alemães, os designers, e urbanizem as favelas, já que a remoção seria mais complicado ainda. Mas porque não se toma uma providência para evitar que outras cresçam? Moro em Botafogo, e só vejo aumentar a ocupação do morro atrás do Cemitério São João Batista. Lídia Cordeiro de Oliveira ? Rio de Janeiro."

    
    
                     

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