Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Luiz Orlando Carneiro

A VOZ DOS OUVIDORES


JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 28/4/01

"O Senado na berlinda

Críticas severas a posições do JB , expressas em três recentes editoriais , direta ou indiretamente referentes ao grau de culpabilidade dos senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho na violação do sigilo do painel de votação do Senado, mostram, uma vez mais, que os leitores não se satisfazem , apenas, com uma leitura passiva do jornal. Sobretudo neste momento em que esta em curso um dramático processo de depuração do Senado ? a mesma Casa do Congresso que cassou, há pouco mais de oito anos, o mandato de um presidente da República.

Sigilo

Ao ler o editorial ?A verdade nos olhos?, de 22-4, fiquei pensando, qual o papel de um veiculo de comunicação no sentido de esclarecer a sociedade sobre o que ocorre no dia-a-dia. Pelo que entendi, nesse editorial há uma tendência a resguardar dois políticos da pior qualidade que este pais já teve ? Antonio Carlos Magalhães (PFL) e Jose Roberto Arruda (PSDB), ambos da base governista. E bem mais cômodo para o responsável pelo editorial ficar do lado de quem no momento está no poder, e atribuir a culpa a senhora Regina Peres Borges e ao senador Jose Eduardo Dutra (PT). Será que este jornal desconhece a história do sr. ACM, homem truculento que mantém como pratica política os métodos da ditadura militar, ou este jornal também foi conivente com o regime militar? O que dizer após a confissão vergonhosa do senador Jose Roberto Arruda, assumindo a autoria do crime? Irão vocês fazer um editorial pedindo que a sociedade brasileira perdoe o marginal de colarinho branco? Farão vocês o mesmo discurso de FH, dizendo que foi uma atitude de coragem e de dignidade? Sugiro a vocês que façam um editorial em defesa de Fernandinho Beira Mar, que se declarou um pecuarista. Como vocês mesmo encerram o editorial, a opinião publica esta cansada dessa quadrilha que comanda o Brasil desde 1950, chega de cumplicidade e de defender o poder. Estou indignado com o editorial deste jornal. Jose Luiz de Souza Lima ? Rio de Janeiro.

JB ? O editorial do JB não procurou ?resguardar? os senadores Antonio Carlos Magalhães e Jose Roberto Arruda nem atribuiu apenas à senhora Regina Peres Borges a culpa pela violação do painel de votação do Senado. Lá está: ?A atenuante para os autores da fraude e, no fundo, agravante, confirma o espírito de subserviente que submete Brasília a perda de responsabilidade individual. Assim, 24 horas depois de denunciados publicamente pelos fraudores, os senadores Jose Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães voltam-se contra o denunciante para desqualificá-la (…). A confirmação de culpa e a denúncia tardia vieram juntas, mas não eximem de responsabilidade a senhora Regina Peres Borges no comando da operação?. Quanto ao senador Jose Eduardo Dutra, ele não foi o alvo central do editorial, que afirmou, em seu penúltimo parágrafo: ?Estão nivelados pelas circunstancias tanto a aliança governamental como a nave capitânia da oposição, o PT , que tem um senador que, informado a tempo, não denunciou a frade programada?.

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O editorial ?A verdade nos olhos? , do JB de domingo, dia 22-4 , dá a entender que o PT , assim como o PSDB e o PFL, participou da violação do painel eletrônico do Senado e também de algumas consciências. E que , suspeito como o PMDB de Jader Barbalho, ?contribuiu para o espetáculo que não dignificou a vida do parlamentar?. Sejamos justos: o senador petista José Eduardo Dutra ouviu de ACM que sabia de todos os votos, mas a essa altura toda a trama já havia sido urdida e executada. Dutra poderia realmente botar a boca no trombone, mas certamente tocaria isolado, já que seria a sua palavra contra a do até então poderoso cacique baiano. Nosso senador, com razão, entendeu que era mais uma bravata de ACM. Dizer que o PT ?fica devendo a reparação moral à sociedade?, como afirmou o JB, tal qual os partidos que dão sustentação ao governo FH, não é correto. A respeito de votos secretos, não cabe, igualmente, questionar somente o de uma senadora do PT. O sigilo ? que combatemos ? é para todos. E a questão política do voto de cada um, que é bem distinta da quebra de decoro parlamentar e das negociatas do presidente do Senado, deve ser resolvida pelos partidos e avaliada pela sociedade. Chico Alencar, deputado estadual (PT) ? Rio de Janeiro.

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O ?gênio? do editorialista do texto ?Solução urgente?, de 20-4 , coloca no mesmo nível de responsabilidade sobre a atual crise política nacional o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB), o ex-léder do governo, José Roberto Arruda (PSDB), o ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL) e o PT, na figura da senadora Heloisa Helena. Na contínua e já conhecida rotina deste jornal de proteger a todo custo (sabe-se lá a mando de quem) o presidente FH nos inúmeros escândalos surgidos na gestão atual, o nosso gênio considera o ato de votar da senadora petista uma ?contribuição do PT para o lamentável episódio da lista dos senadores?. Mas considera o nosso presidente FH ?pessoalmente isento de suspeita?. Será lamentável sim, se a suspeita do voto contrário da senadora na cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão se confirmar.Mas isso será um problema interno do PT, pois que votar, seja lá qual for a opção, não configura crime. Por outro lado, FH é o maior de todos os responsáveis pela situação, uma vez que em seu nome, e no falso argumento de manutenção do equilíbrio econômico, todas as iniciativas de investigação e de moralização das instituições nacionais têm sido obstruídas. Jose Carlos Gonçalves ? Rio de Janeiro.

Ex-capital

Como expressar o que senti ao ler o editorial ?Capital áulica?, de 23-4? Não há como não se sentir fisicamente mal ao ler tantas barbaridades agrupadas em um único texto. Brasilia não é a cidade que possui mais funcionários públicos. Até hoje cabe ao Rio de Janeiro essa primazia. ?Indiferença autárquica pelo que acontece no Brasil.? O que é isso? Isso para mim é uma gravíssima ofensa pessoal. Quem afirma uma bobagem dessa e um rematado desconhecedor da realidade desta cidade e parece escrever se afogando em bílis e outros líquidos. Esse complexo de ex-capital, de ex-cidade maravilhosa, de ex-paraíso turístico, de ex-local bucólico e seguro, da total desistência de ser rival cultural de São Paulo e outros ex e derrotas mais, não pode nortear o tom dos editoriais de um jornal que se diz do Brasil, apesar de sempre dar mais importância a uma troca de cozinheira de botequim da Zona Sul do que a alguma tragédia fora do eixo Rio-São Paulo. Como sempre li o JB, sou assinante e espero continuar sendo, desejo sinceramente que tal absoluta falta de sintonia com os fatos, a realidade e a verdade se restrinja apenas aos editoriais, não contaminando as demais noticias e colunas. Sergio Venâncio Pires ? Brasilia."

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