Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Luta reconhecida

ZIMBÁBUE

Geoff Nyarota, editor do Daily News, único jornal independente do Zimbábue, ganhou a edição deste ano da Golden Pen of Freedom (caneta dourada da liberdade) da Associação Mundial de Jornais, entidade sediada em Paris que representa 18 mil jornais e 71 associações nacionais. O prêmio é um reconhecimento ao "serviço prestado à causa da imprensa livre, apesar das constantes perseguições", divulgou a organização. O diário africano, desde sua fundação em 1999, comprou briga com o presidente Robert Mugabe, que impôs restrições à liberdade de imprensa e é acusado de ter fraudado o pleito que o reelegeu em março, reporta a AP [28/5/02].

Pela lei local, "publicar falsa informação", por mais vago que isso possa parecer, é crime punível com multa de US$ 1,8 mil ou dois anos de prisão. No mês passado, três repórteres entraram na justiça alegando que a nova regulamentação de mídia usada para tirar jornalistas de ação é inconstitucional, informa The New York Times [1/6/02].

O próprio Nyarota foi processado em maio sob acusação de publicar história incorreta. Neste caso específico, a informação reportada ? de que uma mulher teria sido decapitada na frente dos filhos por correligionários de Mugabe ? se mostrou falsa. A notícia fez com que o governo reagisse duramente contra a imprensa de oposição. Nos últimos dois meses, 11 jornalistas foram presos no Zimbábue, entre eles o americano Andrew Meldrum, correspondente do diário britânico The Guardian, que também escreveu sobre a suposta decapitação. Mugabe determinou ainda que órgãos estatais parassem de fazer anúncios em publicações que o criticam.

Alguns jornalistas foram presos por divulgar que o governo teria comprado sofisticados equipamentos de repressão a manifestações e que alguns policiais estariam extorquindo prostitutas exigindo fazer sexo com elas. O pessoal de Mugabe afirma que as histórias são mentira e visam a diminuir as medidas positivas que o governo tomou nas últimas semanas, como a prisão de militantes que ameaçavam as minorias branca e indiana e a proteção de fazendas de brancos contra invasores negros, satisfazendo pedidos da comunidade internacional.

AFEGANISTÃO

A imprensa é hoje o sinal mais claro de que os tempos são de liberdade em Cabul. Mary Beth Sheridan, do Washington Post [2/6/02], escreve que se tem certeza de que o Talibã foi embora quando se vê jornaleiros pelas ruas da capital afegã vendendo dúzias de publicações distintas, grande parte com nomes como Novo Pensamento ou Luz da Liberdade. Somente nesta cidade há cerca de cem jornais esperando autorização do governo para funcionar. Na época do fundamentalismo, havia uns poucos veículos estatais.

É claro que os jornais do Afeganistão ? mais especificamente da capital, pois as províncias continuam sob o jugo de líderes tribais ? pouco têm de parecido com os do mundo desenvolvido. Em geral, consistem de um punhado de páginas com algumas fotos do tipo passaporte. Raramente sua tiragem ultrapassa 3 mil cópias, o que é compreensível se considerado que apenas uma em cada quatro pessoas é alfabetizada. Outra diferença é que não se fazem anúncios pagos, o que faz crer que em breve a maioria das publicações desaparecerá por falta de dinheiro.

O jornal privado mais vendido, o Semanal de Cabul, é patrocinado pela UNESCO e tem tiragem de 3,5 mil exemplares. Para dar idéia do pouco profissionalismo que impera na imprensa afegã, basta dizer que a seção favorita dos leitores tem o nome "Dizem por aí", com boatos de todos os tipos, desde fofocas de restaurantes a comentários sobre terroristas da al Qaeda.

Embora haja no país claras limitações à liberdade de imprensa, organizações ocidentais afirmam que o governo interino de Hamid Karzai parece estar comprometido com a promoção de uma mídia independente. Em fevereiro foi aprovada lei que garante liberdade de imprensa geral, embora já com restrições. Ficou proibido publicar qualquer coisa que "ofenda o Islã" ou "enfraqueça o exército afegão".