Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Luz no fim do túnel

E-NOT?CIAS

INTERNET EM CRISE?

"Luz no fim do túnel", copyright IstoÉ, edição 1648, 5/03/01

"A internet está na UTI. O século XXI começou marcado por falências e demissões em massa nas empresas pontocom do Brasil e do mundo, comprovando a tese de que a euforia da rede mundial era mesmo uma bolha. Ela explodiu e deixou atônita uma multidão de profissionais que, assim como na corrida do ouro, apostou tudo na expectativa de enriquecimento rápido. Em vez dos salários vultosos e da ascensão meteórica na carreira, o que se viu foi o ouro de tolo: cortes na folha de pagamento, excesso de trabalho e muito desânimo com a chamada nova economia. Passada a tormenta, espera-se que agora reine a calmaria, já que ainda há muita luz no fim da fibra óptica.

De acordo com o site Webmergers.com, especializado em fusões e aquisições da nova economia, pelo menos 210 empresas de internet desligaram seus computadores para sempre em 2000. Quase dois terços das falências ocorreram a partir de novembro passado, num movimento que ainda não terminou. Nos primeiros dois meses do novo milênio, empresas virtuais como CNN.com, Altavista, AOL Time Warner, El Sitio, WalMart.com, 3Com e Amazon ceifaram o quadro de funcionários. No Brasil, a situação não foi diferente. Planeta Imóvel, UOL, Cidade Internet, iG, Submarino, E-ritmo, Estadão.com, Elefante, Guia Local e Arremate também aderiram à degola. Resultado: cerca de 300 novos desempregados. Segundo a consultoria americana de recolocação profissional Challenger, Gray & Christmans, no mundo todo houve 12.828 demissões só em janeiro. Significa quase um terço do total de cortes ocorridos durante o ano de 2000.

As causas da explosão da bolha são várias, mas a principal delas foi a forma como a maior parte das empresas começou seu negócio. O mercado era promissor, e por isso as companhias nasceram com grande infra-estrutura, polpudas verbas de marketing, salários altíssimos e pensamento fixo na oferta pública de ações nas Bolsas de Valores. Esqueceram-se de um princípio básico para o sucesso de qualquer empresa, seja da nova, seja da velha economia: o lucro. ?A internet de hoje lembra as pirâmides ou as correntes de dinheiro, em que pouquíssimas pessoas lucram?, diz o investidor Pedro Mello, fundador da InternetCo Investments. Sua verba anual de US$ 5 milhões é reservada para alavancar operações de empresas que nascem pequenas, com folha de pagamento enxuta. Só recebe mais dinheiro quem tiver bons resultados no fim do mês.

?A internet era um negócio de empreendedores individuais que ganharam muito dinheiro nos primórdios, mas isso acabou?, afirma Silvio Genesini, sócio-diretor da consultoria Accenture, antiga Andersen Consulting. ?Agora os empreendimentos terão que estar associados a grandes bancos, grupos de mídia ou de telecomunicações?, completa. Foi-se o tempo em que alguém montava um site para depois revendê-lo por somas milionárias. O empreendedor carioca Jack London criou em 1996 a primeira livraria virtual brasileira, a Booknet. Três anos depois, passou adiante a empresa para um fundo de investimentos ligado ao grupo GP. O valor da negociação ficou em segredo, mas foi suficiente para London montar outros quatro sites, entre eles o de leilões online Valeu. ?Primeiro vivemos a fase da inovação e dos riscos, depois veio a excitação do mercado e este ano será de extrema crise?, prevê Jack London.

Caixa zero – As companhias online que resistiram à debacle da rede não podem contar com novo aporte de dinheiro antes de mostrar a seus investidores que conseguem sobreviver sem depender do mercado especulativo. ?Era fácil prever que não havia nada que sustentasse uma farra dessas?, diz António Tavares, presidente do conselho consultivo da Abranet, Associação Brasileira dos Provedores de Acesso, Serviços e Informações da Rede Internet. Agora, o desafio da empresa da nova economia é mostrar que seu negócio e sua possibilidade de lucro não são virtuais como seus sites.

A busca pela lucratividade disparou quando o índice Nasdaq – que reúne ações de companhias de alta tecnologia negociadas na Bolsa de Valores de Nova York – despencou pela metade. Caiu de 5.000 pontos, no começo do ano passado, para 2.183, no primeiro dia de março. Por isso, corporações que valiam alguns bilhões de dólares há menos de dois anos viraram o milênio com caixa a zero. Cada papel da loja virtual de brinquedos eToys, por exemplo, era cotado a US$ 86 em outubro de 1999. Há duas semanas, a ação valia menos de um centavo, as dívidas ultrapassaram os US$ 274 milhões e dos 1.000 empregados sobraram sete. Na quinta-feira 8, o site deve encerrar suas atividades após uma queima de estoque com descontos de 75%. Verdadeiro ícone da chamada nova economia, a Amazon Books lançou seus papéis na Bolsa nova-iorquina em 1995. Há dois anos, cada ação valia US$ 218. Hoje, não ultrapassa US$ 11. Outras empresas que se preparavam para a tão sonhada oferta pública de ações nas Bolsas revisaram seus projetos e acionaram a tesoura para cortar gastos.

Tantas demissões e reajustes num mesmo período estão longe de ser mera coincidência. ?As companhias fecharam os balanços do ano 2000 e decidiram reduzir a folha de pagamento para cumprir objetivos de rentabilidade ou até de prejuízos mais razoáveis?, explica Dário Dal Piaz, vice-presidente para a América Latina da consultoria Yankee Group. Para ele, as empresas de internet superestimaram o potencial do mercado.

O portal Starmedia começou sua reestruturação em setembro do ano passado. O lado mais traumático do processo foi o corte de 135 empregos no Brasil, nos EUA e em outros oito países de língua latina. ?Nossa intenção é antecipar a meta de lucratividade para o último trimestre deste ano, em vez de esperar até o início de 2003?, explica Francisco Loureiro, diretor de operações do portal baseado em Nova York. Desde sua criação, em 1997, a empresa recebeu US$ 450 milhões de investimento.

Promessa – Como de praxe, a corda sempre estoura do lado mais fraco. A jornalista Olga Vasone, ex-apresentadora do programa Globo Rural, aceitou em abril do ano passado o cargo de editora no provedor de internet grátis Super11.net. Olga foi atraída pela promessa de aumento rápido no salário de R$ 5.500 e pela possibilidade de ganhar até R$ 30 mil em ações da empresa, uma espécie de prêmio por produtividade. As expectativas de Olga foram por água abaixo quando, cinco meses depois da admissão, ela chegou para trabalhar e encontrou a empresa de portas fechadas. Literalmente. Hoje, a jornalista e os outros cerca de 120 demitidos tentam receber na Justiça os salários atrasados e direitos trabalhistas devidos pela empresa, que se associou ao iG.

Nos EUA, processos movidos contra ex-patrões já são corriqueiros. Funcionários demitidos tentam recuperar na Justiça o que não conseguiram receber no contracheque. Ainda mais em uma área em que não há como respeitar o horário comercial de trabalho e que raramente, quando nunca, se pagam horas extras.

Há quem se preocupe somente em conseguir um novo emprego. Há cinco meses, o engenheiro mecânico gaúcho Clayton de Oliveira Júnior, 28 anos, largou a microempresa que tinha em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, motivado por propostas de sites sediados em São Paulo. Como chefe de design do Cidade Internet, ganhava R$ 4 mil mensais. Trabalhava todos os dias das 11h30 às 23h30 e era tirado da cama para resolver problemas em plena madrugada. No final do ano, pensou que teria sossego quando foi passar uma semana com a família em Santa Maria. Engano. No terceiro dia de descanso, foi chamado de volta para dedicar-se a um novo projeto. Menos de um mês depois, ele e mais 29 colegas perderam o emprego. Oliveira ainda procura uma nova colocação, desta vez bem longe de iniciativas pontocom.

Quem não teve sucesso na primeira investida na internet não deve desanimar. A área de tecnologia promete ser uma boa fonte de empregos. Para o instituto de pesquisa International Data Corporation (IDC), em 2004 haverá no Brasil 243 mil vagas sobrando nos setores de telefonia, internet e informática. ?Nos próximos três anos, a internet vai empregar mais gente do que desempregar?, diz o consultor Genesini, que prevê mais um ano e meio de inferno astral. Áreas ainda incipientes, como televisão digital, internet em banda larga e terceira geração de telefonia celular, serão alavancas fundamentais para a recuperação da rede, assim como o setor de prestação de serviços por meio eletrônico, em franco crescimento no País. O melhor exemplo é o Imposto de Renda: em 2000, 18 milhões de contribuintes entregaram suas declarações pela internet, contra um milhão em formulários de papel.

Ajuste – Na verdade, a crise da internet é uma questão de ajuste ao mundo real. Depurações acontecem sempre que aparece uma nova tecnologia. No final do século XIX, quando surgiram as primeiras ferrovias americanas, foram criadas mais de 400 empresas para explorar o novo e promissor filão de negócios. ?Todo mundo achava que ia ficar rico e que sua estrada de ferro seria a primeira a completar os trilhos até o oeste?, diz Jack London. Depois de dez anos, das 400 companhias desbravadoras restaram seis gigantes, em torno das quais toda a indústria ferroviária se organizou. A diferença é que na internet tudo acontece muito mais rápido, na velocidade da luz."

"Fevereiro: mais demissões.com", copyright TCInet (www.tcinet.com.br), 1/03/01

"Como atestado em janeiro, as comemorações de início do século não duraram muito para os profissionais das áreas de tecnologia e Internet. O ano começou marcado por cerca de 9.278 demissões nestes setores – 210 delas somente no Brasil. Enganou-se, porém, quem pensava que em fevereiro esse panorama pudesse ser modificado. No mês do carnaval, 22 empresas optaram pelo downsizing de suas operações no mundo, cortando em torno de 6.000 vagas, 1158 em solo brasileiro.

As pontocom, no geral, apresentam um argumento básico para a seqüência de demissões: reestruturação para chegar ao ponto de equilíbrio e se ajustar ao cenário mais realista do mercado de Internet atual.

Portal número um em audiência na Web no país, o Universo Online, logo no início de fevereiro, decidiu que também havia chegado a hora de cortar despesas. O provedor quer alcançar a lucratividade ainda neste ano e diminuiu o seu quadro de funcionários, sem revelar o número de pessoas afastadas. A única informação a respeito foi que seriam ?demissões pontuais, sem grandes conseqüências?.

No ano passado, o UOL já havia sinalizado essa fase de reestruturações, quando encerrou o provimento de acesso grátis à Web (com o fim da NetGratuita) e fechou as portas de seus escritórios no Chile e Espanha. A resposta positiva à essa postura mais ?pé no chão? do portal veio a galope. A PT Multimídia – braço de Internet da Portugal Telecom – injetou 100 milhões de dólares no portal ainda em fevereiro, ficando com quase 18% de suas ações.

O Estadão.com foi outra pontocom que resolveu peneirar a equipe de jornalistas. Dezessete pessoas de conteúdo foram demitidas, mais oito profissionais de áreas afins, ?para ajustar a empresa às atuais condições do mercado de Internet?. Especula-se que o corte estaria relacionado ao rompimento da parceria com o portal Terra, mas o grupo não desmente nem confirma essa informação. O iG, de Nizan Guanaes, não ficou de fora da onda das demissões.com, afastando 29 profissionais de todas as áreas da companhia, incluindo marketing, conteúdo e comercial. O motivo é conhecido: ?realinhamento? para se adequar às mudanças pontocom.

No segmento de leilões, o Arremate, como o UOL, decidiu não divulgar o número dos funcionários que demitiu no mês. E, usando um discurso quase idêntico ao do portal, alegou corte de custos gerais para atingir o ?break even?. No mais, fecharam escritórios no país a Baquia, a DoubleClick e a 24/7 Media, que faz representação comercial de Web sites.

Fora do mercado brasileiro, as demissões em massa ocorreram na 3Com, que afastou 1.200 pessoas (13% de sua equipe mundial, sem afetar o Brasil), como parte de uma iniciativa global de diminuição de custos devido à desaceleração da economia americana. A Motorola anunciou que deixará sem emprego cerca de 4.000 pessoas até o final deste ano e a Nokia deve afastar mais 800, em cinco meses. Veja abaixo o balanço das demissões anunciadas em fevereiro."

"IdeiasNet discutirá aumento de capital", copyright Valor Econômico, 2/03/01

"A IdeiasNet, holding que investe em projetos de internet na América Latina, convocou uma assembléia geral de acionistas para o dia 12 de março para discutir o aumento do capital social da companhia, que tem papéis negociadas na Bovespa desde junho do ano passado.

A ampliação do capital, em valor não revelado, será feita com a emissão de novas ações por subscrição particular, que poderão ser integralizadas por conferência de ações ou cotas do capital das empresas investidas.

Desde que abriu o capital na Bovespa, a empresa desistiu de investir em três companhias por considerá-las de rentabilidade duvidosa e sem potencial de conquista de mercado.

Das 17 empresas em que investiu desde seu surgimento, a IdeiasNet já desistiu do site para estudantes Patavina, da empresa de leilões virtuais Gibraltar e do site de venda de seguros on-line Webseg.

Primeira empresa de internet a abrir capital em uma bolsa brasileira, a IdeiasNet acumulou uma das maiores desvalorizações da Bovespa em 2000.

Ela ofertou 3 milhões de ações ordinárias a R$ 11 cada. Ontem, suas ações estavam sendo negociadas a R$ 3,29.

A empresa surgiu na bolsa justamente quando a crise no mundo pontocom se agravava. A derrocada dos papéis da Nasdaq começou no fim de março do ano passado – e não parou até agora."