Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mais debate, novas interrogações

JORNALISMO ONLINE

Raphael Perret (*)

Ninguém duvida de que a internet aproximou as pessoas e tornou o acesso à informação bem mais fácil do que, no mínimo, há uma década. Assim, o cruzamento entre a rede e o jornalismo vira um objeto de estudo relevante e que precisa ser muito debatido. Como contribuição a essa discussão, foi realizado em 13 de setembro, na Universidade Veiga de Almeida (UVA), no Rio de Janeiro, o 2? Seminário de Jornalismo Online JW/UVA, organizado pela universidade e pelo site Jornalistas da Web (JW) <http://www.jornalistasdaweb.com.br>.

Os convidados para dar as palestras foram o professor Antonio Brasil, coordenador do TJ Uerj, Cora Rónai, editora do caderno de informática do jornal O Globo, Elisa Travalloni, editora do JB Online, e Pedro Doria, colunista do site no mínimo.

O evento foi aberto pelo editor do JW, Mario Lima Cavalcanti, que sugeriu que os alunos, além de simplesmente assistirem às aulas, organizassem mais eventos nas faculdades. "A universidade deve ser uma via de mão dupla", resumiu Mario.

Antonio Brasil, veterano participante de seminários sobre o assunto, exibiu curta apresentação em PowerPoint sobre seu tema favorito: o telejornalismo online e a democratização dos meios de comunicação. O professor recomenda: em vez de falar mal da Globo, por que não fazer um telejornal diferente? "Tente fazer, na internet, a sua TV, só que melhor e mais criativa. Se as pessoas tiverem alguma opção na rede, talvez você passe a incomodar o Jornal Nacional", provocou Brasil, dando as vantagens de um telejornal na internet: baixo custo, totalmente sem censura, com tecnologia simples.

O professor sabe que nem tudo é lindo nesse sonho: a exclusão digital restringe a visibilidade, não há referências anteriores que sirvam de modelo, falta uma linguagem própria… Nada, porém, que o desestimule de uma meta impressionante. "Como alternativa ao poder hegemônico da TV, podemos criar milhões de telejornais na internet." É verdade que, com o empenho de todos, o objetivo pode ser alcançado. Mas é preciso suplantar, ainda, muitos obstáculos, como o baixo índice de conexão.

Cora Rónai começou a falar sobre o blog e a importância dessa nova ferramenta para a imprensa. Para quem está por fora, blog é uma espécie de diário, pessoal ou coletivo, um site cujo conteúdo pode ser publicado facilmente e de forma ágil, fazendo com que cada vez mais pessoas se expressem na web. "Os blogs estão sendo usados por jornais e revistas. Facilitam porque é uma maneira muito mais rápida de se publicar na internet", afirmou a jornalista, que vê outra vantagem nessa nova forma de divulgação de conteúdo: a comunicação é mais individual e menos empresarial, pois quem publica os textos é o jornalista, não o veículo. "A confiança pode ser conquistada pessoa a pessoa, e não instituição a pessoa ou pessoa a instituição."

Bola para Pedro Doria. Ele contou um pouco a história do jornalismo, passando pelas décadas de 20, 30 e 40, mostrando que, a cada 10 anos, o jornalista da mídia impressa passa por várias transformações: houve o surgimento do rádio, da TV, do "new journalism". "Os jornalistas viveram várias revoluções, e a internet é mais uma. Em todas elas foi preciso recriar a forma de contar histórias", resumiu. Sobre a propalada "convergência de mídias", Doria deu um bom exemplo: "O vídeo na internet não é melhor do que na TV; o áudio na internet não é melhor do que no rádio; mas a internet tem todos esses meios". O jornalista ? que tem um blog no site <nominimo.com.br> ? praticamente endossa o que Cora defendeu minutos antes: o superdimensionamento do individual. "Na internet, você tem que responder pelo seu nome, se expõe mais. Não dá para se esconder por trás de uma instituição."

A palestra de Elisa Travalloni foi baseada em sua experiência no JB Online, que lhe permitiu arriscar algumas previsões. Entre elas, o aumento da interatividade ("a internet vai obrigar o jornalista a falar e lidar com os leitores; o problema é que eles são muitos"), a polivalência do profissional ("hoje o jornalista acaba não só fazendo o texto, mas também retocando uma imagem ou mexendo numa página") e a questão da linguagem ("quem trabalha na mídia online está preparado para a mídia impressa, pois a linguagem não é muito diferente"). O mais surpreendente foi quando Elisa lamentou o descaso com que jornalistas experientes tratam o novo meio. "Há colunistas no Jornal do Brasil que culpam a internet pela diminuição das vendas do jornal. Acham que o JB Online é desnecessário."

Interrogações

As duas horas de debate fluíram muito bem, apesar do horário ingrato ? um evento acadêmico numa sexta-feira à noite, no Rio de Janeiro, não é o que se possa chamar de convidativo, embora o público tenha comparecido em bom número. E deixaram muitas dúvidas no ar. O que é bom, pois permite mais debates e novos enfoques futuros. Por exemplo:

1) Quem está realmente interessado em montar telejornais "sobre o próprio condomínio", como sugere Antonio Brasil? Haverá público? E a remuneração, como seria? Sem ela, haveria estímulo para a produção desses telejornais comunitários?

2) Os blogs podem ser considerados jornalismo? Representam eles uma nova opção nesse fechado mercado de trabalho? Ou ninguém pensa em usá-los de forma a render uma grana? As empresas, quando liberam a publicação de blogs por seus empregados, podem restringir os temas abordados e a linguagem utilizada?

3) A internet veio para competir com os outros meios? Trata-se, é verdade, de uma revolução, mas a web chegou mesmo para desbancar TV, rádio e jornais para consolidar-se como único e melhor veículo de comunicação? Até que ponto todos os gêneros da imprensa podem se complementar, de forma a aperfeiçoar a transmissão da informação?

4) Por que os jornalistas experientes reclamam tanto da internet? Por que não combinar a tarimba de um veterano com a familiaridade de um jovem com o novo meio e, assim, tentar produzir um jornal online mais eficiente, mais dinâmico, mais completo?

Essas não são as únicas interrogações que freqüentam a cabeça de quem pesquisa a área de jornalismo online. Há muitas outras que não foram postas na mesa. Porém, não deixam de ser um bom ponto de partida para reflexões mais profundas e, tomara, respostas mais completas.

(*) Jornalista, mestrando em Sistemas de Informação pelo NCE-UFRJ, editor do Tá na Tela <http://tanatela.blogspot.com>, weblog sobre comunicação na internet, e co-editor do Ponto JOL <www.jornalistasdaweb.com.br/blog>, weblog sobre jornalismo online