Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mais um crítico da mídia vitimado pela prepotência (ou: a crítica só serve para o concorrente)

Alberto Dines

 

E

ugênio Bucci era crítico da Veja. Sua área de atuação estava muito bem delimitada pela direção da revista: mídia eletrônica, especialmente as redes abertas. Simultaneamente exerce importantes funções jornalísticas na parte corporativa da Editora Abril. Também foi diretor de redação de Superinteressante (da mesma editora).

No dia 12 de Agosto, Bucci participou com o jornalista Luiz Garcia (O Globo) da gravação do programa N de Notícia (Globonews), apresentado por Carlos Tramontina. O formato do programa tem sido do talk-show tradicional: dois ou três convidados conduzidos pelo âncora. Ultimamente, para ganhar movimento, além da conversa no estúdio, adicionaram-se depoimentos gravados.

No programa em questão discutiu-se o episódio do Jornal Nacional quando foi mostrado o flagrante da reação de um PM carioca que fuzilou um assaltante de banco com seis tiros. Também foi discutido o desempenho da Veja na obtenção da confissão do “Maníaco do Parque” (Veja nossa edição anterior).

Eugênio Bucci fez ponderações comedidas em favor da revista embora pudesse parecer que não a endossava inteiramente. No que aliás estaria no seu direito. Dias depois da gravação, foi adicionado um depoimento do jornalista Augusto Nunes sobre o mesmo assunto no qual fazia sérias restrições ao comportamento da revista (repetia sua argumentação no Observatório da Imprensa – em 11/8/98 na TVE e 13/8/98 na TV Cultura).

Mesmo que o desejasse, Eugênio Bucci não poderia ter rebatido os argumentos de Augusto Nunes porque a entrevista deste foi gravada depois e aos editores do programa não ocorreu pedir um adendo aos debatedores iniciais (Veja os esclarecimentos de Augusto Nunes sobre o episódio).

A direção de redação de Veja demitiu Bucci por e-mail alegando que não foi suficientemente veemente na defesa da revista.

Seu nome continua no expediente da revista na qualidade de Secretário Editorial.

Aos leitores, como sempre, nenhuma explicação.

Além das óbvias conclusões sobre a arrogância e prepotência ainda imperantes em certos ambientes jornalísticos, o episódio comprova que no jornalismo brasileiro a crítica da mídia só serve quando se volta contra o concorrente.

 

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