Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mais uma vez, o mordomo

REINO UNIDO

Disputa entre tablóides colocou a família real inglesa numa situação das mais embaraçosas. Recentemente, o último mordomo da princesa Diana, Paul Burrell, foi subitamente inocentado em processo no qual ele era acusado de roubar 310 itens pessoais após sua morte, graças à intervenção da rainha Elizabeth, que disse que ele teria pego os objetos para protegê-los. Imediatamente após esse evento começou uma corrida na imprensa marrom para conseguir que Burrell revelasse com exclusividade os detalhes de sua convivência com os monarcas.

O vencedor da disputa, para surpresa geral, foi o Daily Mirror, que ofereceu ao mordomo US$ 500 mil, contra US$ 1 milhão oferecido pelo Daily Mail, maior tablóide do Reino Unido. O motivo do êxito do Mirror foi que um de seus repórteres já vinha negociando há anos com o irmão e o pai de Burrell, e convenceu-os de que seu jornal era mais apropriado para abrigar a história. Além disso, o Mirror, ao contrário do Mail, contentou-se em publicar apenas o que o mordomo determinasse. Burrell quer proteger Diana, Charles e os filhos do casal. Seu desejo é apenas vingar-se dos parentes da princesa, a família Spencer, que, em sua opinião, é a culpada pelo processo que sofreu.

A concorrência não aceitou a vitória do Mirror passivamente e passou a publicar diversas histórias que abalassem a imagem do mordomo. No Sun saíram matérias sobre seus supostos encontros homossexuais e traições à esposa. O News of the World arrumou um documento com declarações dele em que fala de sua suposta inimizade com Diana e do comportamento sexual pouco contido da princesa. Certa vez ela teria saído às escondidas do palácio para encontrar um amante vestindo apenas um casaco de peles. Descobriu-se que esse papel pertencia aos advogados de Burrell e que havia sido roubado.

A pior denúncia, no entanto, saiu no Daily Mail, que publicou a história de George Smith, um ex-criado real que afirma ter sido estuprado por um assistente de Charles em 1989 e ter sofrido tentativa de abuso da mesma pessoa em 1995. A monarquia alega que iniciou investigação interna em 1996, mas que abandonou o caso por falta de indícios. Smith conta que, no mesmo ano, Diana gravou seu relato para usar eventualmente contra Charles, de quem havia se divorciado. Durante o processo contra Burrell, testemunhas disseram que a princesa guardou a fita numa caixa de madeira que o mordomo teria roubado. Como a polícia não encontrou o objeto em sua casa, o fato de a fita permanecer em seu poder teria levado a família real a suspender o processo contra ele. O suposto estuprador não foi identificado publicamente, mas escreveu comunicado negando as acusações. O secretário privado do príncipe, Michael Peat, anunciou que fará nova investigação interna. Segundo Glenn Frankel, do Washington Post [13/11/02], críticos da família real reclamam que nada será esclarecido com isso. Mas os tablóides, mais uma vez, têm um prato cheio.