Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Manifesto contra o assassinato do jornalista Miguel Melo

Ao Ministro da Justiça,
Ao Procurador Geral de Justiça do Estado do Pará,

 

O

grupo Photosyntesis (http://www.photosynt.net) vem solicitar informações detalhadas sobre o assassinato do repórter fotográfico Miguel Pereira de Melo, de 45 anos, consoante matéria do jornal O Globo de 7/11, e que transcrevemos a seguir:

“Fotógrafo do massacre de Carajás é morto em Marabá, PA. O fotógrafo Miguel Pereira de Melo, de 45 anos, que fotografou os corpos das vítimas do massacre de Eldorado de Carajás, foi assassinado quinta-feira com um tiro no tórax, em Marabá, no Sul do Pará. Ele seria chamado pelo Ministério Público para servir de testemunha no julgamento dos 159 envolvidos no conflito entre policiais militares e trabalhadores sem-terra.

As fotos tiradas por Miguel mostraram os corpos dos sem-terra perfilados num caminhão, e dentro do necrotério da cidade, para todo o mundo. Na época, as imagens foram vendidas para dezenas de publicações. Atualmente, ele trabalhava no jornal Correio do Tocantinns.

Segundo o delegado Sandro Castro, o assassinato do fotógrafo ocorreu por volta das 21h, quando Miguel e a amiga Aldenir Alves de Souza caminhavam pelo bairro da Liberdade. Segundo Aldenir, tudo se passou rapidamente. A única testemunha do crime não soube fazer uma descrição do assassino, disse apenas se tratar de um homem jovem.

Baleado, o fotógrafo caminhou 200 metros até conseguir socorro. Ele foi levado para uma clínica, onde foi operado, mas morreu às 2 da madrugada de ontem. Maranhense, Miguel morava em Marabá há 20 anos, era casado e tinha cinco filhos. A polícia ainda não tem pistas do assassino.”

Copyright O Globo, 7/11/98

Pretendemos acompanhar o desenvolvimento do processo, para veiculação em nossa publicação, como também responder à solicitação da Organização Internacional Freedom Forum encaminhada há dias ao Jornal do Brasil.

É necessário que se promova justiça contra tal violência, que extirpou a vida de um homem. Somos inclinados a supor que a responsabilidade de Miguel se origina no fato de ter fotografado o triste episódio de Eldorado dos Carajás, no violento conflito entre a Polícia Militar e o Movimento Sem Terra, e estar arrolado como testemunha pelo Ministério Público, como indica a matéria do jornal O Globo. Um jornalista que pode ter tido sua morte associada ao desempenho de sua profissão, isto é, registrar e divulgar um fato, há de ser tratado com seriedade. Afinal, como enfatizamos acima, sua responsabilidade foi o livre exercício de sua atividade, em um país que se pretende democrático.

Vale lembrar que o assassinato do repórter fotográfico Miguel Pereira de Melo não é um caso isolado. A jornalista Marisa Romão, como é do conhecimento do Presidente da Câmara, Michel Temer. Romão, assim como ocorreu com Miguel Pereira de Melo, vem sofrendo ameaças de morte constantes que a levaram a pedir proteção federal. Se a Justiça nada puder contra a coerção aos profissionais de comunicação que exercem o dever de apurar e divulgar fatos, o Brasil e sua imprensa perderão mais um capítulo na luta contra a impunidade pustular que ainda nos assola.

Em respeito à morte do repórter fotográfico Miguel Pereira de Melo, aguardamos resposta.

Flávio Rodrigues

Editor do website Photosyntesis <http://www.photosynt.net>, onde você pode assinar o manifesto.