Manifesto dos alunos de Jornalismo

A imputrescível glória da Cásper, cinco estrelinhas estampadas em almanaques, revelou-se uma zombaria. E nós, aprendizes do Jornalismo, percebemos que nem bem acaba o 2? ano e já nos graduamos. Somos otários formados.

Tem gente boa aqui, eis o que a Cásper tem de bom. O patrimônio da faculdade são seus grandes nomes, profissionais reconhecidos, que admiramos, e os alunos ? em geral ávidos e capazes de absorver o que esses grandes nomes teriam a ensinar. Mas os professores são proibidos de compartilhar sua experiência. Reza o cuidadoso Manual do Professor: "Por mais expressiva que seja a trajetória profissional do professor, as aulas devem ser cuidadosamente planejadas a partir de um programa ? que não pode se basear em depoimentos pessoais ou relatos mnemônicos."

Ora! Um relato mnemônico valeria muito mais do que o espetáculo patético de faz-de-conta que são algumas constrangedoras aulas. Salvo exceções raras, que guardaremos com carinho em nossos corações, chegaram ao ponto de claramente envergonhar o próprio professor. Houve gente boa quase levada ao ponto de pedir desculpas por estar ali distribuindo teoria do senso comum. Grandes profissionais são forçados a pagar o mico de dar aulas sobre obviedades, pedindo paciência aos alunos. Não dá pra ter paciência. Temas são constantemente reciclados, numa espantosa falta de criatividade. O curso não tem conteúdo suficiente para se sustentar ao longo do ano. E o que tem de conteúdo é mal distribuído. A Cásper, infelizmente, "dorme em berço esplêndido", a cama que a fama lhe trouxe.

Há que se admitir que um curso de Jornalismo, se existe, só pode ser de um jeito: anatomia, dissecação, observação, desconstrução, desafio. Feita a releitura demorada, profunda e crítica, com base em exemplos criteriosamente selecionados, vamos partir para o "faça melhor", ou até ? sonho de uma Cásper em verdade excelente ? questionar e romper modelos, tentar o novo. O espaço do ensino universitário é para isso. Nas redações não será assim.

O desafio de uma escola superior de Jornalismo, de qualquer escola superior, de qualquer escola, é estimular uma prática crítica, refletida, pensada. Mas, logo na largada, a falta de tempo dos professores ? há de ser isso ? para avaliações profundas dos trabalhos práticos interrompe qualquer ciclo de aprendizado. Há prazo para entregar o trabalho; a nota vem um dia, geralmente tarde; rumos para corrigir ou aprimorar, isso fica para nunca. Revisão de prova, reservada para quando a Cásper for excelente.

Insistimos: o momento do curso é a única chance de avaliar coletivamente, aprender a ser criticado sem mimos, a refazer, a discutir enfoques a fundo, identificar falhas e acertos de coberturas, discernir a natureza de veículos. Nas redações não vai dar pra fazer isso.

Se assim é, e vai ficar assim porque excelência é isso aí, esse manifesto adota um programa até conformista: já que a Cásper Líbero é fecunda em palestras, por que não propor exercícios de entrevista coletiva nesses eventos? Outra possibilidade, mais radical: professores sem aula, liberem suas aulas para nossos seminários internos (para quem quiser, entregamos gratuitamente programas completos, elaborados por crianças de 20 anos). Liberem metade de seu salário para capitalizarmos uma loteria. Com a outra metade, banquem rodas diárias de cerveja e contem lances interessantes da vida. Chega de improvisos dissimulados num ambiente em que, supostamente, aprende-se a ser profissional. Se isso não for percebido, de nada adiantarão aulas de ética.

E, claro, esta escola técnica com complexo de superioridade não há de ter coragem de encarecer a mensalidade. No mais, cinco vivas para quem teve aula pra dar, e deu. Cinco tiros na ilusão de excelência.