Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Bortoloti

BAIXARIA NA TV

“Publicitários questionam ação contra baixaria na TV”, copyright Folha de S. Paulo, 20/04/03

“NO PRÓXIMO dia 29 será lançada em São Paulo, a campanha Quem Financia a Baixaria É Contra a Cidadania, idealizada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Pela primeira vez, o movimento vai apresentar um relatório sobre dez programas de televisão considerados de baixo nível, e notificar as emissoras responsáveis.

Caso a emissora não tome nenhuma providência, o passo seguinte será pressionar os patrocinadores a não veicularem comerciais nem ações de merchandising nos programas tidos como apelativos. Mas, antes disso, anunciantes e agências de propaganda já estão se posicionando contra a campanha. Segundo o diretor de mídia da DPZ-Rio, Luiz Fernando Novaes, a pressão sobre os anunciantes não deve surtir efeito. Para ele, os programas populares são propícios à veiculação de produtos destinados à classe C, que hoje é uma das mais importantes do mercado brasileiro. ?O anunciante precisa de liberdade para falar com o seu público e, por isso, tem que aproveitar os espaços disponíveis que tenham audiência?, diz. A Tigre, anunciante que veicula peças em programas listados pela comissão, não pretende mudar de postura. Segundo Mauro Landi, gerente corporativo de marketing, é preciso que prevaleça a liberdade de escolha e de expressão. ?Não adianta uma comissão de deputados atribuir a certo programa um rótulo de sensacionalista. Deveria haver uma investigação junto aos espectadores destes programas para ver se eles o consideram de baixo nível?, diz. Para ele, o conceito de sensacionalismo varia de acordo com pontos de vista. ?O modelo de programa do Ratinho, por exemplo, é muito praticado na Europa e nos EUA e tem espaço e público em qualquer lugar?, diz. Cláudio Barres, diretor de mídia da Bates Brasil, agência que atende às Casas Bahia, diz que é preciso analisar com cautela os critérios da comissão. ?A gente não pode incentivar qualquer tipo de censura, para isso não virar uma caça às bruxas?, afirma. Segundo ele, a Câmara dos Deputados está perdendo tempo, porque as agências e os anunciantes já têm o cuidado de não veicular comerciais em programas que consideram de baixo nível. A gerente de mídia da W/Brasil, Gleidys Salvanha, também diz que os clientes possuem meios próprios para avaliar os programas e já evitam aqueles que possam prejudicar a imagem do produto. ?A agência e o cliente é que definem o critério de repúdio aos programas, e isso não vai ser mudado por pressão externa?, afirma. Cláudio Venâncio, diretor de mídia da Fischer América, que atende à cadeia de lojas Ponto Frio, acredita que os meios de comunicação têm uma responsabilidade social muito grande, mas diz que ?não gostaria de ver um novo tipo de censura nascendo no Brasil?. Os dois apresentadores que protagonizam a lista de reclamações da campanha contra a baixaria, Ratinho e João Kléber, concordam entusiasmados. Ratinho disse, através de assessoria, que as críticas contra seu programa não representam toda a população, possuem embasamento fraco e são fantasiosas. João Kléber também afirma que seu programa mudou, e não pode mais ser considerado de baixo nível.

Critérios

O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), coordenador da campanha, diz que a comissão está avaliando os programas de acordo com critérios de convenções internacionais.

?Consideramos de baixo nível programas que, entre outras coisas, afrontam os direitos individuais, aprofundam preconceitos ou estimulam a violência?, diz.

De acordo com ele, se os anunciantes não tomarem nenhuma providência, a comissão vai lançar uma campanha incentivando os consumidores a boicotarem seus produtos.”

 

AUDIÊNCIA / TV

“O choque de interesses”, copyright Folha de S. Paulo, 20/04/03

“A GUERRA pela audiência entre os canais está fazendo muitas vítimas -entre os telespectadores- cada vez que a programação muda ao sabor dos números da audiência. No último dia 3, por exemplo, a TV Record tirou do ar a novela ?Um Amor de Babá?, no 22? de seus 150 capítulos. Perderam seu programa, só na Grande São Paulo, 234 mil pessoas, segundo o Ibope. As cultuadas séries ?Família Soprano?, ?Jack & Jill? e ?Freedom? saíram da programação do SBT sem aviso nem justificativa. ?Achei ruim tirarem ?Jack & Jill?. Decepcionou os telespectadores?, diz a estudante Camila Lima, 20, fã do seriado. O mesmo fim teve ?Dawson?s Creek?, esquecido pela Globo no meio de sua segunda temporada. ?Quem não tinha o canal pago Sony ficou na mão?, diz o assistente administrativo Michael Souza, 18. Os fãs de ?Arquivo X? tiveram muita dor de cabeça com a Record, que tirou a atração do ar em janeiro sem mostrar os cinco últimos episódios da nona temporada. Somente no último dia 5, a série voltou -não às quintas, mas aos sábados. ?O cancelamento foi um desrespeito. Perdemos o ritmo e a sequência. Agora torço pela exibição do final?, diz o administrador de empresas Reinaldo Sversuti, 29. Vai ter que torcer muito, pois a série recomeçou do início da temporada.

Tesoura

Cortar cenas de longas-metragens para adequá-los aos horários é outra prática. ?Kramer vs. Kramer? (Record), ?Coração Valente? (Globo), ?João e o Pé de Feijão? (SBT) e ?Spawn? (Band) foram ceifados recentemente. ?Essa mutilação irrita quem ama o cinema?, reclama a professora Cristina Pirassol Serrano, 33. ?O SBT cortou a cena final de ?João e o Pé de Feijão?. A Band reduziu ?Spawn?, de 240 minutos para 120.? Quando o filme não é cortado, pode ser cancelado. No último dia 6, a Band deixou de exibir o anunciado ?A Eternidade E Um Dia?. Seis dias depois, o SBT deixou a ver navios quem esperava por ?007 Contra a Chantagem Atômica?. O SBT é o recordista em mudança de horários de seriados. ?Smallville?, ?Oz?, ?Plantão Médico? e ?West Wing? tiveram várias alterações desde a estréia. ?Em alguns domingos, esperei para assistir ?Smallville?, mas atrasaram ou cancelaram. No lugar, passaram futebol, que não me interessa?, afirma a professora Denise Basílio Ferreira, 21. E os fãs da novela ?Betty, a Feia? (Rede TV!) não se conformam com os cinco minutos diários de repetição de cenas do capítulo anterior. ?A parte inédita é muito curta, fica cansativo?, diz a dona-de-casa Elisabete Monteiro Kianek, 51, uma das cerca de 580 mil pessoas que assistem à novela diariamente na Grande SP.

Cabo

Os assinantes da TV paga têm reclamado do excesso de reprises e de publicidade. Isso quando seu programa predileto não deixou de ser produzido. Desde janeiro, o Sportv leva ao ar somente reprises de ?16 mm?, ?Secrets Spots? e ?Classics?. Em 2003, o GNT ainda não exibiu nada inédito nas faixas ?Pé na Estrada?, ?Celebridades? e ?Lanterna Mágica?. Os canais de documentários National Geographic e Discovery são alvos de queixas em relação às televendas nos intervalos. ?Essa publicidade é agressiva, vendem produtos de resultado duvidoso?, diz o técnico de som Marcos Antonio Nass, 40. ?Adoro ver programas sobre múmias. De repente, no intervalo, aparecem aqueles produtos. É cômico.? E o que dizer do Fox Kids, que exibiu o mesmo episódio, ?O Brincalhão?, da série ?Zorro?, várias vezes em março?

Sem canal

A operadora Directv tirou do ar o TVN, do Chile, o Disney Channel e o Music Choice, sem aviso prévio. A atitude irritou o supervisor químico Rogério Martins Gama, 31. ?Assistia à mesa-redonda ?Zoom Deportivo? e ao ?talk show? ?Pedro Carcuro?, lamenta ele.”

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“Canais expõem seus motivos”, copyright Folha de S. Paulo, 20/04/03

“Agilidade é o motivo alegado pela TV Globo para tirar séries do ar. ?A TV tem que ser ágil e lançar novos produtos, mantendo no ar a programação tradicional, que dá certo?, diz a emissora.

Sobre o corte de cenas em filmes, a Globo explica: ?Não é nossa política editar filmes. Quando há mudanças, são feitas para adequar o produto às exigências do Ministério da Justiça.?

Sobre o mesmo tema, Celso Tavares, gerente de programação da Band, diz que só faz cortes em casos de extrema necessidade. ?São pequenos ajustes para adequação à classificação etária e à grade. Mas o conteúdo é preservado.?

A Rede TV! afirma que a repetição de cenas em ?Betty, a Feia? se limita a cinco minutos por dia. ?Fica mais fácil, para quem não conhece a novela?, diz Marcelo Carvalho, vice-presidente da emissora. ?Se cansasse, as pessoas não assistiriam e não dariam a atual audiência.?

A Record diz ter se baseado em pesquisas de audiência para tirar a novela ?Um Amor de Babá? do ar. Sobre os cortes em filmes, alega que tem que seguir horários e que não altera o original.

O National Geographic diz que as televendas se devem à ?necessidade de fonte adicional de receita publicitária para adquirir conteúdo, pago em dólares?. Segundo Abel Puig, diretor-geral, as televendas só passam de madrugada.

O Discovery afirma que não interrompe a programação com televendas.

Segundo o Sportv, a maior parte de sua programação atualmente é inédita, e novos eventos foram adquiridos.

A Directv relata que ?rejeitou alguns contratos considerados antieconômicos, que incluem os canais cortados.

O Fox Kids confirmou o erro cometido na exibição de ?Zorro?.

O SBT não se manifestou.”

“Concorrente do Ibope será lançado em maio”, copyright Folha de S. Paulo, 18/04/03

“O primeiro relatório do Datanexus, novo serviço de medição de audiência na Grande São Paulo, concorrente do Ibope, será lançado até 20 de maio. A informação é do cientista político Carlos Novaes, diretor-presidente da empresa e consultor da TV Cultura.

O Datanexus é o novo nome do Adviser, anunciado no ano passado pelo SBT. Para dar maior isenção à medição, o SBT transferiu a tecnologia do Adviser à Geopolitics, empresa de Novaes, que criou o Datanexus. Novaes desenvolveu a metodologia estatística e selecionou os 250 domicílios que fazem parte da amostragem na Grande São Paulo.

O SBT investiu cerca de R$ 3 milhões no projeto. A maior parte desse dinheiro foi adiantada ao Datanexus, para implantação do serviço, que pagará a emissora com relatórios de audiência.

O serviço funciona com aparelhos, os Adviser, desenvolvidos pelo SBT, que substituem o controle remoto. O aparelho identifica os usuários do domicílio e canal em que o televisor está sintonizado. Os dados são enviados, via celular, para uma central de processamento.

Segundo Novaes, o serviço está em fase final de testes, com resultados ?muito sólidos?.”