Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Bortoloti

CINEMA NACIONAL / TV

“Filme nacional pode ganhar espaço na TV”, copyright Folha de S. Paulo, 15/12/02

“Os filmes estrangeiros poderão começar a perder espaço na TV brasileira com a aprovação na Câmara dos Deputados, na última terça-feira, do projeto de lei que obriga todas as emissoras a exibirem pelo menos um filme nacional por semana.

O projeto, de autoria da deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), também trata da regionalização dos programas e prevê espaço para parceria e exibição de produções independentes.

Ainda não há data para a votação do projeto de lei no Senado -último passo antes da aprovação ou veto do presidente-, mas a classe artística está otimista.

Para a presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Assunção Hernandes, a iniciativa tem um papel importante também por abrir caminho para novas ações e leis que regulamentem a TV.

?As emissoras são tratadas como propriedades particulares, e não como concessões públicas?, diz ela. ?São um terreno baldio onde cada um joga o lixo que quiser?, afirma.

Na opinião do ator Paulo Betti, a iniciativa deve revigorar a produção nacional. ?A TV é a maior janela que existe para o cinema brasileiro, mas não está aberta?, afirma. Para ele, filmes estrangeiros, na sua maioria de baixa qualidade, ocupam quase toda a programação.

De acordo com a cineasta Tizuka Yamazaki, no momento de orçar um filme no Brasil, os produtores nem computam ganhos com exibição em TV, porque as emissoras geralmente não compram. Outra cineasta, Sandra Werneck, afirma que há receio por parte dos canais em relação à audiência.

A aproximação entre o cinema nacional e as emissoras de TV é uma briga antiga dos profissionais da área. Há poucos meses, uma medida provisória tentou obrigar as emissoras de TV a destinarem 4% de seus lucros para a produção de filmes brasileiros, a exemplo de parcerias que já acontecem em outros países. Mas esse artigo foi retirado do texto antes de sua promulgação.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que propôs alterações no projeto de lei de Jandira Feghali, não quis se pronunciar. A assessoria da Globo afirmou que a emissora é uma das que mais exibe filmes brasileiros, além de realizar diversas co-produções nacionais.”

 

ESPERANÇA

“Enfim, ?Esperança? deslancha”, copyright O Estado de S. Paulo, 15/12/02

“Uau! Walcyr Carrasco conseguiu, em apenas três capítulos, desamarrar uma novela que, inaugurada em 17 de junho, vinha há algum tempo, por fatores explicáveis e inexplicáveis, se arrastando tediosamente, em meio a infindáveis clipes e flash-backs que se repetiam e repetiam, enquanto até o velho trem de Terra Nostra era ressuscitado e o ?maestro? Raul Cortez tocava o mesmo cansado Chopin no seu piano.

Enredo? Nem pensar. Capítulos houve em que tudo se resumiu a uma – eu disse UMA – cena em que algo de relativamente novo acontecia – sem contar cenas gravadas tão em cima da hora que até um refletor apareceu, conquistando inesperados 15 segundos de fama.

Pois na semana que passou – de segunda a quarta – vimos um turbilhão de bem-vindas e refrescantes novidades: fatos apenas ?mencionados? de repente explodiram na telinha, como os integralistas a cavalo, símbolo do Sigma na braçadeira, galopando pelas ruas chicoteando o povo, perseguindo judeus e até atirando bombas na casa de Ezequiel e Tsipora. Que, finalmente consciente, admite – palavras novas! – que na Alemanha do Führer existem campos da morte e pogroms. Logo ela, que não admitia ouvir falar em perseguição a judeus.

Mais personagens novos? Sim – e importantes: na luta contra a ditadura getulista e o incipiente capitalismo selvagem aparece um operário gráfico, que diz, em alto e bom som (e como Osmar Prado brilha, de novo!) – ?Sim, eu sou do Partido Comunista!? – e reúne Toni (que agora finalmente entrou num conflito ideológico com o pai) e Nina num encontro que os organiza e transforma, inserindo suas lutas individuais num quadro mais amplo, como Osmar diz, ?na busca de uma sociedade nova e igualitária, com uma mais justa distribuição de riqueza?. Isso nos anos 30… Alguém reconhece o discurso?

A conversa com o gráfico – não nos esqueçamos de que os sindicatos dos gráficos e dos tecelães foram dos mais atuantes na luta contra as nossas ditaduras… – leva à ida de Osmar, Toni e Nina à tecelagem em que ela trabalha – e à descoberta da exploração do trabalho infantil (de novo: anos 30; alguém reconhece o problema?). E a uma seqüência antológica, que nos remete a uma cena brilhante do filme I Compagni, de Mario Monicelli, em que o líder Raul (Renato Salvatori), acompanhado por outros operários, vai à sala do patrão reivindicar melhores condições de trabalho – só que os colegas, andar por andar, vão se escapando pelas frestas, e ele chega, sem perceber, sozinho à sala do dono. Quando este abre a porta e lhe pergunta o que ele quer, o operário diz ?Nós…? – e o patrão, às risadas, vendo o corredor vazio: ?Nós… quem??

Na cena na tecelagem, o dono (Oscar Magrini), prensado pelo trio ?consciente?, concorda em falar com a operária doente, para até lhe dar uma licença, mas a moça, com medo de perder o emprego, quando o patrão lhe pergunta se está realmente doente, responde assustada: ?NÃO! Estou muito bem?. E espera o patrão se afastar para cuspir sangue e desmaiar.

Outra feliz novidade, embora numa rápida aparição: finalmente vemos um japonês na tela! Num momento em que a imigração japonesa já era fortíssima, até agora eles não tinham dado o ar de sua graça em Esperança. Mas na quarta-feira, Camille procurou um (na Liberdade?) para comprar tecidos. O que proporciona um gancho novo: ele lhe explica que tecidos mais rústicos ainda estão sendo feitos numa ou noutra tecelagem de São Paulo – e isso faz prever um encontro de Camille com o patrão de Nina, ou a própria Nina. Também aí um ângulo novo – a ?patroa amiga? (Lígia Cortez) que, quando o patrimônio está ameaçado, se torna ?menos amiga? e tenta fazer com que Nina ?atrapalhe menos? o bom andamento do serviço na fábrica, tentando suborná-la com um cargo melhor, mais dinheiro, para que ela ?feche os olhos?… De novo: alguém reconhece?

Dramaturgicamente, duas grandes cenas: Farina acabou finalmente ?mostrando a verdadeira cara? (ele e Justine: os dois, enrolados nos lençóis de seda do bordel, tramam roubar Maria, convencendo-a a comprar terras que não prestam com o dinheiro que ela herdou), enquanto ela, esperta, pede tempo para pensar. Será enganada? Ficará pobre? As terras acabarão sendo boas? O pântano virará Pantanal? Vamos torcer.

E, por último mas não menos importante: a grande cena de abertura da semana, com o tão esperado (e necessário) confronto entre Maria e Camille, em que esta, carinha de louca, diz coisas horríveis a uma pobre Maria que, de corajosa, passa a intimidada e insegura. Por pouco tempo – mas agora a briga esquentou de verdade.

Estamos torcendo por Maria.”

 

MTV / DANIELA CICARELLI

“Sedução esportista”, copyright O Estado de S. Paulo, 15/12/02

“Menina bonita, com corpo malhado – eventualmente, uma atleta – e que apresenta programas de esportes na TV. Essa fórmula dá tão certo que, a cada dia, mais e mais beldades ganham espaço na telinha. Daniela Cicarelli, de 23 anos, assinou contrato de dois meses – por enquanto – com a MTV. Vai comandar, junto com o VJ Cazé, uma atração em Maresias (litoral norte de São Paulo), parte integrante da programação de verão da emissora – o posto de musa dessa estação é o mais disputado pelas apresentadoras da casa, o que já teria colocado Cicarelli no alvo das ciumentas de plantão.

Ela começa a gravar no dia 17 – vai ao ar a partir do dia 13 de janeiro – e não sabe ao certo se sua estréia na TV estará diretamente ligada à prática de esportes. A modelo, que também é triatleta, sonha em poder unir os dois.

?Fui sondada por outras emissoras, antes de acertar com a MTV, para fazer um programa de esportes. Não rolou, uma pena porque acho que teria tudo a ver comigo?, comentou Daniela, que assim como ocorreu com Adriane Galisteu (começou no Verão MTV, ganhou game-show na emissora, foi para a RedeTV! e chegou à Record), deverá ficar o tempo inteiro de biquíni na frente das câmeras. ?São dois meses de contrato, uma espécie de teste. Se der certo, fico na MTV.?

Cicarelli segue o perfil das apresentadoras-esportistas: é exuberante (olhos azuis e boca carnuda), tem corpo escultural (eis as invejáveis medidas:

altura: 1,79 m, peso: 62 kg, busto: 90 cm, cintura: 62 cm, quadril: 92 cm, e pés 39) e considera-se uma atleta amadora (corre meia-maratona e treina triatlo). Seu objetivo é correr maratonas, de 42 km, com o namorado, o empresário Luis Augusto Milano, de 42 anos, que também pratica esporte.

A cobiçada modelo, que começou a ganhar fãs após um comercial de refrigerante, pode trilhar o caminho que Daniela Monteiro e Dora Vergueiro, também bonitas e atléticas, já desbravaram. Ambas apresentavam o Rolé, no SporTV – a idéia (de uma produtora, a KN Vídeo) era mostrar duas amigas viajando juntas e praticando esportes radicais e de aventura pelo mundo. O programa também trazia imagens das meninas se preparando para sair, tomando café da manhã, almoçando, etc., bem ao estilo reality show.

Bebê a bordo – Grávida, Dora, que é praticante do wakebord (faz manobras com uma prancha, enquanto é puxada por uma lancha) e fã de mergulho, está temporariamente longe da atração. Sua filha, Catarina, é esperada para o fim de janeiro. Daniela Monteiro, tricampeã de windsurf e adepta do kitesurf (velejo por meio de uma pipa gigante), saiu da emissora e agora é dona do quadro Caminhos da Aventura, do Esporte Espetacular, da Rede Globo (com cerca de 10 minutos). Igualzinho ao Rolé. Hoje, o programa é apresentado por Lívia Lemos, que já trabalhava no canal, e Louise Altehofen, descoberta após comercial de cerveja e que tentou firmar-se na TV ao lado de Milton Neves, em atração sobre futebol.

O Rolé faz parte da Zona de Impacto, uma faixa criada em 1996 que engloba outras atrações do gênero – das 14 às 16 horas, de segunda a sábado. De acordo com dados do Ibope, o público da Zona é o mais jovem (dividindo com quem assiste eventos sobre lutas) do SporTV: 84% pertencem à classe AB, 70% são homens (por que será?) e de até 34 anos (52%). Além do Rolé, as atrações mais vistas são Cala Boca Bocão (entrevistas feitas por um surfista) e Surf Adventures (os melhores lugares para quem busca ondas perfeitas).

?Afirmar que precisa ser bonita para fazer esse tipo de atração é babaquice.

Mesmo que a grande maioria seja bonita, é preciso mais do que isso: praticar esporte, saber dar o recado para o telespectador, ter aquele brilho no olho, personalidade, ser inteligente, rápida, esperta, espirituosa, animada…?, observa a pioneira Dora, de 26 anos. Há cinco anos, fez o Conexão Rapadura (SporTV), ao lado de Tiago Brant (apresentador da Zona) e depois firmou-se no Rolé, no ar desde 1998.

?A maior prova de que o programa dá certo é que proliferou em outras emissoras. O original é o Rolé, o resto é resto?, comenta Dora, viciada em esporte – antes do programa, já se aventurava em saltos de pára-quedas – e em música – é filha do músico Carlinhos Vergueiro e prepara-se para o terceiro CD (já gravou Leve e Pé na Estrada).

Simples mortais – De acordo com Fabiana Misse, de 29 anos, da KN Vídeo, produtora que faz o Rolé, Caminhos da Aventura e Pé no Chão (atração que mistura esporte e ecologia, no SporTV, apresentado pela bela Cynthia Howllet-Martin), o público se identifica com esse tipo de programa por dois motivos principais. O esporte de aventura é o que mais cresce no mundo (para se ter uma idéia, a última Feira de Esportes e Turismo do Brasil, a Adventure Fair, realizada em São Paulo, gerou cerca de R$ 55 milhões em negócios. Mais de 75% dos espaços do evento de 2003 já foram comercializados.) E as apresentadoras são esportistas mas, como as meninas simples mortais, também sentem medo de encarar alguns desafios, como pular de bungee jumping, esquiar, fazer tirolesa, rolar de uma bola gigante, descer dunas de areia com uma prancha…

?Esse mito de que somente um superatleta consegue praticar rappel, longas caminhadas e pegar onda está caindo por terra. O legal do programa é mostrar que basta ter um pouquinho de coragem para topar vários desafios?, opina Daniela Monteiro, de 23 anos, há um ano na Globo. Daniela, que encara os mais radicais desafios, diz que morre de medo de viajar de avião. ?Eu amarelei várias vezes no bungee jumping na Nova Zelândia. Sou muito medrosa.

Em todas as viagens, acordo com aquele friozinho na barriga?, conta Daniela, que, assim como Cicarelli, começou na TV fazendo um programa de verão.

O grande segredo dessas atrações é justamente a mistura de esportes de aventura com desafios. ?É um filão importante?, admite Luiz Fernando Lima, diretor do Jornalismo esportivo da Globo. O quadro Caminhos da Aventura mantém a média no Ibope do programa Esporte Espetacular, cerca de 11 a 14 pontos, e vai permanecer por pelo menos mais um ano no ar. ?Quem faz esporte de aventura é saudável, gosta de superar seus limites. Além disso, correr risco fascina o público, que eventualmente irá encarar os mesmos desafios.?

Além de programas e quadros sobre o assunto, o esporte de aventura vai ganhando, na Globo, os noticiários convencionais e já tem um repórter especializado no assunto, Clayton Conservani. A Eco-Challenger, a corrida de aventura mais difícil do mundo, disputada nas Ilhas Fiji, foi a matéria de encerramento do último Fantástico – Zeca Camargo mostrará hoje a continuação. A apresentadora do Bom Dia Brasil, Leilane Neubarth, já participou do Rali Paris-Dakar e, além de reportagens, escreveu um livro sobre a experiência.

Não é pouca coisa. É a constatação de que a combinação mulher bonita + esporte (nem que esporte, no caso, se aproxime mais de espírito de aventura do que do fator competição propriamente dito) vem rendendo bons frutos à indústria televisiva.”