Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Maria e sua boca grande

WALL STREET

Estudo dos professores Jeffrey Busse e Clifton Green, da Universidade Emory, indica que investidores ganharam dinheiro negociando com antecedência ações citadas no ar pela apresentadora do canal CNBC, Maria Bartiromo. Analisando o desempenho de 322 companhias durante 20 semanas de 2000, os pesquisadores conseguiram determinar que havia gente comprando ações para aproveitar a subida que a menção no programa de Maria proporcionaria.

"Sempre nos perguntamos o que causava a atividade antes das notícias serem transmitidas. Tinha de ser alguém com informações privilegiadas, mas sempre fomos de opinião que não seria da CNBC porque isso poderia prejudicar sua carreira. Sempre achamos que alguém de quem Maria pegava informações percebia que ela iria mencionar determinada companhia no ar. De todas pessoas com quem ela falava, talvez uma parte negociasse com base naquela informação", explica Busse. Com isso, ele afasta a idéia de Maria ter agido de má fé.

Os negócios tinham de ser feitos com rapidez. "Tipicamente, as ações subiriam no primeiro minuto depois que Maria as mencionasse. Assim, se você as comprasse cinco minutos antes de ela ir ao ar, você ganharia certa quantia. Se as comprasse 10 minutos antes, ganharia um adicional". A CNBC disse que seu pessoal não está envolvido em negócios impróprios e atribuiu a movimentação a uma "coincidência" com reuniões estratégicas das corretoras durante os pregões e o resultado que elas refletiam nos negócios.

Jim Cramer, comentarista econômico e ex-administrador de fundo, admitiu que conversava com freqüência com a jornalista e que pôde, em algumas ocasiões, aproveitar as informações obtidas nas conversas para fazer lucro. Mais tarde, como conta Paul Tharp [New York Post, 16/5/02], Cramer desmentiria a revelação.

FINANCIAL TIMES

Apesar de ser o sítio financeiro mais popular do mundo (entre os que têm audiência auditada), com 55 milhões de page views por mês, o FT.com ? sítio do Financial Times ? não resistiu à onda de vender conteúdo a assinantes. Chrystia Freeland, editora do sítio [19/5/02], escreveu sobre as mudanças.

"Em abril de 1999, Andy Grove, presidente da Intel, fez uma profecia devastadora a um grupo de elite de editores de jornais americanos. ?Vocês estão sob ataque?, alertou, delineando o perigo que o ramo corria frente aos concorrentes mais ágeis. Ele deu três anos para que os jornais se adaptassem ou morressem. Os três anos se passaram e foram, de fato, tempo de muita morte e adaptação ? mas não exatamente como previu Grove."

Assim ela começa o texto, usando o episódio com Grove para mostrar que o meio que precisou de mais adaptação foi a internet. O espaço virtual acabou sendo incorporado pelos jornais, que aprenderam a produzir conteúdo para o novo veículo. Hoje, dois terços dos leitores do Financial Times acessam o FT.com. e metade das pessoas que visitam o sítio também lê a versão impressa. Para Chrystia, isso demonstra que os dois meios são complementares; o online é a expressão do jornal de papel.

Nesta linha foi feita a reestruturação do FT.com. As notícias que ali estão são produzidas por uma equipe integrada ao restante da redação. O desenho da página ficou mais simples para facilitar a localização das reportagens, agora em sessões equivalentes às do jornal. Mas a principal mudança ? que reflete muito bem o "adaptar-se ou morrer" ? é mesmo a introdução da cobrança de assinatura para parte do conteúdo.