Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mau jornalismo ou má vontade?

AL-JAZIRA

Apresentador da emissora al-Jazira, Yosri Fouda recebeu convite em junho para entrevistar dois militantes da al-Qaida que diziam ter planejado os atentados terroristas nos EUA. O material só foi ao ar em 11 de setembro, embora detalhes tenham sido revelados bem antes, como a declaração de que o Capitólio era o alvo do avião que caiu na Pensilvânia. A imprensa americana, no entanto, deu pouco destaque à informação. Agora, com a notícia de que Ramzi bin al-Shibh, um dos entrevistados de Fouda, foi preso no Paquistão, a matéria tem sido exibida em todos os telejornais.

Por que a al-Jazira é tratada de forma tão cautelosa, pergunta Felicity Barringer [New York Times, 16/9/02]? O pedido da conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, para que as redes de TV limitassem o uso de vídeos da emissora do Catar certamente contribuiu para o tratamento cuidadoso. Argumenta-se também que as notícias exibidas são, muitas vezes, impossíveis de checar. Mas a rede continua a melhor fonte de material da al-Qaida. O que realmente incomoda a imprensa ocidental e limita a aceitação do jornalismo da rede, acredita a repórter, é sua reputação ambígua: além de ser o veículo escolhido pela organização terrorista para divulgar vídeos e mensagens de Osama bin Laden, Fouda só veiculou a entrevista na data de aniversário dos atentados, uma coincidência desejada pelas fontes, embora ele alegue que só aconteceu porque precisou de tempo para checar informações e receber as fitas de áudio da al-Qaida, que usou sua própria câmera.

Barrringer conta que fica claro que o jornalista correu riscos ao viajar para Karachi e se encontrar sozinho com os militantes, e esta vulnerabilidade pode tê-lo deixado pouco à vontade para fazer perguntas óbvias. Quando um dos entrevistados lhe deu um vídeo da execução de Daniel Pearl, por exemplo, Fouda não perguntou se a al-Qaida ordenou a morte do repórter.