Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mídia não aceita vigilância

Jairo Faria Mendes (*)

É muito pouco. Apenas três meios de comunicação no Brasil têm ombudsman: Folha de S.Paulo, O Povo, de Fortaleza, e a rádio O Povo FM (CE). Mas surgiram muitas experiências de ombudsman, a maioria com vida muito curta, deixando a impressão de que algo desagradou muito a alguém.

Em 1995, pelo menos oito jornais brasileiros tinham ombudsman. Além da Folha de S.Paulo e de O Povo (que mantêm a função), também criaram o cargo Folha da Tarde (SP), O Dia (RJ), Diário do Povo (Campinas-SP), Correio da Paraíba, A Notícia Capital (SC) e a revista Rumos (CE). E ainda houve a marcante experiência do ombudsman da Rádio Bandeirantes (SP). A maioria das experiências foi bruscamente interrompida. E não surgiram novas iniciativas. O cargo de ombudsman, infelizmente, não se consolidou no Brasil, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, boa parte dos jornais de grande circulação tem a função, entre eles Washington Post, The Boston Globe, Chicago Tribune, Los Angeles Times. O mesmo ocorre com os principais jornais europeus: El País e La Vanguardia (Espanha), Diário de Notícias e Público (Portugal), Le Monde (França), Il Corriere della Sera (Itália) e The Sun (Inglaterra). Sem falar do Japão, onde metade dos jornais tem cargos similares ao de ombudsman.

Quando se olha para América Latina vê-se um quadro semelhante ao brasileiro: poucas experiências duradouras. Destacam-se El Tiempo (Colômbia) e Hoy (Paraguai). Outra importante experiência de ombudsman, mas de vida curta, ocorreu na Venezuela, em El Nacional. O ombudsman venezuelano tinha como objetivo acompanhar a cobertura da campanha presidencial no país. Depois do pleito, a função foi extinta, mas deixou saldo muito positivo.

Não é difícil compreender por que no Brasil e nos demais países da América Latina o cargo de ombudsman tem tanta dificuldade para se consolidar. É só olhar a imprensa latino-americana, e suas ligações com grupos políticos e econômicos. Além disso, os países de nosso continente caminham lentamente no que se refere à consolidação dos direitos civis.

O ombudsman parece ter assustado a mídia. Tira a tranqüilidade das redações. O ex-ombudsman Caio Túlio Costa conta em seu livro O relógio de Pascal que, quando entrou de férias, o banheiro da redação ganhou a seguinte inscrição: "Podem cagar à vontade, o ombudsman está de férias."

Realmente, a função do ombudsman cria um espaço para o conflito. Um conflito produtivo, que leva ao debate e à reflexão.

Contribuem para a consolidação do ombudsman as pesquisas sobre o tema. Não são muitas, infelizmente. Mas podem ajudar no aprimoramento da função. No site O ombudsman e o leitor <www.newview.com.br/ombudsman> procuro reunir os principais trabalhos realizados sobre o tema.

(*) Jornalista, mestre em Comunicação na UFRJ com a dissertação O ombudsman e o público

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