Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mídia sob pressão

REPÚBLICA TCHECA

Nos últimos dois anos, conta Peter S. Green [The New York Times, 18/11/01], foram relatados alguns casos de intervenção política na mídia tcheca, que vão da demissão de profissionais da TV pública ao cancelamento de programas hostis ao governo. Jiri Leschtina, popular comentarista político, teve seu contrato cancelado com a Rádio Europa Livre por pressão da rádio pública tcheca, fato que o presidente do Parlamento festejou abertamente na TV. O ministro Karel Brezina, irritado com charge que relacionou sua fama de "garanhão" ? explorada há meses pelos tablóides ? ao casamento com a ex-apresentadora de um programa sobre sexo, processou a revista Reflex. Brezina ganhou indenização e um pedido público de desculpas.

No caso mais recente, o primeiro-ministro, Milos Zeman, ameaçou processar o semanário Reflekt por editorial que afirma que seu gabinete "perdeu a luta contra a corrupção". A própria União Européia divulgou relatório declarando que a República Tcheca falhou ao lidar com a corrupção. Até agora, nenhuma ação legal foi tomada.

Para o cientista político Jiri Pehe, muitos líderes do país ainda têm que adotar os princípios da democracia, 12 anos após a queda do comunismo. "Este é um regime semiliberal corrupto, e as atitudes antidemocráticas que foram ensinadas às pessoas durante o comunismo estão ressurgindo", diz. Mas Milan Smid, crítico de mídia do diário Hospodarske Noviny, acredita que os jornalistas têm sua parcela de culpa, por não tratarem os políticos como "parceiros sérios".

ARÁBIA SAUDITA

Pelo menos 10 empresas de software, a maioria americana, estão concorrendo a um contrato com o governo da Arábia Saudita para bloquear o acesso a sítios considerados impróprios. Para as companhias, a conta é importante não só por render vários milhões de dólares, mas por ser uma ótima propaganda que pode ajudar a ganhar contratos similares com outros governos.

A esmagadora maioria é de sítios pornográficos, seguidos de longe por páginas de conteúdo político ou religioso. Aos que criticam a venda de softwares que filtram o acesso, as empresas respondem que se limitam a providenciar instrumentos politicamente neutros. "Uma vez que vendemos o produto, não podemos impor o modo de usa-lo", defende um executivo da Secure Computing, empresa que atualmente fornece o filtro de conteúdo para o governo saudita, cujo contrato expira em 2003.

Jennifer Lee [The New York Times, 19/11/01] observa que, dentro do mundo islâmico, regimes fechados podem criar uma atmosfera tecnofóbica. Governos de nações muçulmanas – entre elas, o Paquistão e os Emirados Árabes ? se abriram para a internet bloqueando sítios. Mas nenhum país é usuário mais ativo deste tipo de software do que a Arábia Saudita. Por decreto real, virtualmente todo o tráfego na internet no país é canalizado por um centro de controle desde que a rede mundial foi introduzida, há três anos. A cada mês, uma média sete mil sítios é acrescentada à lista negra.