Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Médicos e jornalistas à míngua de ética

1. O ministro Sergio Motta interna-se no Hospital Albert Einstein sob cuidados do Dr. Bernardino Tranchesi Jr. Pede sigilo sobre o seu estado de saúde, sendo atendido.

2. Comunicado do seu assessor de imprensa, na quarta ou na quinta-feira, afirma que ele se encontra com problemas pulmonares.

3. Sexta feira, o Jornal Nacional (vi na Agência Estado) anuncia que três fontes do Hospital A. Einstein informaram que ele está com câncer.

4. No sábado, a equipe, agora acrescida de dois pneumologistas (professores da USP) informa que ele se encontra com alveolite.

5. No domingo, o Estadão informa que médicos que analisaram o laudo disseram que o caso é mais grave.

6. A equipe faz um novo boletim, tão especifico que só pode ser entendido por médicos, onde fica claro que o senhor Sergio Motta está com alveolite.

As questões são as seguintes:

1. Três fontes do Hospital Albert Einstein romperam com o sigilo médico ou profissional (se estende a todos os funcionários). O Hospital deveria investigar e se, identificados, profissionais e técnicos deveriam ter seus nomes levados ao Conselho respectivo, para processo disciplinar. Se pertencentes ao escalão administrativo, o Hospital deveria tomar as medidas que considerasse adequada, como, por exemplo, demissão por justa causa.

2. Médicos analisam o boletim para a imprensa. Ora, qualquer medico sabe que após examinar por mais de uma hora um paciente e discutir com outros colegas, sobram mais dúvidas do que respostas. A principal dúvida é sobre o prognóstico. Quem dá palpite em cima de boletim para imprensa é pouco sério ou foi pego desprevenido no elevador.

3. O laudo é claro (não precisava ser), um dia talvez o ministro tenha câncer, mas hoje o problema dele é outro. Ou seja, as fontes são furadas ou os três médicos são fraudadores (hipótese que afasto por principio).

Minhas conclusões:

1. Persiste um "jogo pouco limpo" entre médicos e imprensa. Maliciosamente, diria: "Me informa daí, que te promovo daqui" .

2. O número de “chutadores” continua grande. Mais vale mostrar-se bem informado, do que estar bem informado. Se isto ocorre numa situação de pouco ganho, imagino em outras situações, envolvendo dinheiro….

3. Ética é uma questão ainda estranha a setores no Brasil como são o beisebol, o Thanksgiving, o sol-da-meia-noite. Alguém já viu, sabe-se que existe, mas não existe no país.

4. De quem é a culpa: imprensa ou médicos? Ovo ou a galinha? Verifiquei na versão eletrônica que Veja não noticiou e que a Folha repetiu somente o laudo.

5. O caso Tancredo justificou a fúria jornalística porque, em primeiro lugar, a equipe médica mentiu (diverticulite e tumor benigno são coisas bem diferentes), e, em segundo lugar, o destino do país estava em jogo.

6. Sergio Motta gosta dos holofotes e microfones, mas tem o direito de tratar das suas doenças em paz.

7. Médicos não têm segurança em internar seus pacientes em hospitais como o A. Einstein.