Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Meditações de emergência

ARMAZÉM LITERÁRIO

Autores, idéias e tudo o que cabe num livro

FUTUROLOGIA

Cristiane Costa

A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação, de Wilson Dizard Jr., tradução de Antonio Queiroga e Edmond Jorge. Jorge Zahar Editor, 324 páginas R$ 38

Com um título como este, não é de se admirar que o autor de A nova mídia, o americano Wilson Dizard, tenha sido obrigado a reescrever seu livro a cada uma das três reedições publicadas nos Estados Unidos. A versão que chega ao Brasil, de 2000, é editada aqui no mesmo ano que a americana. Isso significa dizer que Dizard – associado senior do programa de políticas de comunicações do Center for Strategic and International Sudies em Washington, professor de Comunicação da Gergetown University durante 20 anos e ex-repórter do New York Times – está antenado não só com a rápida evolução tecnológica, mas com as grandes questões do momento.

Qual o futuro do jornal? Os sites de conteúdo que agora proliferam na internet vão sobreviver? O computador pessoal veio para democratizar o conhecimento ou aumentar o fosso entre ricos e pobres? Segundo Dizard, a evolução tecnológica não dá mostras de desaceleração. Enquanto a Microsoft aposta suas fichas na criação de um computador de bolso, do tamanho de uma carteira, neurocientistas como Itiel Dror, do Laboratório de Neurociência Cognitiva da Universidade de Miami, projetam implantar microchips no cérebro humano para aumentar sua capacidade de processamento ou memória, "exatamente como você pode acrescentar RAM ou atualizar sua CPU em um computador pessoal". Será o fim dos tempos ou só o começo?

No entanto, o melhor de A nova mídia não está em seus abalizados exercícios de futurologia, e sim no que tem a dizer sobre um momento de transição – em que não faltam convergências e conflitos – entre a nova mídia e a tradicional. "Há 50 anos, os jornais eram a principal fonte de notícias, opinião e entretenimento leve para a maioria dos americanos. Mais importante, eram a instituição preemente para estabelecer o debate político e social da nação", diz o autor. Essa importância podia ser medida em números: nos Estados Unidos, a penetração dos jornais, em 1945, era de 135%, o que significa que mais jornais eram vendidos todos os dias do que o número de lares existentes. Mas, em 1989, esse percentual baixou para 67%. "Muitos americanos começaram a perder o hábito de ler jornais", comenta Dizard. Segundo ele, o que é mais preocupante é que essa tendência se processa especialmente na faixa de jovens adultos, "a mais crítica para o futuro do jornalismo".

Justamente entre os jovens com menos de 30 anos está o principal público da internet. Dizard faz um histórico do jornalismo eletrônico e das tentativas dos grandes jornais de fornecer informação atualizada via digital. A grande maioria delas, adverte, resultou em fracasso financeiro. E, mesmo nos Estados Unidos, poucos órgãos de imprensa podem se vangloriar, como o Wall Street Journal, de ter lucro em suas operações online.

Mas o livro não fala só de imprensa – também toca nos dilemas da televisão, do cinema, do mercado editorial e do musical. Ele funciona tanto como um manual sobre redes computadores multimídia, telecomputadores e outras máquinas de informação de última geração, explicando o que são, o que fazem e como influenciam a mídia tradicional, como um estudo político, econômico e culturalmente crítico sobre o impacto das novas mídias. Vale dizer que as últimas páginas guardam um precioso glossário para o leitor tirar suas dúvidas sobre siglas e novas tecnologias, como DVI, DRAM, DNS, multiplexação e compunications.

"As mudanças em curso na mídia têm especial importância para os jovens com pretensões a fazer carreira nesse campo", reconhece Dizard, lembrando que, quando começou a trabalhar como repórter da agência de notícias do New York Times, as únicas tecnologias disponíveis eram blocos de papel, canetas, um telefone e uma velha máquina de escrever "que se recusava a bater a letra p". Para quem já nasceu plugado no computador, como a nova geração de repórteres, isso parece ter acontecido na pré-história do jornalismo. Mas, para quem viveu aqueles tempos, parece que foi ontem.

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Uma história crítica do fotojornalismo ocidental, de Jorge Pedro Souza. Editora Grifos/Letras Contemporâneas, 255 páginas R$ 25 – Tel: (49) 321-8218

Professor de Jornalismo na Universidade do Porto, em Portugal, e João Pessoa, no Brasil, o autor dá uma visão histórica do fotojornalismo desde seus primórdios, quando se propunha a ser um registro visual da verdade, até os impasses causados pela fotografia digital. A história da evolução do aparato técnico segue paralelamente à de gerações míticas e fotógrafos célebres, como a de Cartier-Bresson, Capa, Brassaï e Doisneau.

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Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia e exclusão social, de Marcos Bagno. Edições Loyola, 327 páginas, R$ 25

Poucas gramáticos se propõem a analisar a língua a partir de exemplos tirados da mídia escrita e falada. Mas, partidário da idéia de que a idéia de superioridade lingüística é tão perversa quanto a de superioridade de raça, de cor, de cultura, de sexo ou de religião, Marcos Bagno usa trechos de reportagens para mostrar que é preciso renovar a gramática para que não se ensine nas escolas uma língua que não se fala, fortalecendo os laços de
exclusão social da maioria da população.

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