UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL
A Folha de S.Paulo tem todo o direito de vestir-se de luto e, todas as manhãs, avisar aos seus leitores que o país está à beira do precipício. É a sua maneira de atender ao slogan do cabeçalho, "Um jornal a serviço do Brasil" ? aliás, cada vez mais espremido. Trata-se de uma opção psicoeditorial que não se discute, no máximo se acha graça. Mas quando a melancolia extravasa e converte-se em manipulação de informações, a coisa é mais grave e beira à neurose.
No dia 5 de fevereiro a Simonsen Associados divulgou um estudo sobre os investimentos no Brasil com base nas intenções anunciadas ao longo de 2001: 156 bilhões de dólares. O valor foi inferior aos números anunciados em 2000: 256 bilhões de dólares.
A própria fonte ressaltou que os investimentos anunciados situam-se "num patamar três vezes superior aos investimentos efetivamente realizados no período 1989-1994, em que média ficou em 44 bilhões de dólares". A queda, segundo os autores, não chega a ser tão expressiva considerando-se os efeitos da crise argentina, dos atentados terroristas nos EUA e do racionamento de energia. Os dados mostram igualmente que houve uma melhoria na distribuição regional desses investimentos.
Manchete catastrófica de primeira página na Folha, dia seguinte ? "Investimentos privados caem 26%".
Título principal da pág. 3 de Valor (do grupo Folha): "Intenção de investir cai 40% e fica em US$ 156 bilhões". O lead da matéria faz a análise apropriada sobre os fatores conjunturais que levaram à diminuição na intenção de investir.
A Folha errou três vezes:
1. os números referem-se à intenção de investir e não a investimentos já realizados como o jornal tenta iludir o leitor.
2. Se houve queda, não foi de 26% mas de 40%.
3. Desconsiderar a conjuntura, brincando com cifras e índices aleatórios é praticar uma numerologia fragmentária que não tem sentido algum para o leitor que precisa entender o que se passa para tomar as suas decisões.
O luto da Folha era de mentirinha, apenas ensaiava para sair no Carnaval no bloco das viúvas alegres.