Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Metralhadora e outros tiros

Victor Gentilli

No dia 5 de agosto de 1997, disparei uns tirinhos num texto intitulado "Metralhadora giratória" [ver remissão abaixo]. Nestes últimos três anos, o debate sobre ensino de Jornalismo alcançou patamares jamais vistos. Não foi meu texto, que, aliás, produziu uma única carta. O que atiçou o debate foram o provão, as diretrizes curriculares (ainda não aprovadas), a Comissão de Especialistas em Jornalismo, a Avaliação das Condições de Oferta e tantas outras novidades e surpresas.

A matéria da Folha de S. Paulo de 29/9/00, com chamada na primeira página [ver Aspas, nesta rubrica] estimulou-me a produzir uma nova versão da "metralhadora".

Os cursos são frouxos

Eis uma evidência clara, mas que muitos se recusam a admitir. Ora, somos os campeões da "generosidade". Três em cada quatro graduandos em Jornalismo acham que o curso ensinou pouco, frustrou, esteve aquém de suas expectativas. Deixar de refletir sobre isso é recusar a evidência, o óbvio.

Os alunos são porretas

Os estudantes de Jornalismo talvez componham uma porção das mais esclarecidas no conjunto da juventude brasileira. Participam, brigam, lutam, querem mais. Nem sempre vão pelo que eu entendo o melhor caminho. Tanto melhor. Vão no que eles entendem o melhor caminho. Basta a observação empírica para adivinhar que o boicote ao provão a cada ano fica menor no seu conjunto. E maior entre os estudantes de Jornalismo.

Os alunos têm argumentos

O professor Tancredo Maia Filho, um dos diretores do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC), talvez já tenha perdido a conta do número de debates de que participou com alunos de Jornalismo. Os alunos organizam um evento e chamam Tancredo. Ele vai. Convence muitos, mas jamais obtém a adesão das lideranças. Nem as lideranças estudantis nem os dirigentes do MEC pretendem abandonar os debates. Cada vez mais, afiam seus argumentos. Todos saem ganhando.

Todos querem mais participação

Coordenadores de curso e professores também têm muito a dizer. Verdade seja dita: eis o segmento desabastecido de algum fórum que permita dar voz e expressão a suas opiniões. Este Observatório sempre esteve aberto. Os debates dos estudantes jamais tiveram portas fechadas. Mas os professores anseiam por conversar entre si. O extraordinário sucesso do Seminário de Campinas, em abril do ano passado, é esclarecedor. O desapontamento e a frustração com as limitações do Seminário do Provão, este ano, confirmam o diagnóstico.

Quem não têm argumentos são os empresários

Transcrevo trecho da matéria da Folha: "Gomes [dirigente da ANUP – Associação Nacional das Universidades Privadas] credita a insatisfação dos formandos de Jornalismo às críticas que o ministério fez aos cursos da área. "Em jornalismo, por exemplo, acho que essa péssima avaliação é reflexo de matérias que saíram nos jornais no ano passado mostrando que, segundo o MEC, as condições de oferta eram ruins em boa parte dos cursos".

Nada mais equivocado. Se as condições de oferta são ruins e os alunos confirmam que os cursos são insuficientes, as matérias dos jornais apenas expuseram uma realidade. Negar essa realidade ou é ignorância ou má fé. Evidente que há exceções, mas não acredito que os empresários sejam ignorantes.

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