Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ministros, plantações e armações

Mauro Malin

 

A

recente troca de ministros, determinada pelo calendário eleitoral, foi campo aberto para plantações e armações. Repórteres e editores deixaram-se arrastar docemente pela hipóstase brasiliense. O noticiário raramente conseguiu elevar-se acima do plano (rasteiro) em que se situam interesses particularistas. Como faz falta uma oposição capaz de debater as grandes linhas da política. Como fazem falta editorias de política que ambicionem ser mais do que correias de transmissão de intrigalhadas palacianas.

Três veteranos, de três gerações diferentes – Villas-Bôas Corrêa, Marcio Moreira Alves e Roberto Pompeu de Toledo, por ordem de antigüidade -, dissecaram o assunto com precisão cirúrgica (ver remissão para Entre aspas, abaixo).

O troféu Paroxismo do Desatino coube ao Globo, que em sua edição de 27/3/98, página 3 (por sinal, sem data no primeiro clichê), estampou garbosamente, em corpo 64, o seguinte título: “PMDB recua e adia indicação de Jáder”. Subtítulo: “Partido pretende se reunir com Fernando Henrique para conhecer os critérios de escolha”. Só não se diz de quê. Mas os leitores tinham obrigação de acompanhar as patrióticas démarches dos líderes partidários.

 


Victor Gentilli

 

A

solução torna-se um problema. Essa a principal impressão da leitura dos jornais logo após a indicação do senador José Serra para ministro da Saúde.

A nomeação causou grande desconforto político nos partidos aliados. O raciocínio geral era: Serra será um superministro, terá recursos, resolverá os problemas mais graves da pasta e deverá permanecer ministro no próximo mandato. Sua gestão o fortalecerá a ponto de credenciá-lo como postulante a sucessor de Fernando Henrique em 2002.

Como o PFL já anunciara o nome de Luís Eduardo Magalhães, com a posse de Serra estava formalmente iniciada a movimentação política para a próxima sucessão.

É assim que raciocinavam os políticos. Os jornalistas poderiam procurar outras angulações.

Durante quase uma semana em que o noticiário da epidemia da dengue competia com a crise da base aliada na reforma ministerial, os dois noticiários praticamente não se referiam um ao outro. Era como se a crise da reforma ministerial não tivesse relação com os problemas de saúde pública do Brasil ao qual cabe ao novo ministro conduzir sua solução.

O jornalismo de saúde no Brasil, pelo que se viu nessas semanas, está muito aquém do jornalismo político.

 

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